NÃO TE ESQUECERÁS DE MIM?

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NÃO TE ESQUECERÁS DE MIM?

NÃO TE ESQUECERÁS DE MIM?

Porque te comparo a um dia de verão,

és mais bela sob a luz brilhante faiscando a areia.

O tempo do verão é bem pequeno,

noites quentes para o amor,

que nunca deveria obscurecer.

Sei que o que é belo num dia declina numa só noite,

na eterna mutação da natureza.

Mas em ti o verão e os dias serão eternos.

Tua beleza jamais se perderá numa noite.

Nem chegarás ao fim do verão

à noite fria e triste do inverno.

Enquanto nesta terra houver um ser vivo,

meus versos hão de te fazer viver

lembrando nossos dias quentes

e luminosos de amor.

BASTA SONHAR COM VOCÊ…

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BASTA SONHAR COM VOCÊ…


Sonhando com você, nossa vida na última curva,
Sei que posso ir ao fundo de qualquer profundidade.
Abismos podem ser atravessados na ponte dos desejos.
Por você posso inventar caminhos e pontes, qualquer mundo,
Basta sonhar com você.
Ao sabor dos sonhos, posso encher um mar inteiro,
Olhar as fontes, donde correm as águas que escorrem pelas serras.
Posso amar, abraçar e afagar seu corpo,
Dos seus beijos hálitos doces emanam.
Posso morar nas nuvens, num lugar pertinho do céu,
Basta sonhar com você.
E no aconchego da pele na pele, carne com carne,
Entender que, como mulher, você foi feita pra mim,
Do jeito que foi inventado o prazer.
Você é pra mim como um dia de sol,
Com sua luz sou capaz de construir usinas,
Usando a energia que vem de você.
A força da alegria sai das turbinas que me trazem a você.
E criam a pulsão da existência que me impulsiona dia e noite sem parar.
Dobrando as curvas da vida, mesmo quando já estiver de partida,
Verei você, e sei o meu caminho, que não foi um caminho sozinho.
Porque você me recebeu no seu caminho, anda comigo nos meus sonhos.
Abismos podem ser atravessados na ponte dos desejos.
Por você posso inventar caminhos e pontes, qualquer mundo
Basta sonhar com você.

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VOCÊ…

Publicado em  por derval dasilio

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VOCÊ “Você é assim, olha no espelho e se reconhece como quem sempre quis ser. Não se arrepende nem se envergonha de ter optado por sua liberdade e autonomia. Para tanto, lutando sozinha por sua independência. Não aceitando as imposições do fundamentalismo religioso, sob juízo de familiares e pessoas próximas. Sustentando seu direito de viver em solidão, na qual se isolava das pressões ao redor, garantindo sua escolha por viver sob valores diferentes dos que recebera na igreja e no círculo familiar.
: Não recusou experiências religiosas, espiritualidades diferentes sem medo — ao contrário –, interessando-se também pela espiritualidade oriental. Reprovada pela família por encerrar um casamento destrutivo, que lhe consumia, assumiu o divórcio necessário, mas reprovado pela família e pela igreja. Os quais procuravam obrigar você a cumprir obrigações supostamente bíblicas, quando uma mulher deveria viver submissa à servidão matrimonial sem rebelar-se. Em nome da religião, e não de Deus e do amor.
: Por fim, fez tudo para preservar sua integridade de mulher em busca da liberdade. Libertação a alto custo emocional, alcançada com segregação e crítica dentro da própria família. Você venceu, olha no espelho e vê a mulher que buscava e encontrou a si mesma. Sobreviveu lutando até os dias de hoje. Sem arrependimentos, segura a respeito das escolhas que fez, em todos os momentos nos quais lutava contra a opressão que lhe impunham. Você é a mulher que eu amo, e com a qual quero viver o resto dos meus dias.

E OS VELHOS SONHARÃO UM MUNDO NOVO

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Tem gente que não gosta do que eu escrevo… Nenhum problema, tudo certo. Eu também não gosto dos seus escritos. Simone Beauvoir escreveu um livro sobre a velhice. Contaram-me que há uma coisa que não se perdoa nos velhos. Os jovens querem que eles possam amar como eles, um pouco aqui um pouco ali… Mas, aos velhos como eu, é reservado um jeito de amar. Amar a companheira, os filhos, os netos e netas. Amar a paciência, à espera que as crianças cresçam e escolham os seus caminhos, embora não estejamos mais por aqui, quando isso acontecer. Amar os passeios longos nos lugares cercados por colinas verdes, córregos borbulhantes descendo entre pedras no meio do bosque, o cheiro do capim gordura e das dracenas no fim da tarde, o sorriso do meu vizinho que me cumprimenta todos os dias, cordial, solidário com a minha velhice, enquanto é tempo.

Os velhos, pensam os jovens, já cumpriram a sua jornada de amor, não precisam mais ter garra, devem conformar-se com o esgotamento das noites de amor. Enganam-se, porque é exatamente no crepúsculo que as árvores que julgavam secas começam a soltar novos brotos. O amor fica mais intenso, o gozo mais demorado, embora nunca saciado. Depois do outono, meus caros!, vem a primavera. Na velhice, as floradas na serra são maravilhosas, lembrava Dinah de Queiroz. Os campos se cobrem de flores, os primeiro balbucio de primavera se ouvem depois do outono. Floradas, botões, pequenos sinais na natureza, anunciam um tempo novo, para os velhos. “No meio dos bosques escondidos entre os montes, o amarelo e o vermelho salpicavam, abriam no verde sorridente espanto”, acrescentava Dinah. Termino com Rubem Alves: “O amor tem esse poder mágico de fazer o tempo girar ao contrário”. O que envelhece não é o tempo, é a rotina dos acontecimentos nos dias de ódio e raiva canina que se dirigem aos que clamam pela defesa da vida, dos direitos à vida.

O que envelhece, é a incapacidade de se comover com o sofrimento, o luto de milhares de desprezados pelos poderes públicos. O enfado que nos toma a capacidade de protestar e lutar contra a opressão imposta, convidando à indiferença. Isso envelhece. Mas isto não é o que foi dito pelo profeta Joel, na Bíblia: “E nos últimos dias acontecerá, que o Espírito de Deus derramará a vida sobre toda a carne, todos os corpos. E os jovens terão visões, e os velhos sonharão sonhos de um mundo novo possível… E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Paráfrase: Atos dos Apóstolos, 2,16-21).

VOAR COMO UM PASSARINHO

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VOAR COMO UM PASSARINHO


Acordei nostálgico nesta manhã. Num arbusto, junto à janela da nossa casa, no quarto de minha mulher, Anny, um passarinho fez um ninho, e ali estão dois filhotinhos aquecidos pelo corpo da mãe. Vemos a mãe voar entre as flores do nosso jardim, colhendo o alimento para os recém-nascidos. Choveu na madrugada fria, sei que ela cobriu os filhotes com seu corpo, para aquecê-los. O ânimo voltou. Recordo os hinos que minha mãe cantava desde a minha mais tenra infância. Olha que já vai tempo! “Passarinhos, belas flores, querem me encantar”. São esplendores comuns, mas é dali que contemplo o meu saudoso lar. Estou um pouco cansado, perturbado com a repetição de acontecimentos nefastos que perturbam a alma de qualquer um que observe os desmandos, pregação do ódio ideológico, violência contra os mais fracos e desprotegidos, destruição das esperanças do povo. Dias de trevas, dias de aflição que parecem nunca terminar. Tenho saudade dos passarinhos, de Luiz Vieira cantando: “Sou menino passarinho, com vontade de voar”, das flores, dos esplendores da natureza verde, e dos meus verdes anos.
Contemplo o meu primeiro lar no alto das montanhas onde nasci e cresci numa casa de imigrantes italianos. Clima frio no nas montanhas capixabas. Descubro que por toda a vida tenho sido um montanhês. Qual passarinho saudoso do ninho, quero ir para os altos montes, voltar do exílio que a vida me impôs. Meu coração está com pressa. Como um passarinho, quero já voar para o meu refúgio. Caminhar ouvindo meus próprios passos soando antes de chegar o escuro véu da noite. Desprezei o relógio que sempre carregava comigo, que me alertava o tempo todo para o tempo que não deveria ser perdido com coisas mais simples. Tornei-me desobediente, as coisas simples apontam para a humildade que se deve ter diante da grandiosidade que nos cerca. Para observar o tempo, basta-me o sol que desponta depois da madrugada enevoada no lugar onde moro agora, começando a cada dia. “Tempus fugit”, sei que o tempo foge, mas nossas histórias não estão registradas num simples relógio. Porém, sei que o relógio não desiste, o tempo vai sumindo no horizonte, como a fumaça do cigarro que não fumo já há muitos anos. Então, o sol vai desaparecer logo, depois da tarde, e mergulhar nas sombras da noite. Preciso me apressar, talvez correr, para não perder de vista a beleza única do pássaro que pousa na janela do quarto de Anny, no amanhecer, depois de cuidar dos filhotes recém-nascidos. Maravilhosa companhia para começar o dia.

ANTES QUE O DIA AMANHEÇA

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eros femeas (5)

Em nossa conversa você se disse preocupada…Preocupada com a sua sanidade? Como pode alguém que se cura preocupar-se por libertar-se de um mal de nascença? Não é possível. Não mesmo… Quando a liberdade acontece há exultação, alegria. Seu gozo, amor, vem das profundezas. Lá, onde o prazer era reprimido, escondido, preso em algemas e correntes invisíveis. Agora vc soltou seu corpo, goza… goza… goza… em orgasmos repetidos. Desencadeados. Vc disse que não conhecia esse prazer… mas era feliz. Agora chega lá enquanto quebra o tabu de não tocar onde seu corpo vibra mais…
Não tema! Livre vc deve sentir-se mais feliz. Dentro de vc mora a felicidade. E a felicidade é um orgasmo na alma… Gostou? Vc não está vivendo isso tudo eroticamente sozinha. Fazemos juntos, um precisa do outro para ser feliz. Pense, não é só o meu prazer que procuro — e encontro, e como!, vibro com seu gozo… subo às alturas –, vc me faz feliz com seu gozo. Em vc morava uma mulher, mais que reprimida. Vc foi oprimida por muito tempo… Diria Vinícius, parafraseio: “nasce uma mulher, como no deserto uma flor”. A mulher que nasceu num cenário dominado por homens, cenário patriarcal, talvez nem se dê conta das repercussões que descolam do seu interior profundo. Desgrudam de sua alma. Coisas que estavam lá, impedindo o prazer de se tocar, dominar seu corpo, e gozar o que o corpo oferece.

Vc não deve ter medo de ser livre. Vc provavelmente ouviu falar alguma vez de Rose Marie Muraro, e de Lacan, o mais citado discípulo e intérprete de Freud. Citando o pensador da psicanálise, ela diz: “Não existe uma mulher inteiramente livre, se não lhe permitem libertar-se“. Seria um erro pensar que, no fim das contas, é só homem  que possui a mulher. É o contrário. O homem é que precisa dela em primeiro lugar. Não é dominação. Mas ele nega que é possuído por ela, e, ao mesmo tempo produz os meios para subjugá-la. E, assim, controlar o seu gozo. Inutilmente, porque sua liberdade interior é mais forte… O gozo do corpo não pode ser retirado da mulher, mas o homem produz os meios culturais para impedir que ela expresse seu gozo. Começando pela religião, estendendo-se nos ambientes sociais e profissionais. Há repressão nesses ambientes. Lhe digo eu, agora: vc pode não ter tido essa percepção, antes… Porém, as mulheres que têm essa percepção guardam essas coisas como um segredo numa caixinha (não foi isso que sua analista disse?). A caixinha está se abrindo, e o que está guardado dentro de vc vem à tona em algum momento. E arrebenta as represas, rompe as barreiras…

Meu amor, muitos foram os que impediram vc de se abrir, desde os personagens da religião opressora. Sem esquecer sua convivência nos ambientes sociais e profissionais, reguladores e, principalmente, constrangedores. Combinados tacitamente para lhe manter prisioneira dos tabus referentes ao desejo. Também com a participação de mulheres submissas, das famílias, ou do meio social. Todos a serviço do suposto direito do macho possessivo. Vc teve a sorte de encontrar alguém, com o qual viveu pelo tempo de uma geração inteira. Ele amou vc, e lhe ajudou a encontrar outros caminhos para sua libertação. Se ele não conseguiu libertar seu sexo para o prazer, deu-lhe os meios para começar sua libertação. 
Agora, querida, nos encontramos, e enfrentamos juntos o peso dos sistemas simbólicos de dominação, dos quais somos vítimas involuntárias. Vc começa por libertar seu corpo… Você goza a liberdade do seu corpo, enquanto vai para além das sensações de satisfazer-se e satisfazer-me… Quanto ao sexo dos homem que possuíram seu corpo, o amor deveria ter ido além do entrelaçamento dos corpos. Seu gozo pode ir além, o prazer do sexo apenas reflete o que sua mente vai alcançando. Prazer com liberdade. É a sua libertação total que está em jogo, daqui por diante. Ninguém tem acesso a essa mulher que nasce em vc… a não ser sua vontade de abrir-se para alguém em quem confia. Há quem diga que os poetas e os místicos são capazes de conceber a essência da mulher. O corpo integral é a alma, o espírito, o físico, a psiquê, as utopias e distropias… Os poetas, “como os cegos, podem ver na escuridão”… E há escuridão maior do aquela onde encerraram o seu ser-mulher? Acho que você encontrou a luz para libertar aquela mulher… E nós vamos sair juntos por aí, guiados por essa luz… []
Lembre-me, quando quiser, de lhe contar a “história do casulo e a borboleta…” Depois nos falamos. Beijos bem carinhosos… Ah, a noite de ontem foi extremamente real para mim… Vc é uma delícia de mulher, especialmente quando descreve seu gozo. Vc é excitante… me derruba… me extasia… me eleva às alturas.
——
ANTES QUE O DIA AMANHEÇA
Ouve, meu amor. Que silêncio!…
Até os pássaros da noite se calaram
para ouvir os nossos gemidos, nossos ais e suspiros,
quando nos amamos.
Fecha os olhos. A noite não acabou.
Estamos tristes, depois da nossa noite de paixão.
Por fim, ouviremos uma melodia de Eric Satie,
depois da ternura, das carícias e dos gozos repetidos.
Ouviremos o piano como o autor sugeriu,
“dolorosamente” (douloureux),
“tristemente” (mélancoliquement),
ou “solenemente” (gravement), como deve ser o amor.
Os amantes precisam amar com intensidade,
embora entrecortados pela melancolia,
porque terão que separar-se depois da noite de paixão.
Reina um solene silêncio,
convite para contemplar o céu infinito na hora do adeus.
Porém, não há paz, se somos obrigados a dizer adeus.
Nosso amor é tão triste!
Mas, vem comigo, meu amor!
Vem olhar a madrugada, antes do sol nascer.
Uma luz suave nos guiará na noite que termina.
Não estaremos sozinhos,
caminhando no sereno da madrugada.
As estrelas e a lua no quarto minguante
iluminarão os nossos passos…
os nossos caminhos.
E nos abraçaremos para os últimos beijos,
os derradeiros carinhos,
e lembraremos juntos o poeta Vinícius:
“Vem raiando a madrugada, há música no ar”.
A noite termina, e o dia está nascendo.
Meu amor, vem comigo…
Paz do Meu Amor
Você é isso: Uma beleza imensa,
Toda recompensa de um amor sem fim.
Você é isso: Uma nuvem calma
No céu de minh’alma; é ternura em mim.
Você é isso: Estrela matutina,
Luz que descortina um mundo encantador.
Você é isso: É parto de ternura,
Lágrima que é pura, paz do meu amor.
(Luiz Vieira)
Quando estou nos braços teus
Sinto o mundo bocejar

Menino Passsarinho
Quando estas nos braços meus
sinto a vida descansar
no calor dos seus carinhos
Sou um Menino Passarinho
Com vontade de voar
(Luiz Vieira)

fim de agosto (2)[-]

VOCÊ…

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VOCÊ…

: “Você é assim, olha no espelho e se reconhece como quem sempre quis ser. Não se arrepende nem se envergonha de ter optado por sua liberdade e autonomia. Para tanto, lutando sozinha por sua independência. Não aceitando as imposições do fundamentalismo religioso, sob juízo de familiares e pessoas próximas. Sustentando seu direito de viver em solidão, na qual se isolava das pressões ao redor, garantindo sua escolha por viver sob valores diferentes dos que recebera na igreja e no círculo familiar.
: Não recusou experiências religiosas, espiritualidades diferentes sem medo — ao contrário –, interessando-se também pela espiritualidade oriental. Reprovada pela família por encerrar um casamento destrutivo, que lhe consumia, assumiu o divórcio necessário, mas reprovado pela família e pela igreja. Os quais procuravam obrigar você a cumprir obrigações supostamente bíblicas, quando uma mulher deveria viver submissa à servidão matrimonial sem rebelar-se. Em nome da religião, e não de Deus e do amor.
: Por fim, fez tudo para preservar sua integridade de mulher em busca da liberdade. Libertação a alto custo emocional, alcançada com segregação e crítica dentro da própria família. Você venceu, olha no espelho e vê a mulher que buscava e encontrou a si mesma. Sobreviveu lutando até os dias de hoje. Sem arrependimentos, segura a respeito das escolhas que fez, em todos os momentos nos quais lutava contra a opressão que lhe impunham. Você é a mulher que eu amo, e com a qual quero viver o resto dos meus dias.

SAUDADE DE UM MUNDO SEM MALES

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SAUDADE DE UM MUNDO SEM MALES

Saudade de um mundo sem demônios fascistas, babando ódio em tudo que dizem e fazem. Um mundo sem negacionistas, instruidores de atitudes odiosas e receitas que matam, antes que salvadoras; antes das vacinas que controlam as pandemias. Saudade da fé rebelde, insurgente, diante do protestantismo que não protesta mais, tornando-se “evangélico”, conservador, fascista, positivista, racionalista, doutrinário. Temos nostalgia do vento libertador do Espírito. Uma vontade indomável, um desejo fervoroso de que Deus sopre de novo, como um vendaval, revolvendo as superstições, o mito político do autoritarismo avassalador que tomou as massas. Mito doente, neurótico, obsceno, mentiroso, genocida, que serve identitariamente ao poder ideológico fascista, tomado como escudo religioso de gente enferma pelo ódio e raiva do semelhante. Temos saudade do reinado de Deus, da paz, da justiça e equidade, que abandonamos. É assim, amamos, mas não encontramos sozinhos aquilo que desejamos. Precisamos de comunhão para seguir um caminho que nos afaste do ódio, da raiva, do preconceito… porque esquecemos de como se constroem jardins, casas acolhedoras, brinquedos divertidos que estimulem a criatividade nas crianças, que deveriam sonhar com mundos novos. Sonhar com lagoas e lagos, onde vitórias-régias tecem sobre a água tapetes forrados de verde e flores brancas expostas ao sol.

Voltar aos templos silenciosos, onde se pode orar sem sons agressivos e música de falsa devoção, sem guitarras elétricas e estridentes, e tambores ruidosos que abafam o canto dos devotos que querem orar. Contemplar esculturas de personalidades memoráveis, quadros que contam histórias de amor e paixão. Precisamos voltar aos cemitérios com flores nas lápides, sem máscara contra a peste, lugar que volte a simbolizar o descanso dos justos, dos queridos, ao invés de monumentos do genocídio. Não sabemos mais, portanto precisamos reaprender, re-significar o uso das palavras que devem brotar do coração. Doces, suaves, geradoras de ternura e energia para a convivência feliz. Palavras que tenham sabor de frutos maduros, tempero de coisas boas que sonhamos para nossos queridos, amigos, filhos, netos. Que contenham uma infinita paixão pela cordialidade, solidariedade, amor, ternura pelo semelhante oprimido. Uma vontade de compartilhar tudo que há de bom.

Precisamos recuperar, ou fazer de novo aquilo que não esta colocado em nenhuma doutrina, sem imagens catequistas, nem é pregado em púlpito algum. É necessário refazer a fé, sem ideologias religiosas, e retornar às companhias veneráveis, às memórias, perfumes, cantigas; à solidão das florestas, retiros, cabanas nas montanhas. Fontes de águas cantantes, vida serena no alto da serra, caminhos nas colinas, trilhas no meio da mata. Andar pela praia, caminhar na areia, meditar para entendermos sobre os sonhos que nos trouxeram até aqui. E admirar rostos sóbrios, ter saudade, venerar os mortos queridos, considerar e respeitar os que buscam justiça num mundo sem compaixão, falando sobre equidade no direito e no uso dos bens da terra. Ter certeza da lealdade dos que nos acompanham na caminhada pela liberdade. Acompanhar a fé dos que representam a presença da justiça, da equidade, da paz, da compaixão e da misericórdia. Temos saudade do mundo sem males, sim… Temos saudade do futuro proposto nas grandes utopias, em todos os tempos. Aquela saudade que vem nos últimos raios do sol da tarde, no crepúsculo, na brisa suave do entardecer perfumado de flores da noite, dracenas que se abrem para inundar a noite que vem chegando.

O QUE SEI DO MEU CORPO

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O QUE SEI DO MEU CORPO

Penso que vou compor um poema, ou uma sinfonia. / Ouço Mahler e me inspiro./ Um pouco mais surgirão revelações e imagens, / possibilidades que se escondem no íntimo, adormecidas no meu corpo. / É preciso acordar o espírito, / e fazê-lo expor versos e trovas que devem compor o buquê de flores multicoloridas / antes ocultas em botões que ainda aguardavam desabrochar.

Nosso Corpo Nossa Alma

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Nosso corpo, nossa alma, nosso espírito, são ameaçados a todo momento, porque nos deparamos com o que desumaniza, e destrói os mesmos. Adoecidos, neuróticos, nos esquecemos daquilo que nos pertence e está dentro de nós. O mundo profundo do eu, aquela dimensão profunda da espiritualidade, que nos permite ver e sentir o Todo; que nos concede perceber que somos parte de uma Grandeza imensa por trás de todas as coisas. A presença de Deus alimenta o amor, a compaixão, a equidade, a solidariedade. Empatia que nos faz sentir a verdade do que já foi dito biblicamente: “Deus está em tudo e em todos”. Sentimos essa Presença, Deus, que nos impele a alcançar o amor sob uma determinação imperiosa. Equidade, compaixão, cuidado, ternura, tolerância na convivência com o outro, ou a outra, traduzem essa Presença. Deus nos faz sentir a humanidade que está nos outros. Juntos, compreendemos que fomos corrompidos, pervertidos, nos tornamos odientos e odiosos, desviados da obra de Deus. Podemos mudar…
Podemos retornar ao convívio com a humanidade resgatada pelo amor de Deus, para que possamos nos dizer como parte da obra original daquele que nos criou. No eu profundo, no abscôndito da alma, está o sentido da vida, a qual abandonamos para dar vazão às torrentes de ódio ideológico, ódio criminoso, ódio pelo semelhante, corrompendo a vida plena.
O sentido da vida na força do Espírito nos coloca diante das grandezas do amor de Deus pela Justiça, pela Equidade, pela Paz entre os homens. Diante disso, adjetivamos esse amor, compartilhado com o Espírito de Deus, que é feito de ternura, de respeito, de dignidade humana. Como criaturas desse Amor, podemos ultrapassar os limites marcados pelo ódio, gerando mundos novos de compaixão, engravidando o futuro com utopias, sonhos de liberdade convivendo sob o domínios dos direitos fundamentais da vida. Nossos corpos se recusarão a compactuar com os que forjam necessidades de poder, de supremacia, enquanto negam equidade para os demais, no gozo e compartilhamento dos bens da terra.

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O QUE SEI DO MEU CORPO

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O QUE SEI DO MEU CORPO

Penso que vou compor um poema, ou uma sinfonia. Ouço Mahler e me inspiro. Um pouco mais surgirão revelações e imagens, possibilidades que se escondem no íntimo, adormecidas no meu corpo. É preciso acordar o espírito, e fazê-lo expor versos e trovas que devem compor o buquê de flores multicoloridas antes ocultas em botões que ainda aguardavam desabrochar.É por isso que sei do meu corpo, que ele é o centro do universo inteiro. Nada pode ser mais universal que um corpo. Ele pode caminhar num jardim, ouvir crianças no parque, abaixando-se e elevando-se nas gangorras, nos balanços. Ouvir o alarido dos pássaros, o trinado dos beija-flores que só se ouvem no silêncio. O ronronar do gato preguiçoso roçando nas almofadas, a luz que chega de repente na inspiração de uma antiga canção de ninar.

Assim se constrói um tapete de sons representados em fusas, semifusas, colcheias, semicolcheias, compassos, variando, alternando, convertendo, ordenando, simplificando ou tornando complexo um tema brotado do nada, no espírito que habita nosscorpo. Sons representados em fusas, semifusas, colcheias, semicolcheias, compassos, variando, alternando, convertendo, ordenando, simplificando ou tornando complexo um tema brotado do nada, no espírito que habita nosso corpo.O corpo não só é o centro, mas é também capaz de atrair e acolher outros corpos, do mesmo modo que um ponto de fuga se expande e se converte numa imagem, aos olhos do pintor, estendendo-se no tempo e no espaço em busca de corpos nunca vistos. Sejam quais forem as cores da pele, ampliando os caminhos que vai percorrer até o infinito.Meu corpo busca os lugares que nunca visitei, os corpos que nunca foram abraçados, montanhas, nuvens, flores, árvores, rios, mares, oceanos. Meu corpo testemunha meu desejo e vontade de acariciar, de abençoar, de exaltar a beleza e a eternidade do amor, afirmando a magia que emana da compaixão, ultrapassando todos os limites, enquanto gera mundos novos, e pode engravidar o futuro através de esperanças e utopias libertadoras para aqueles que vivem pressionados pelo ódio, medo, pavor, e consolar os aflitos.

O QUE SEI DO MEU CORPO

Meu corpo pode engravidar o futuro

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Meu corpo pode engravidar o futuro

MEU CORPO

Meu corpo busca os lugares que nunca visitei, / os corpos que nunca foram abraçados, / montanhas, nuvens, flores, árvores, rios, mares, oceanos. / Meu corpo testemunha meu desejo e vontade de acariciar, / de abençoar, de exaltar a beleza e a eternidade do amor, / afirmando a magia que emana da compaixão, / ultrapassando todos os limites, enquanto gera mundos novos, / e pode engravidar o futuro através de esperanças e utopias libertadoras / para aqueles que vivem pressionados pelo ódio, medo, pavor, / e consolar os aflitos.

QUANDO EU PARTIR…

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QUANDO EU PARTIR…


O pôr do sol, o novo amanhecer no mesmo horizonte, mostram que não deve haver lamentos quando eu partir. O mar continuará em movimento, repleto de sons e de espuma quando as ondas vão e voltam. Incessantemente. Aquele que saiu das vastas profundezas volta ao lar. O crepúsculo, no cair da noite, e depois as trevas, pede que não haja tristeza, na despedida. Quando eu embarcar para a última viagem. Apesar de de sair do tempo, quando eu for levado para sempre, espero ver meu Piloto na roda do leme guiando minha nau. Quando eu tiver cruzado o último mar da vida. Depois de ter enfrentado e vencido ondas e ventos.

“Queremos a sua solidão robusta,/ uma solidão para todos os lados,/ uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo,/ e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia. A solidez da terra, monótona,/ parece-nos fraca ilusão./ Queremos a ilusão grande do mar,/ multiplicada em suas malhas de perigo/”. Outros versos: E assim como água fala-me. / Atira-me búzios, como lembranças de sua voz, /E estrelas eriçadas, como convite ao meu destino. / Não me chama para que siga por cima dele, / Nem por dentro de si: / Mas para que me converta nele mesmo. É o seu máximo dom. / Não me quer arrastar como meus tios outrora, / Nem lentamente conduzida. / Como meus avós, de serenos olhos certeiros. / Foi desde sempre o mar, / E multidões passadas me empurravam / Como o barco esquecido. / Agora recordo que falavam / Da revolta dos ventos, de linhos, de cordas, de ferros,/ De sereias dadas à costa. (Cecília Meirelles).


É doce morrer no mar / Nas ondas verdes do mar / A noite que ele não veio foi / Foi de tristeza pra mim / Madrugada não voltou / Saveiro voltou sozinho / O marinheiro bonito / Sereia do mar levou / Triste noite foi pra mim / Nas ondas verdes do mar meu bem / Ele se foi afogar / Fez sua cama de noivo / Nos braços de Iemanjá (Jorge Amado / Dorival Caymmi).

A VIDA É UMA SINFONIA INACABADA

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A VIDA É UMA SINFONIA INACABADA


Os sonhos, a poesia, a música, me acompanham desde a meninice. Sempre gostei de música. Hoje, compondo textos, ouço música. Gosto de viajar ouvindo música, gosto de dormir ouvindo música. A música me conduz por caminhos invisíveis, devaneios, sonhos. Sinto-me transportando uma carga de transcendência espiritual muito bem protegidas, numa viagem através de memórias indescritíveis. Carga que me pertence, ou são propriedade da humanidade que repousa em cada um de nós. A música nos desperta para sertirmos a aproximação de um mundo invisível, intangível, embora sentido em intensidades variáveis. Uma sinfonia é assim, parábola de uma vida, especialmente quando executada por uma orquestra divina.
[0] A vida é uma sinfonia inacabada. Amores viajantes, peregrinos, surgem das partituras, no brilho dos instrumentos, contratempos muitas vezes doloridos, impressões vagando entre saudades e desilusões, percorrendo lembranças não identificadas no tempo de uma existência. Um universo muito mais vasto do que se pode imaginar surge num excerto, no Adágio da 5a. Sinfonia de Mahler. Creio.
[0] O adagietto extraído da 5a.Sinfonia, de Gustav Mahler, dura dez minutos, traz-me uma sensação de infinitude, a qual não posso evitar. Pra mim, uma exaltação do que há de mais elevado no espírito da humanidade, além dos planos morais altos, ou dos planos religiosos comuns. Esta sinfonia prova as possibilidades de transcendência poético-musical além da realidade da dor e do sofrimento que nos acompanham nesta pandemia devastadora, e tragédias de vidas perdidas sob a irresponsabilidade de quem deveria proteger e cuidar da saúde do povo. Deveria ser ouvida, porque transcende a tragédia moral que nos acomete, quando nos submeteram a um poder como o que está sobre nós neste momento. Como se fora um mal irreversível… Mas não é
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NAS ASAS DE UMA CANÇÃO

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NAS ASAS DE UMA CANÇÃO

Sem ambiguidades, sentimentos diferentes, ao ouvirmos uma canção que nos tem acompanhado a vida toda, é inegável que ecos de transcendências se escondem nos sons. Trata-se de uma impressão inexplicável, ingresso num mundo novo, além desta vida. Algo como o alívio de alguma aflição, ou da opressão cotidiana. Alguma coisa maravilhosa, celestial, alcançada no canto do poema, nos acordes, nos naipes instrumentais de cordas, sopro, percussão, colorindo a melodia. Olhos veem cores, mas como negar o colorido do poema e dos sons que chegam à nossa alma? Um universo de cores infindáveis invade nossos sentidos, como se fôramos elevados a um espaço amplo, espantoso. Acima dos sentidos, porém capaz submergir-nos na profundidade do mundo desconhecido além da vida terrena. “Não sei o que se passava no meu espírito, nem entendo a melancolia da hora. Permaneço imóvel, deixando-me penetrar suavemente pelos sons de uma canção.

Parece que a música percorre minha alma, um conjunto inexprimível de sensações, uma serenidade celestial. Uma leve tristeza motivada pela saudade de coisas e acontecimentos que não sei mais identificar. Alguma coisa que adormece e ao mesmo tempo desperta, esta ocorrendo”. Gaston Bachelard comentava um escrito de Victor Hugo: “Assim é todo um universo que contribui para a nossa felicidade, quando o devaneio provocado pela música vem acentuar o repouso necessário à alma aflita”. Penso eu que o devaneio poético é um sonho cósmico, uma abertura para o mundo da beleza. E, como dizia Rubem Alves, “fora da beleza não há salvação”.

Nas asas de uma canção, como disse o compositor da Mangueira Nelson Sargento, entre luzes de Cartola, Paulo César Pinheiro, grandes na poesia das canções, se encontra inspiração para outras canções. Poemas de amor profundo, na reunião de notas musicais capazes de preencher nossa alma de êxtase. Especialmente a minha, no ocaso da vida. Canções que aliviam almas cansadas, retirando-as do abismo das desilusões e amores perdidos, durante a jornada de uma vida.

música

DESPEDIDAS E CHEGADAS

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DESPEDIDAS E CHEGADAS


Estávamos na praia, brisa de verão. tínhamos nos despedido do nosso amigo, que partia na sua última viagem. Que falta fazia neste momento um lenço branco… Adeus! Olhos enevoados, lembranças inesquecíveis, saudade que povoará os sonhos. Os braços se estendem para os acenos de despedida. Observávamos o veleiro afastar-se do porto, ganhando o mar alto, mar adentro, mastros bem altos, velas enfunadas, sopradas pelo vento. Naquele dia, o veleiro afastava-se da costa navegando com suavidade, impelido pelo vento forte num dia de sol e nuvens brancas no céu. Um espetáculo de extraordinária e rara beleza. O barco, impulsionado pela força dos ventos, ganhando o mar tão azul quanto o céu no horizonte. Cada vez menor aos nosso olhos. As velas, as bandeiras no alto dos mastros, ainda visíveis, apesar da imagem pequena do veleiro.

Um pouco mais e só podemos ver, na distância, um pequeno ponto branco na linha do horizonte, onde o mar e o céu se encontram. Quando parece que o céu despeja seu azul nas águas distantes do oceano. O barco some aos poucos, no horizonte. — “Foi embora!”, alguém exclamará. Outro perguntará: “Sumiu no mar? Foi embora de vez? Evaporou no nevoeiro?” Não… não… não, sabemos. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho, e leva o nosso querido amigo. Tinha o mesmo tamanho, a mesma capacidade de navegar em mar alto de antes, quando estava no cais, perto de nós. Levará nosso amigo querido ao outro porto de destino. Última viagem, aqueles que amamos foram para o outro lado da vida. O veleiro não desapareceu, nem nosso amigo. Apenas não os vemos do lugar onde estamos. Da praia ou do cais.

Logo, na distância que não alcançamos, eles serão vistos pelos que estão do lado de lá, para receber aqueles de quem nos despedimos do lado de cá do oceano. Outras vozes e outras mãos acenam os lenços brancos da chegada. — “Lá vem eles!”. No lado de lá, o porto da recepção. São os dois lados da mesma viagem. Partidas e chegadas, despedidas e encontros. O mesmo barco, o mesmo embarque e desembarque. Quem ficou espera as notícias daquele que chegou da viagem da qual não vai voltar. Não devem. Ele foi para ficar e esperar os que vêm na próxima viagem. São os dois lados da mesma viagem. Tem gente que vai pra nunca mais voltar, tem gente a sorrir e a chorar na hora da partida. Na despedida e na chegada há lenços brancos acenando. O barco que chega do outro lado é o mesmo da partida. — “Vem, me dê um abraço bem apertado”!, na chegada, dizem os que trazem nas mãos os lenços brancos. É a última viagem, e também a última chegada… o último cais, a última jornada.

O SEGREDO DA BORBOLETA

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O SEGREDO DA BORBOLETA

Um dia um ovinho deixado numa pétala de flor foi abrigado no ventre de um casulo. Dentro do corpo do casulo o ovinho eclodiu, e nasceu uma lagarta sinuosa e aveludada. A lagarta cresceu, e alcançou forças para romper as paredes do ventre do casulo. Mas, o casulo morreria e ficaria seco depois da libertação da lagarta. Era assim… sempre foi assim. Depois, a lagarta movimentou-se pelos galhos e ramos da acácia amarela que foi sua primeira casa. Ficou amiga da árvore, e viu um dia que suas folhas se desprendiam dos ramos, e caiam no chão formando no gramado imensos tapetes de pétalas coloridas na cor do ouro. Um dia a lagarta vestida de veludo surpreendeu-se. Seu corpo começava a mudar, nasciam asas azuis, violetas, vermelhas, rosadas, misturadas em cores e matizes inacreditáveis. E descobriu que poderia voar… precisava voar.

Era, agora, uma borboleta esvoaçante, pronta para explorar jardins de mil flores, mil cores, mil amores. Porque as borboletas amam as flores. Tudo para ser contemplado e receber a admiração dos que podem ver e sentir o encantamento dos jardins. Pousaria em cada pétala de flor, se pudesse. E tomaria emprestados os tons coloridos das flores, confundindo-se com elas. Delas também tiraria o néctar que a alimentaria por toda a vida.Mas, chegou o momento, a hora e o dia, no qual percebeu que as flores murchavam, perdiam as cores e caiam dos ramos onde brotaram um dia. Entendeu, assim, o segredo da vida. Soube que ela mesma passaria pelas mesmas transformações. O ovo e a semente sempre serão o início e o reinício infinito da vida. Um encantamento! O grande segredo que casulos, borboletas, árvores e botões de flores perpetuam eternidade adentro.

A borboleta entendeu que chegara a hora de revelar-se em seu próprio segredo. Pousou numa folha de acácia amarela, depositou seus ovinhos. Um casulo os recolheu, fez um ninho, e pendurou-se num ramo. E… Ah!, os segredos da borboleta, do casulo e das flores seriam contados infinitamente, pois o tempo e a vida nunca chegam ao fim. Testemunham a vida infinita, é preciso contar essa história para todo o sempre.

A ESPERANÇA SE CHAMA “DEUS”

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meditação - faixaE NO ENTANTO A PRIMAVERA PREPARA O VERÃO INVENCÍVEL
QUE HÁ EM NÓS
[1]
Ah! Há tantas canções inúteis, fracas para entortar o cano das armas, para ressuscitar os mortos, para engravidar as virgens, mas não tem importância, elas continuam a ser cantadas pela alegria que contém… E há os gestos de amor, os nomes que se escrevem em troncos de árvores, preces silenciosas que ninguém escuta, corpos que se abraçam, árvores que se plantam para gerações futuras, lugares que ficam vazios, à espera do retorno, poemas inúteis que se escrevem para ouvidos que não podem mais ouvir — porque alguma coisa vai crescendo por dentro, um ritmo, uma esperança, um botão –, pela pura alegria, um gozo de amor. E me lembrei de um pôster que tenho no meu escritório, palavras de Alberto Camus: “No meio do Inverno eu fi nalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível.”
[2]
Agradeci àquele arbusto silencioso o seu gesto poético. Ah! Sim, quando os pássaros fugiam amedrontados eles levavam no seu
voo as marcas do Inverno que se aproximava. Quando as árvores pintavam suas folhas de amarelo e vermelho, como se fossem ipês ou flamboaiãs, era o seu último grito, um protesto contra o adeus, aquilo que de mais bonito tinham escondido lá dentro, para que todos chorassem quando elas lhes fossem arrancadas. Sim, eles sabiam o que os aguardava. E os seus gestos tinham aquele ar de tristeza inútil ante o inevitável. Mas aquele arbusto teimoso vivia em um outro mundo, num outro tempo. E, a despeito do inverno, ele saudava uma primavera que
haveria de chegar… (RUBEM ALVES)

BASTA SONHAR COM VOCÊ…

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BASTA SONHAR COM VOCÊ…

BASTA SONHAR COM VOCÊ...
Sonhando com você, nossa vida na última curva,
Sei que posso ir ao fundo de qualquer profundidade.
Abismos podem ser atravessados na ponte dos desejos.
Por você posso inventar caminhos e pontes, qualquer mundo,
Basta sonhar com você.
Ao sabor dos sonhos, posso encher um mar inteiro,
Olhar as fontes, donde correm as águas que escorrem pelas serras.
Posso amar, abraçar e afagar seu corpo,
Dos seus beijos hálitos doces emanam.
Posso morar nas nuvens, num lugar pertinho do céu,
Basta sonhar com você.
E no aconchego da pele na pele, carne com carne,
Entender que, como mulher, você foi feita pra mim,
Do jeito que foi inventado o prazer.
Você é pra mim como um dia de sol,
Com sua luz sou capaz de construir usinas,
Usando a energia que vem de você.
A força da alegria sai das turbinas que me trazem a você.
E criam a pulsão da existência que me impulsiona dia e noite sem parar.
Dobrando as curvas da vida, mesmo quando já estiver de partida,
Verei você, e sei o meu caminho, que não foi um caminho sozinho.
Porque você me recebeu no seu caminho, anda comigo nos meus sonhos.
Abismos podem ser atravessados na ponte dos desejos.
Por você posso inventar caminhos e pontes, qualquer mundo
Basta sonhar com você.

O LUGAR QUE PROCURO…

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O LUGAR QUE PROCURO…

O LUGAR QUE PROCURO
Fui criado perto das águas, do rio e do mar.
Comi cascudo e bagre, traíra e piáu, vermelha, com temperos de coentro,
cebola e tomate, na beira dos rios da minha infância.
Conheci também pescadores que montavam seus barcos oceano afora
atrás de tainha, robalo, cação e sardinha.
Sem esquecer o namorado, o linguado e o xerelete.
Nas areias e nos mangues o siri patola, o caranguejo,
o guaiamú, a ostra e o marisco.
Tantas vezes comi pescadinha, pirão de banana-da-terra,
polpa de coco verde, fruta-pão assada, com manteiga, nata,
Comida que nunca esquecerei.
Do mesmo modo, nas vilas de pescadores,
vejo os balaios, as praias onde se colhem búzios,
conchas, seixos, estrelas do mar sem vida,
cavalos-marinho, as pedras com bacias
que aprisionavam baiacus,
os carretéis de cipó que os pescadores
enrolavam com as próprias mãos,
redes furadas que precisavam ser consertadas.
Estou perto, e quanto mais perto
sinto os amores, as distâncias que já percorri.
Por toda a minha vida.

A ampulheta do tempo foi virada outras tantas,
desceu a areia em grãos incontáveis,
quantas folhinhas do calendário foram rasgadas,
para acompanhar o tempo da minha vida.

Rodaram os ponteiros do relógio por milhares de vezes,
até que eu chegasse aqui, à procura
dos caminhos da minha infância.
+
Ouvi cantigas que ninguém canta mais,
modinhas, cirandinhas, cantigas que rodaram pelas fazendas,
cânticos dispersos que flutuavam no ar,
Ainda ouço as canções encantadas que tropeiros
levavam de lugar em lugar, enquanto transportavam
açúcar, arroz e café para as vilas e fazendas.
Mas, hoje, velho e farto das coisas dos rios e do mar,
busco lugares mais perto do céu,
montanhas, matas, bosques e florestas,
lugares com nascentes, ribeiros, cachoeiras,
serras, pássaros, frutas do mato, araçás, maracujás, seiva boa,
arco-íris depois da chuva, garoa espessa no amanhecer,
areais de brancura incomparável na beira do rio,
magia das águas que transbordam das represas,
fontes de água doce pra beber em copos de taioba. 
Estou perto, e quanto mais perto
sinto os amores, as distâncias que já percorri. 
Por toda a minha vida.
A ampulheta do tempo foi virada outras tantas,
desceu a areia em grãos incontáveis,
quantas folhinhas do calendário foram rasgadas,
para acompanhar o tempo da minha vida.

CANDELÁRIA 
Dormem no meu jardim as açucenas brancas /
Os nardos e as rosas /
Dormem no meu jardim as açucenas brancas, /
Os nardos e as rosas /
Minha alma mui triste e pesarosa /
Quer esconder das flores sua amarga dor. /
Não quero que as flores saibam das tormentas que a vida me dá /
Se soubessem como estou sofrendo / Chorariam também pelo meu sofrimento. /
Silêncio, que estão dormindo os nardos e as açucenas/
Não quero que saibam do meu sofrimento /
Porque se me virem chorando /
Morrerão...
[Extraído do filme cubano "Candelária"].

SOBRE ANIVERSÁRIOS E A FINITUDES…

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SOBRE ANIVERSÁRIOS E A FINITUDES…
SOBRE ANIVERSÁRIOS E A FINITUDES…
Martin Heidegger pensava que o fato mais natural da vida dos mortais é a morte. Esse extraordinário pensador compreendia que a finitude do ser humano se torna absoluta e essencial quando alguém encara sua condição finita: “cada vida humana caminha irremediavelmente para a morte”. Atenção, pois Heidegger acentua e exacerba a importância da vida humana, do corpo, da carne, enquanto a existência humana é representada pelo “ser-em-si”, reconhecendo-se em sua humanidade e existência com os demais, antes da morte.
A morte, não obstante, não vem de fora. A morte é a suprema possibilidade de plenitude. Por isso eu posso dizer:– “Quando eu morrer, levarei minha morte comigo”. Suas ponderações são, seguramente, pouco diferentes daquelas desenvolvidas por Max Scheler, filósofo preferido de Paul Tillich, que muito o divulgou como esteio para as filosofias existencialistas cristãs.
Uma águia real pode viver setenta anos, se aos quarenta assumir o que deve ser feito. O bico enfraqueceu com a idade e se curvou, impedindo que a águia continue sua caça normalmente. As unhas estão gastas e enfraquecidas, a penas estão murchas, o corpo pesado desliza com dificuldade nas correntes de ar. A águia, então, toma a decisão necessária, sobe ao ninho na alta montanha para reorganizar suas forças e potenciais. O processo se completará em cinco meses. A águia começa por bater insistentemente o bico na pedra até arrancá-lo completamente. Depois, aguarda nascer o novo bico. Após semanas, com o bico renovado, arranca as unhas gastas, uma de cada vez. Em seguida, retira uma a uma as velhas penas e aguarda o renovo das duas. A partir daí viverá mais trinta anos. É o bastante…
Não espero tanto, já agradeço muito aos Céus pelo que alcancei, nos meus 80 anos de vida. Daqui para diante tudo é lucro. Obrigado, amigos, por terem-se lembrado de mim.
Derval Dasilio
Obs: Atualizando a nota publicada quando completei 75 anos de idade.
———-
Dormem no meu jardim as açucenas brancas /
Os nardos e as rosas /
Dormem no meu jardim as açucenas brancas, /
Os nardos e as rosas /
Minha alma mui triste e pesarosa /
Quer esconder das flores sua amarga dor. /
Não quero que as flores saibam das tormentas que a vida me dá /
Se soubessem como estou sofrendo / Chorariam também pelo meu sofrimento. /
Silêncio, que estão dormindo os nardos e as açucenas/
Não quero que saibam do meu sofrimento /
Porque se me virem chorando /
Morrerão…
[Extraído do filme cubano “Candelária”].

APRENDO COM OS QUE AMAM A SIMPLICIDADE

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derval - cartão
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Na cidade, há homens que dirigem bancos, outros governam o mundo desde o alto de torres envidraçadas. Alguns vivem confeitando pães.
Há outros que parecem loucos, e os que adoram os jogos e o brilho das luzes (disse um poeta anônimo).
Os que preferem a arte de Picasso, a poesia de Neruda e Borges… o cinema como o de Bergman.
Há arquitetos que fazem cidades, edifícios em curvas e formas redondas, como Niemeyer;
planejam cidades, como Lúcio Costa, ou inventores do futuro, como Le Corbusier…

Há homens que negociam ações, outros que batem cartão de ponto. Alguns se jogam sem medo nos abismos, outros fazem rapel, ou pisam em terrenos pantanosos, duvidosos, sem medo de afundar… Há os que vivem da vida absurda, escondendo-se ou esforçando-se para não mentir ou trair, ocupados demais para reinventar a vida, atrás de um bom desempenho para alcançar coisa nenhuma. Outros que tocam na alma da gente com luvas de veludo, e outros que ferem o espírito com botas de ferro… E também homens que passam a vida tentando colocar a cabeça acima da manada, como se fossem os únicos diferentes do rebanho levado ao matadouro, inutilmente.

Há homens que inventam o futuro. Outros vivem felizes porque viveram um grande amor, e muitos outros que levam a vida com objetivos elevados,
constroem metas humanitárias, querem humanizar a vida com invenções de conforto na saúde, no transporte, no trabalho, na urbanização que torna agradável habitar nas cidades.

Há outros que preferem a simplicidade, são almas menos exigentes, gostam da trivialidade, da vida simples e sem complicações. Gostariam de não ter cartão de crédito, não ter carro, não depender de elevadores e não receber boletos de contas a pagar, todos os dias.
Gostariam de não ter telefone e não receber ofertas de serviços funerários através de uma voz eletrônica. Contentam-se com as paisagens e imagens da vida no campo. Coisas menores, que alguns chamariam de mediocridade.
Eu sou desse tipo. Tudo o que eu quero fazer, é morar junto de um parque, de jardins e pequenos bosques, próximos de uma colina.

Derval Dasilio
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NAVEGANDO NO OCEANO DE TUA ALMA

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NAVEGANDO NO OCEANO DE TUA ALMA

NAVEGANDO NO OCEANO DE TUA ALMA
Falta-me um veleiro, um mastro de muitas velas,
para navegar dentro de tua alma e te encontrar,
e entender um pouco dos teus mistérios.
Penso no interior profundo em que guardas tesouros
inimagináveis como a infinitude de um amor solitário.
Navegar em tua alma é tudo que eu quero.
O mar deveria ser uma realidade por si mesmo,
mas é mistério, e para entendê-lo preciso encontrá-lo
nas profundezas da tua alma.
Falta-me um veleiro, um mastro de muitas velas,
para navegar dentro de tua alma e te encontrar,
e entender um pouco dos teus mistérios.
[]
Ambrósias perfumam tua alma,
delas faço licores imaginários
Para degustar contigo.
Um devaneio que habita numa zona profunda como tua alma.
Sonhando eu me dispo para entrar no teu mar,
e te vejo encantadora, realidade sensual primitiva,
falando de uma beleza interna,
ondas e espumas flutuantes,
imagens do fluido lunar que envolve teu corpo.
Falta-me um veleiro, um mastro de muitas velas,
para navegar dentro de tua alma e te encontrar,
e entender um pouco dos teus mistérios.
[]
Um oceano seria necessário para afogar as chamas
que queimam que não entendo nem quero entender.
Nem mesmo com toda água do universo inteiro
eu conseguiria compreender os sentidos da vida,
e apagar o incêndio em minha alma, por tua causa.
Preciso deslindar esses mistérios,
conhecer ao menos alguns dos teus segredos,
para te amar ainda mais.
Pra te envolver no meu próprio mistério.
Um oceano me inunda por inteiro,
sem apagar as chamas do meu amor por ti.
Falta-me um veleiro, um mastro de muitas velas,
para navegar dentro de tua alma e te encontrar,
e entender um pouco dos teus mistérios.

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INSUSTENTÁVEIS SEGREDOS DA ALMA PROFUNDA
[1]
Sei de segredos escondidos
em cada página do livro da vida.
Entre eles te encontro na palavra misteriosa do amor.
Sei, porém, que teus segredos são invioláveis,
e que ao mesmo tempo
eles não representam uma realidade
que não queres revelar a ninguém.
E, nem deves oferecer revelações que não queres,
ao mundo à sua volta.
[2]
És mais bela porque também escondes os teus segredos,
as coisas secretas guardadas aos olhos dos demais;
as coisas que não te confundem com a multidão,
e nem por isso trazem desolação à alma de alguém.
[3]
Alguém como tu.
Alguém, minha bem amada,
que tenha feito de um juramento um poema;
que tenha escolhido uma estrela,
apenas, nas miríades do céu estrelado,
para te encontrar entre as constelações.
Alguém que tenha sido alvo de promessas de amor,
que tenha dito que és maior do que tudo que existe,
e que tenha prometido amar-te por toda vida.
Esse alguém deverá ser considerado traidor,
se cantou em versos a revelação dos teus segredos.
Porque jamais se exige de quem amou,
e a quem se entregou, revelando seus segredos,
que devesse ser retribuído da mesma maneira.
[4]
Porque é sagrada a inviolabilidade dos segredos
de uma alma amante.
Segredos são guardados no quarto proibido
dos contos de fada.
Pois o amor é um conto de lealdades,
e não de traições.
É ilícito e perigoso romper a fechadura desse quarto.
Não devo, jamais, querer saber tudo sobre quem amo,
e assim mantê-la à mercê do medo e da traição possível.
[5]
[Quando eu te amo,
tua alma desliza para dentro do meu abraço,
e teu corpo penetra nas profundezas do meu corpo].
Conheço-te, amada, e tudo farei
para manter-te desconhecida,
sem o medo de seres violada em teus segredos.
Recuso-me a saber tudo sobre ti,
pois é o teu mistério que me aproxima de ti
e me faz amar-te.
[6]
O sol na pele, o sabor lembrado, do beijo,
o gosto na língua,
o cheiro,
o perfume de jasmim nos teus cabelos,
fazem parte dos teus mistérios.
Um segredo faz parte da comunhão
de um ser com seu eu profundo.
Segredos se confundem com as variações
e ilusões do mundo real,
onde se misturam lembranças,
arbustos verdejantes,
limo nas rochas,
pássaros,
chuva fina encharcando a relva,
orvalho nas flores,
e o próprio seio de uma alma profunda.
Felizmente indescritível e indevassável.
O aparentemente insustentável peso de amar em segredo, contigo, minha querida, torna-se uma leve pluma esvoaçando sobre as árvores de um bosque em flor.
Derval Dasilio
[*][*][*][

REDEMOINHOS E PROFUNDIDADES
As águas profundas,
amiga, devem ser contempladas
como se estivéssemos num sonho.
Porque um devaneio ajuda a elevar
a alma profunda de um sonhador,
quando em busca de alimento para a alma.
O movimento das águas, os redemoinhos
e as correntes d’água,
refletem o mundo real em que vivemos.
Encontro-me na margem de um lago de águas profundas,
composto de limo, pedras, pássaros e árvores,
e outras plantas e arbustos vicejantes.
Um devaneio diante de águas límpidas
faz minha alma encontrar o seu repouso.
O descanso do sonho de um amor,
que poderia ter permanecido puro para sempre,
contudo, jamais me aconteceu.
[|]
UM LAGO PROFUNDO EM TERRAS ESCURAS
De fato,
procuro um firmamento de luz,
estendido sobre a terra escura,
e ainda mais impenetrável que a noite mais profunda.
Em cada lagoa há reflexos de um céu estreito.
Um céu que emerge do mergulho
no mundo subterrâneo da alma.
[|]
SONHOS DA PAIXÃO VARANDO A NOITE
O teu amor é maior que o meu,
mas aumenta o meu valor.
Um amor, se exaltado, deve dominar uma vida,
e arrastar outras vidas para os píncaros mais altos.

AOS 80 – ÉBRIO DE LUZ E DE ESPERANÇA

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AOS 80 – ÉBRIO DE LUZ E DE ESPERANÇA
fim de agosto (2)AOS 80 – ÉBRIO DE LUZ E DE ESPERANÇA
Aos 80 anos, pinto um quadro novo para minha vida, ébrio de luz e de esperança.Os dias finais de minha vida física não me impressionam mais que os dias que já vivi. Acompanho minha mulher,casamento recente desde a segunda viuvêz, buscando a vida de ar puro, de paisagens verdejantes, serras e montanhas, onde pretendemos viver parcialmente. É preciso ficar de pé, observar os ventos leves, o sol que aquece nosso corpo e todo o universo do nosso mundo. Ver a luz que desce do céu, as águas mansas do lago, e cultivar sorrisos limpos, brilhantes, sinceros, incontaminados da hipocrisia. Observar melhor o que saltita musicalmente no palco ao nosso redor, o balé das criaturas felizes e inocentes. Quando crianças, ignorávamos as palavras de inveja, despeito, desprezo dos outros. Éramos ricos das coisas naturais, do carinho de mãe. Desfrutávamos da vida livre sob o sol e a chuva, o campo, as matas, os rios, as cachoeiras. Ou o mar, as praias, as ondas e o sol. Éramos contentes por viver, sem perguntar nada sobre a infelicidade e o sofrimento. Mas eles existiam, e levavam muitos ao desespero. Chegávamos ao extremo da lógica, da razão iluminista, enquanto era refreado o romantismo. A negação da ternura e da poesia que há em tudo que nos cerca.
Porém, e felizmente, há uma luz que não se apaga. O brilho que não queremos perder, nem queremos renunciar ao mesmo. Eles não nos abandonam, nem permitem que nos percamos em atalhos perigosos. Vocês sabem do que estou falando. Por mim, sei que não sou mais aquele rapazinho sensível, audacioso, louco por aventuras, amores ferventes, experiências novas. Chega! Meu presente é forrado de tudo que preciso para minha vida de velho. Livros, memórias, netos, filhos com a vida resolvida. E acompanhado de uma mulher maravilhosa. Fui feliz antes, posso seguir em frente, ignorando a embriaguês da futilidade e artificialidade. Experimentei muitas coisas boas em minha vida. Esqueço as más experiências, não me deixo afogar pela nostalgia. Sei que posso caminhar na direção do amor e do desejo. .
Aprendi muitas lições, outras ainda vou aprender. Evitei perder-me em grandezas inúteis para bem viver. O tremeluzir da vida, com raios que cortam o céu anunciando tormentas não me impressionam mais. Tudo que trouxe à minha vida aromas violentos, o sol causticante sem a sombra de uma árvore para descansar, parecem-me futilidade diante de sorrisos em faces luminosas transparentes de amor. Por fim, creio que posso voltar aos perfumes da terra, às essências que exalam nos abraços e suspiros da mulher amada; aos esforços do tempo para penetrar na eternidade. Mar, montanhas, lagos e flores, fazem parte do meu itinerário na minha velhice.
Quero, ainda, mergulhar no mar, deitar na relva no meio do bosque, e sorver o perfume da terra. Afogar minha pele em abraços da mulher amada, dos amigos e das amigas. Acasalar meu corpo com o mundo, embrenhar-me em absintos, para que meu corpo sinta realização e orgulho da minha condição de homem, depois de transbordados os dias de juventude. Depois do gosto de sal, o banho de mar, voltar a respirar os ares das montanhas onde nasci. Depois de fugir da insensatez do senso comum tomado por símbolos, imagens, e ideologias imbecis. Como já dissera Albert Camus, “um sol invencível quer me iluminar”. Devo me expor a essa luz. Não conheço a tristeza, tenho gosto de procurar, ainda, a felicidade fundamental. A eternidade é inocente, está além dos ídolos autoritários, falsos combatentes da corrupção, no fascínio ideológico provisório do momento, os quais não me impressionam, por sua temporalidade e prazo de vencimento. Sei que sucumbirão numa única temporada. Sobreviví a oitenta temporadas de imbecilidade coletiva. Superarei mais esta. Beijos e abraços para todos e todas. Até o próximo ano.
Derval Dasilio

Os Ombros Suportam o Mundo (Drummond)

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Os Ombros Suportam o Mundo (Drummond)

sozinho no bosque[2]

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUANDO EU FALO DE DEUS

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QUANDO EU FALO DE DEUS
Confrontado com a concepção da religião evangélica bolsonarista, que afirma Bolsonaro como “ungido do Senhor”, leio Karl Barth, enquanto acompanho L.Boff, que por sua vez segue Teillard Chardin. Barth dizia: “Quando eu falo de Deus é sempre um homem que está falando…”. Porém, um homem que procura a justiça. “O justo viverá pela fé”, citando o profeta Habacuc. Compreendo, eu mesmo, que para falar de Deus preciso estar alicerçado em coisas concretas, como a justiça. A terra e o chão em que piso, as leis da Física, da Astrofísica, a Matemática Quântica, a Semiologia — estudo histórico-social da linguagem -–, a história complexa das civilizações e das culturas. Então, pergunto como Deus aparece emergindo da evolução do conhecimento humano. A compreensão e crescimento cognitivo das formas do amor, da compaixão, da ternura, da misericórdia, do cuidado, da justiça e da solidariedade.
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Sejamos sensatos, antes do “big bang”, 13,7 bilhões de anos atrás, segundo a principal teoria vigente, do qual se originou o universo físico que conhecemos, nada existia. Compreensão comum, portanto. Imperava o Incognoscível, portanto, o Mistério. Que nome daremos ao Mistério? Pode-se dizer que não era o Nada, e sim que antes das palavras, do Logos, do conhecimento; antes das energias que sustentam planetas e estrelas; antes da matéria, do próprio espaço e do tempo, existia o Mistério. O Mistério, pra mim, abriga o reconhecimento da existência de Deus. Ora vejam, o Mistério também abriga o aparecimento das religiões, e com elas o Cristianismo. Estas, usam um nome: Deus. E, aí, não há Palavras. Como Mendelssohn escreveu suas maravilhosas “Canções sem Palavras”, escreveríamos sobre o silêncio. Diante de Deus, mais vale silenciar e contemplar o Mistério. Porém, um coração sensível percebe uma Presença que enche o universo com sentimentos de grandeza, de majestade, de respeito, de veneração, além de tudo que se deve reverenciar. Deus é a primeira explosão da razão para compreender-se aquilo que deu origem ao conhecimento, à consciência da própria existência do Universo, dos seres, e de suas finalidades; de tudo que existe e dá sentido à existência. Deus é uma grandeza maior que todas as grandezas percebidas pela razão sensível; majestade acima de todas as realezas; respeito acima de tudo que é respeitável diante do conhecimento.
[*]
Colocados entre o céu e a terra, diante das miríades de estrelas, constelações, galáxias, suspiramos… retemos a respiração, e depois respiramos fundo cheios de reverência. Estamos prontos para as perguntas. Quem fez tudo isso? Quem pode ser vislumbrado lá bem atrás do universo sideral? Espontaneamente, crentes, admitimos uma inteligência suprema, uma realidade última inconcebível pela razão, expressas numa palavra: DEUS. Foi ele que colocou tudo em marcha, e é a Fonte Originária de tudo que existe, de todos os seres. E do que alimenta e sustenta tudo que existe. Deus é sustentador da nossa própria existência. Somos homens e mulheres sustentados e protegidos do Abismo. A mão estendida que nos socorre à beira dos despenhadeiros frequentes que contestam nossa própria existência.
[*]
Mas, Deus não está fora do processo imensurável da evolução da consciência, desde 13,7 bilhões de anos atrás. Deus pervade, percorre, permanece, em todo processo da vida. E além do mesmo. “Nada nos separará do amor de Deus”, diz a Escritura (Rom.8…). Nem as forças incontroláveis da natureza, epidemias, terremotos, furacões, tempestades, dilúvios… Nada nos afastará de Deus. Ele emergiu, revelou-se em nossa consciência, porque antes do conhecimento Ele já existia; antes da existência Ele já existia. Somos instados a dizer: Deus pertence primeiramente ao Universo, irrompeu em seguida na galáxia onde se encontra o nosso planeta, configurado em nosso sistema solar. Deus faz-se Consciência presente nas manifestações de amor, de justiça, de dignidade humana e do mundo criado.
[*]
Deus faz-se louvado, venerado, conscientizado pelo ser humano, homem e mulher. Somos a porção da terra que sente, reflete; que ama em todas as manifestações do amor (compaixão, misericórdia, justiça, cuidado e solidariedade, por causa de Deus). O Universo tem um coreto no meio do parque! Teatro da Gloria de Deus. E nós? Nós somos aqueles que param para ver a música tocada no coreto… depois, saímos para passear nos jardins com nossas crianças, percorremos os bosques nas trilhas verdejantes, cheias de vida, cheirando o húmus da terra, absorvendo os perfumes exalados pelas flores ao redor, enquanto ouvimos o canto dos pássaros que ali habitam. Aproveitamos os balanços e as gangorras, a roda-gigante, e saímos ao anoitecer. Repousamos, e na madrugada já podemos ver a luz rompendo e afastando a neblina, para se iniciar um novo dia. Louvando, reverenciando o Mistério de Deus. Todos os dias, moradores da terra, celebramos a esperança de um Mundo Novo Possível. Construindo, se necessário, altares à beira do Abismo (Rubem Alves).
[*]Por Derval Dasilio
——-

JESUS, O PASTOR QUE NOS RESGATA DO ABISMO
Quem nos resgata nos despenhadeiros em que nos metemos? Quem buscará o ser perdido nos profundos abismos, ou nas vias erráticas na vida; quem procurará incansavelmente aquele que não pode retornar sozinho, com suas forças, pelo caminho da salvação? Dietrich Bonhoeffer, mártir do cristianismo sob o nazismo, ajudando-nos a entender as implicações da espiritualidade cristã a respeito do perdão e do resgate de quem se desvia nos caminhos da vida, diferencia-as da psicologia terapêutica. Diz o mártir da fé incondicional: “a psicologia conhece a miséria, a fraqueza e o fracasso das pessoas… mas não conhece a impiedade humana”! Duras palavras dirigidas à psicanálise. Porque a mesma informa: “o resgate está na pessoa capaz de perdoar-se a si mesma”. Não é bastante, e não é assim o evangelho de Jesus. Em parábolas, ele descreve a alegria do pastor que achou a ovelha perdida, desviada do caminho certo; a alegria da mulher que achou a “dracma” perdida, concluindo: “Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu (isto é, em Deus) por um pecador resgatado, do que por noventa e nove justos que não necessitam de resgate” (Lc 15,7-10).

A existência humana também conhece a esperança da segurança plena e definitiva, quando consegue o apoio no fundamento último, Deus que nos aceita, que salva e nos resgata nos despenhadeiros em que nos metemos sem estabelecer condições; Deus que salva por amor, por misericórdia e compaixão, em gratuidade, na direção da salvação plena. A presença terrível do Mal ronda as ovelhas nos caminhos da vida. A luz da esperança, mostra que a sombra inquietante do Mal não conseguirá eclipsar completamente a salvação, que “é iniciativa de Deus, e não do homem” (Karl Barth).

O desafio é total, porque o Mal continuará criando esse vazio obscuro, conforme Andrés Queiruga, criando incertezas, apresentando soluções parciais, às vezes camufladas pela terceirização salvacionista humana; contaminando o sentido da vida, e pressionando no sentido da dúvida sobre a gratuidade total que vem de Deus. Sem dúvida, uma aposta de vida ou de morte sobre uma fé que não se submete à razão sobre si mesma, justificando o pecador disposto a aceitar a oferta de Deus.

Deus é transcendência cristalina. Ele quer a salvação dos esquecidos nos grotões da vida, presos nos abismos das escolhas erradas ou por imposição fatalista, determinista. Quer resgatar os incapacitados de concorrer, alcançando méritos, deixados para trás, excluídos, abandonados nos despenhadeiros das desigualdades, do racismo, da homofobia, das diferenças sexuais ignoradas e combatidas, das castas e dos guetos. E Jesus diz que eles pertencem a Deus, e o seu errar lhe causou preocupação, e ele vai buscá-lo, no mais fundo abismo existencial, com ternura e cuidado. O pastor alegra-se na volta do que errou o caminho seguro para voltar à casa; alegra-se por proteger os abandonados e esquecidos. Trata-se da alegria “soteriológica” de Deus, expressa em Jesus.

Porque Deus é assim, de misericórdia incompreensível, a tal ponto que o ato de perdoar e resgatar é sua maior alegria, por isso o encargo do redentor é arrancar o desviado das presas malígnas do erro; é trazer de volta para casa os perdidos no emaranhado ideológico do autoritarismo político, ideológico, fatalismo que envolve e seduz o homem. De novo temos Jesus, o representante de Deus, assumindo a missão de vivência do evangelho integral do Reino. Deus vai atrás dos tresmalhados, tomando a iniciativa, para salvar e reconduzir ao redil aquele que necessita de cuidado, de segurança, enquanto comunica que o perdão incondicional é parte essencial do evangelho de salvação e libertação, pronunciado por Jesus Cristo.

“Há um pastor que me protege.
Ele me leva aos lugares de grama verde
e sabe onde estão as fontes encachoeiradas de águas límpidas.
Uma brisa fresca refresca a minha alma.
Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas.
Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro como a morte
eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranquilizam.
Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer.
Passa óleo de copaíba perfumado na minha cabeça
para curar minhas feridas, e me dá água fresca para sarar o meu cansaço.
Com ele não terei medo, eternamente…” (Rubem Alves – Sl 23: paráfrase)

Derval Dasilio
*

POEMAS DE VERÃO

Padrão
[]derval julho
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CANTO [1]
CAMINHOS NUM EMARANHADO INFINDÁVEL
Encontro-me cercado por ruas e avenidas de teias e filamentos,
Embora prefira os jardins, os bosques em flor,
A água cristalina que brotam no meio das pedras.
Sei que são fungos que criam avenidas e ruas, teias, debaixo da terra.
Agindo ao redor das raízes das árvores,
Formando estruturas conjuntas de fungos e teias,
Micorrizas arbusculares,
As teias se conectam através de filamentos fúndicos,
Juntando tudo num emaranhado infindável na floresta debaixo do chão.
Já disseram: fungos e cogumelos não têm rosto, mas têm vida,
Tudo está bem vivo, cada um no seu lugar,
Ou algum lugar.
Têm uma energia vital, uma liberdade,
uma criatividade espantosa,
Uma cidade que surpreende qualquer observador.
O que um dia existiu se repete, tocando a vida,
Não aceitando interrupções… ninguém pode interrompê-la.
É assim, desde que a vida apareceu.
Tudo segue sem parar,,, nada pode fazê-la entrar em colapso.
Cruzo a vida como um recém-nascido…
Não estou esprimido entre meu chapéu e as sandálias,
Com os quais percorro a vida debaixo do sol ou da chuva.
Observo inúmeros objetos… que coisa estranha…
Não há um que se pareça com o outro.
E me encontro também contigo, tua face, tua presença,
E te vejo única, percorrendo a vida enquanto emanas poesia.
Vida, energia vital, liberdades soltas para que tua prole
Conheça os sonhos, os devaneios que constróem o mundo ao redor.
CANTO [2]
DEBAIXO DAS APARÊNCIAS DE UM MUNDO ESCURO
Há uma cidade subterrânea,
Tudo isso debaixo dos nossos pés.
Isso convida a ampliarmos nossos olhares,
Porque pensamos que isso se dá somente
Como seres humanos, erradamente…
Tu precisas saber, como aprendi,
Que, quando tu cortas uma árvores,
Ou não te importa com predadores
Que devastam e queimam florestas,
Tu estás transformando o ritmo desse emaranhado
De redes e teias de vida e energia.
Precisamos aprender que somos habitados por esses mundos.
Mundos no chão das matas que estão sob nossos pés,
E que estão ao nosso lado, e que ampliam “a cadeia do nós”…
“Nós somos da terra, e da terra vivemos”…
A terra é boa, generosa, como são boas as estrelas,
E seus suplementos, o que a terra produz é bom.
Não sou como a terra, nem como seus suplementos.
Sou teu parceiro, amigo, amiga.
Todos somos mortais e impenetráveis ao mesmo tempo.
Cada um de nós tem pleno direito de existir…
Ah!, fomos meninos e meninas…
Todos conhecemos na carne a dor do desprezo.
Todos tivemos mães e mães de nossas mães.
Mas, nossas mães tinham lábios que sorriam,
E olhos que deitaram lágrimas. Aprendamos!
Tiremos as máscaras, deixemos que os outros vejam
Que debaixo da roupa escura que vestimos,
casemira ou lã, tem um ser de desejo, pronto para o amor.
Saiba, estou perto, estou na área, insistente, tenaz, ávido, incansável,
Pronto para receber e devolver abraços amigos e carinhosos,
Ninguém vai livrar-se de mim, gosto de abraços e beijos ternos.
Os portões da vida estão abertos, escancarados.
Vem comigo. Experimentemos a grama molhada depois da chuva,
Pés molhados na relva, caminhando sem receio algum.
Observemos a claridade do dia nascendo,
A luz brincando no ar, o resto daquela canção adorável da infância,
Que pensávamos perdida nas sombras do tempo.
E matizes, verdes e marrons acima das raízes embutidas na terra.
Tu te sentirás como o caçador que procura a si mesmo
Na floresta, nas matas fechadas, nos caminhos das montanhas…
Zanzando, surpreendendo-se com sua própria leveza e felicidade.
Cairás de sono sobre um monte de folhas,
E as cobrirás com um manto, para dormires em paz.
A paz que queremos ter para o resto de tua vida.
————————–
[Derval Dasilio].

 

Você liberta seu corpo…

Padrão

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eros femeas (3)
 
ME SUGAS PARA DENTRO DO TEU VENTRE
Quero devolver teus segredos /
Colando minha boca na tua boca ,/
Para que não se perca nenhuma palavra do meu desejo/.
Soprarei minha sensualidade no teu corpo, /
Enquanto minhas mãos buscam teus seios macios,/
E minhas narinas recebem tua respiração, /
Oxigênio para minha alma. /
No teu ventre, meu pássaro sedento /
Do mel que brota no teu jardim de delícias,/
De tantas flores , de tantas cores,/
de tantos frutos que produzem o teu doce,/
Meu passarinho procura a flor aberta do teu sexo./

Quer sorvê-la e impedir que teu mel se perca /
Sabendo que não consegues evitar as ondas/
Do prazer que faz vibrar teu corpo/,

Nem represar a cachoeira das águas,
das quais quero beber./
Enquanto a carne aberta
entre tuas pernas me suga/
Para dentro do teu ventre,  suavemente./
E me envolvo num turbilhão,/
Que também provoca tremores em teu corpo…
Enquanto teu gozo explode/
Em torno do pássaro saciado que nem voar pode mais…/ Depois do amor, quero repousar em teus braços.
BOM DIA MEU AMOR
eros femeas (5)
Mulher Sensual
Perco o controle, / Não sou mais dono do calor que cresce em meu ventre / Quando te abraço e quero rolar contigo na cama. / Me deixas louco, mulher! / E chega a hora de ir pro quarto, / E falar sobre coisas coisas lindas que teu corpo me inspira./ E me pedes para apagar a luz, se insisto em contemplar teu ventre macio, / Beijo teu púbis de ralos pelos, / A fenda em carne viva entre tuas pernas, / Tuas nádegas gloriosas, o rego marrom entre os dois globos. / Quando o calor de tuas mãos envolve meu pássaro atrevido / Pronto para voar / Enquanto teu corpo me espera, / Pedindo que te penetre sem demorar mais. / Pedes que eu não te faça gozar tanto, / Porque não tens mais forças. / Me deixas louco, mulher, quando escuto o som do teu gozo, / Teus gemidos que não cessam. / E quando sinto tuas pernas se cruzaram em minhas costas / As palavras desaparecem, e outros sons enchem o espaço, / Enquanto temes que outros possam ouvir nossos gemidos./ A noite demora a passar, até que no outro dia / Repetiremos tudo mais uma vez… / E outras vezes…

———————————
Em nossa conversa você se disse preocupada…Preocupada com a sua sanidade? Como pode alguém que se cura preocupar-se por libertar-se de um mal de nascença? Não é possível. Não mesmo… Quando a liberdade acontece há exultação, alegria. Seu gozo, amor, vem das profundezas. Lá, onde o prazer era reprimido, escondido, preso em algemas e correntes invisíveis. Agora vc soltou seu corpo, goza… goza… goza… em orgasmos repetidos. Desencadeados. Vc disse que não conhecia esse prazer… mas era feliz. Agora chega lá enquanto quebra o tabu de não tocar onde seu corpo vibra mais…

Não tema! Livre vc deve sentir-se mais feliz. Dentro de vc mora a felicidade. E a felicidade é um orgasmo na alma… Gostou? Vc não está vivendo isso tudo eroticamente sozinha. Fazemos juntos, um precisa do outro para ser feliz. Pense, não é só o meu prazer que procuro — e encontro, e como!, vibro com seu gozo… subo às alturas –, vc me faz feliz com seu gozo. Em vc morava uma mulher, mais que reprimida. Vc foi oprimida por muito tempo… Diria Vinícius, parafraseio: “nasce uma mulher, como no deserto uma flor”. A mulher que nasceu num cenário dominado por homens, cenário patriarcal, talvez nem se dê conta das repercussões que descolam do seu interior profundo. Desgrudam de sua alma. Coisas que estavam lá, impedindo o prazer de se tocar, dominar seu corpo, e gozar o que o corpo oferece.

Vc não deve ter medo de ser livre. Vc provavelmente ouviu falar alguma vez de Rose Marie Muraro, e de Lacan, o mais citado discípulo e intérprete de Freud. Citando o pensador da psicanálise, ela diz: “Não existe uma mulher inteiramente livre, se não lhe permitem libertar-se”. Seria um erro pensar que, no fim das contas, é só homem  que possui a mulher. É o contrário. O homem é que precisa dela em primeiro lugar. Não é dominação. Mas ele nega que é possuído por ela, e, ao mesmo tempo produz os meios para subjugá-la. E, assim, controlar o seu gozo. Inutilmente, porque sua liberdade interior é mais forte…

O gozo do corpo não pode ser retirado da mulher, mas o homem produz os meios culturais para impedir que ela expresse seu gozo. Começando pela religião, estendendo-se nos ambientes sociais e profissionais. Há repressão nesses ambientes. Lhe digo eu, agora: vc pode não ter tido essa percepção, antes… Porém, as mulheres que têm essa percepção guardam essas coisas como um segredo numa caixinha (não foi isso que sua analista disse?). A caixinha está se abrindo, e o que está guardado dentro de vc vem à tona em algum momento. E arrebenta as represas, rompe as barreiras…

Meu amor, muitos foram os que impediram vc de se abrir, desde os personagens da religião opressora. Sem esquecer sua convivência nos ambientes sociais e profissionais, reguladores e, principalmente, constrangedores. Combinados tacitamente para lhe manter prisioneira dos tabus referentes ao desejo. Também com a participação de mulheres submissas, das famílias, ou do meio social. Todos a serviço do suposto direito do macho possessivo. Vc teve a sorte de encontrar alguém, com o qual viveu pelo tempo de uma geração inteira. Ele amou vc, e lhe ajudou a encontrar outros caminhos para sua libertação. Se ele não conseguiu libertar seu sexo para o prazer, deu-lhe os meios para começar sua libertação.

Agora, querida, nos encontramos, e enfrentamos juntos o peso dos sistemas simbólicos de dominação, dos quais somos vítimas involuntárias. Vc começa por libertar seu corpo… Você goza a liberdade do seu corpo, enquanto vai para além das sensações de satisfazer-se e satisfazer-me… Quanto ao sexo dos homem que possuiram seu corpo, o amor deveria ter ido além do entrelaçamento dos corpos. Seu gozo pode ir além, o prazer do sexo apenas reflete o que sua mente vai alcançando. Prazer com liberdade. É a sua libertação total que está em jogo, daqui por diante. Ninguém tem acesso a essa mulher que nasce em vc… a não ser sua vontade de abrir-se para alguém em quem confia. Há quem diga que os poetas e os místicos são capazes de conceber a essência da mulher. O corpo integral é a alma, o espírito, o físico, a psiquê, as utopias e distropias… Os poetas, “como os cegos, podem ver na escuridão”… E há escuridão maior do aquela onde encerraram o seu ser-mulher? Acho que você encontrou a luz para libertar aquela mulher… E nós vamos sair juntos por aí, guiados por essa luz…

Lembre-me, quando quiser, de lhe contar a “história do casulo e a borboleta…” Depois nos falamos. Beijos bem carinhosos… Ah, a noite de ontem foi extremamente real para mim… Vc é uma delícia de mulher, especialmente quando descreve seu gozo. Vc é excitante… me derruba… me extasia… me eleva às alturas.
sozinho no bosque[2]
O DESTINO DOS HOMENS E DAS MULHERES
Queria aprofundar meus sonhos,
tenho que buscá-los nas raízes,
e nas profundidades, aquelas da árvore do destino.
Vejo que o problema permanece aberto,
por não saber onde está a chave do enigma,
que é o destino do homem e da mulher.
Ainda não sei onde e como escavar,
para encontrar minhas verdadeiras raízes.
Mas, lado a lado com o homem real, sei,
posso me sentir mais ou menos forte.

O TOQUE DOS TEUS LÁBIOS                               

O toque dos teus lábios na minha boca,
Esses lábios que tão suaves e doces como mel
Encerram ternura e carícias excitantes
Tanto que meu coração quase para de pulsar.
O toque de suas mãos no meu corpo,
Faz minha cabeça girar
Sinto que o amor brilha em seus olhos
E chega o momento divino,
O êxtase toma conta de nós dois
À procura do gozo.
O toque de seus lábios nos meus,
Mel gostoso, amor
Brilha em seus olhos…

A TI SE IGUALAM AS CORES NO SOL DA MANHÃ
Queria tanto ver-te transparente, /
mesmo sob o tecido róseo que cobre tuas nádegas, /
cetim brilhando nas curvas dos teus seios, / estampas de rosas no lençol sobre tua cama,/
peito febril com o calor emanado nas curvas do teu corpo. /
Queria também tuas mãos, teus dedos percorrendo minhas costas /
tão quentes e ao mesmo tempo pele úmida e fresca, /
mas transtornada a ponto de não seres capaz de dar um passo, /
sonhando as estrelas que aparecem com a lua em tua janela. /
Enquanto as sombras na parede fazem-me mais atento /
ao que ainda veria nesta noite. /
Dentro do teu quarto sininhos dourados /
tocam soprados pela ventania dos nossos movimentos de amor. /
Teus orgasmos repetidos em gemidos incontroláveis…/
Eu te queria nua aconchegada nos meus braços, /
sonolenta, embriagada de licores, /
cheiros do amor e fumaça de incensos perfumados, /
cansada de tanto amor que te darei. /
Até que o sol da manhã rompa as cortinas do teu quarto/
iluminando o que restou /
nos lençóis amarfanhados depois de nossa noite de amor.

TE BEIJO COM UMA ROSA NA BOCA
Como alguém descreve o poeta sedutor
que beija uma mulher com uma rosa na boca,
quero também beijar tuas nádegas enquanto percorro o vale marrom entre elas,
com os lábios molhados com o mel
sorvido da flor entre suas pernas,
depois de ter feito minha língua tocar
o botão úmido entre as pétalas, no teu púbis,
encravadas nas linhas que desenham
o recanto divino que meus lábios percorrem,
enlouquecidos pelo tremular do teu corpo
enquanto navego pelas curvas do teu corpo.

UMA MULHER PASSA NA RUA…
Ver uma mulher passar na rua, desenvolta,
 / diz tanto da beleza quanto o mais belo dos poemas. / A carne dura e sutil solta sob o algodão, / ou do pijama de flanela, antes do amor,
pede mãos que saibam acariciar. / Você se vira para espiar suas costas,
 / suas nádegas, sua nuca, os contornos dos seus ombros, de suas pernas… / Enquanto ela caminha, seus olhos se regalam, / e você pode até chorar, comovido, diante da beleza do corpo feminino em movimento. / As qualidades do corpo feminino lembram doces / que devem ser lambidos como se lambe o mel / até o fim do orgasmo.

MERGULHANDO NO CORPO DE UMA MULHER
Não há coisa melhor que ficar perto de uma mulher nua,
e ver seu olhar,
enquanto sua respiração arfante aumenta,
no contato de minhas mãos nos seus seios.
Não há delícia maior
que mergulhar no corpo de uma mulher,
como quem afunda no mar calmo,
entre pernas femininas.
Nada me satisfaz mais que as sensações,
emanadas de um corpo feminino quando faz amor.
Adoro o corpo das mulheres,
Eis um hino divino, partitura da mais bela melodia,
escrita nas curvas,
impregnadas do cheiro que exala
do corpo de uma mulher.
Da cabeça aos pés,
enquanto orgasmos sonoros
se repetem a todo momento, incontroláveis,
como numa fuga de Johann Sebastian Bach,
executada num órgão de tubos.
O falo quer penetrar.
Estou falando da atração irrecusável de uma mulher,
na hora do amor.
Ouvindo, cheirando seu sexo, olhando seu corpo.
Uma mulher comporta a atração furiosa dos sentidos,
todos os sentidos ativos fazem disparar mais que olhares,
nas curvas macias do corpo de uma mulher…
Quando sugado entre suas pernas,
respiração ofegante, inebriado, drogado,
embriagado por sensações inexplicáveis,
meu falo é um pássaro indefeso,
preso nas mãos de uma mulher.
Tudo se precipita ao redor,
e me vejo como um meteoro cruzando os céus.
Se no vácuo onde desaparecem corpos celestes,
a todo momento… se nos braços de uma mulher,
que desejo para sempre… minha… minha…                                                                       
Uma estrela cadente que ninguém sabe onde vai cair,                                                     
deixa seus rastros na hora do orgasmo.
NÃO TE ESQUECERÁ
[|]

O PÁSSARO NA FENDA INCENDIADA 
Como um pássaro que procura a fenda
onde pode penetrar,
aponto o bico para dentro do teu corpo,
enquanto levantas as ancas,
e me ofereces teus peitos, indefesa,
para receber o ataque da ave endurecida.
Busco teu corpo, beijando teu ventre branco,
até que o mel jorre úmido das fontes
do teu gozo.
Como poderiam meus dedos inseguros
conseguir mais prazer para te dar,
sem que o pássaro glorioso se levante,
mastro erguido anunciado para apontar
entre tuas coxas, na região da plumagem
que ainda conservas, no delta abaixo do teu ventre?
O pássaro incendiado quererá abrigar-se
na umidade quente, que o convida para recebê-lo.
Que mais poderia querer senão servir
o corpo branco assaltado, coxas afastadas,
a fenda incendiada?
Por fim, resistências destruídas, assalto final,
subjugada, consumida pelo desejo,
esperas o bico do pássaro que se introduzirá,
para, enfim, explodir no calor do teu corpo.
Gozo fremente, tremulante, nos teus orgasmos sucessivos.
eros femeas (5)– 
UM POMAR DE DELÍCIAS
Não te envergonhes do teu corpo, mulher.
Tens o privilégio da beleza e da suavidade,
E eu te desejo.
Ao mesmo tempo que encerras o portal da alma,
Tu, mulher, tens o portal do paraíso no teu corpo.
Uma mulher é mais que uma fêmea,
E seu corpo contém as qualidades
Que não se encontrarão em nenhum lugar.
Porém, vejo no teu corpo um pomar de frutas saborosas,
É certo que teu corpo está no lugar certo,
Há alguma coisa em ti, mulher,
Refletida na natureza de flores e frutos saborosos,
Teu corpo é um pomar de delícias.
Posso dizer também que tua alma, mulher,
É um pomar de frutos doces.
——–
O QUE ESCONDES EM TEU CORPO?
Descrever-te é querer ver através da névoa.
Indizível plenitude e beleza que se vê
Nos contornos do teu corpo.
Vejo tua beleza, quando inclinas a cabeça,
Ou quando cruzas os braços para ocultar teus seios,
Quando inutilmente procuras esconder teu sexo
Nas pernas dobradas.
Então, antevejo uma fêmea vibrante,
Portadora dos doces frutos do amor,
Mistério que me faz desejar-te ainda mais.
Tens o que há de bom numa mulher,
Que deve ser saboreado como se saboreia a fruta
Do teu pomar de delícias.
———
FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
Mas fruta para um poeta saborear,
Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
Teu corpo inspira prazer, te desejo…
Não posso esperar para sugar
A polpa do figo doce e maduro
Aberto em teu ventre,
Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
Entre árvores frutíferas e floridas,
Flores esparramadas no chão.
Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
goiabas e cachos de uva.
Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
Muitas vezes… um gozo de cada vez.
*
ANTES QUE O DIA AMANHEÇA
Ouve, meu amor. Que silêncio!…
Até os pássaros da noite se calaram
para ouvir os nossos gemidos, nossos ais e suspiros,
quando nos amamos.
Fecha os olhos.
A noite não acabou.
Estamos tristes, depois da nossa noite de paixão.
Por fim, ouviremos uma melodia de Eric Satie,
depois da ternura, das carícias e dos gozos repetidos.
Ouviremos o piano como o autor sugeriu,
“dolorosamente” (douloureux),
“tristemente” (mélancoliquement),
ou “solenemente” (gravement),
como deve ser o amor.
Os amantes precisam amar com intensidade,
embora entrecortados pela melancolia,
porque terão que separar-se depois da noite de paixão.
Reina um solene silêncio,
convite para contemplar o céu infinito na hora do adeus.
Porém, não há paz, se somos obrigados a dizer adeus.
Nosso amor é tão triste!
Mas, vem comigo, meu amor!
Vem olhar a madrugada, antes do sol nascer.
Uma luz suave nos guiará na noite que termina.
Não estaremos sozinhos,
caminhando no sereno da madrugada.
As estrelas e a lua no quarto minguante
iluminarão os nossos passos…
os nossos caminhos.
E nos abraçaremos para os últimos beijos,
os derradeiros carinhos,
e lembraremos juntos o poeta Vinícius:
“Vem raiando a madrugada, há música no ar”.
A noite termina, e o dia está nascendo.
Meu amor, vem comigo…

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Minha amiga anônima:
Que bom! Vc se abriu, e foi ao ponto. Talvez o nó de toda a sua vida, que precisa ser desatado todos os dias (e, nesse ponto, o Mistério nos socorre), . Ouvi tudo, vários minutos. Vc tem a mente treinada para sintetizar suas experiências, e minha impressão é que sua analista está fazendo muito por vc. É possível que ela não compreenda o papel da religião na qual fomos formados, que nos adoece desde a infância, e pesa como um fardo de pedras pela vida toda, sob uma “ética” que não é ética (porque a ética existe como princípio de defesa, e não de destruição do ser humano). Mas pode ser que não. Que minha impressão seja falha, quanto à sua analista. Nossa educação fundamentalista, involuntária — pois a raiz da mesma não está no que nossos pais, nossa família, foram e continuam sendo pra nós…–, eles a receberam de outras fontes culturais. Vestidas com as roupas da alienação religiosa, tb ensinada nos educandários teológicos conservadores.

Vc tem lido sobre minha insistência a respeito da espontaneidade da Graça, antídoto para o veneno autoritário que nos inocularam desde a família, nas comunidades religiosas, e a própria sociedade secularizada (profana?): repressão do corpo, da alma e do coração. Para seu conforto, ou, quem sabe, mais inquietação quanto às experiências da hipocrisia fundamentalista — irmã gêmea do fascismo ideológico espontâneo reinante. Milhões de mulheres sofrem o que vc sofreu. E se conformam, se reprimem, e se submetem aos abusos autorizados pela cultura dominante (não só do homem, mas tb da mulher machista, patriarcalista, na comum leitura bíblica fundamentalista).

Não voltarei a perguntar sobre seu primeiro marido (e do segundo, nada perguntarei tb, porque vc mesma disse que o amou e por ele foi amada; porque é suficiente conservar essa memória de gratidão). Agora sei que o primeiro a violentava por anos a fio, sob chantagem religiosa, buscando o apoio da bíblia, do culto e da devoção fundamentalista (e vc já sabe que eu adoto outra leitura da mesma, apoiado no evangelho da compaixão, da misericórdia e da solidariedade de Deus através de Jesus). Enquanto lhe impunham submissão e conformismo, através de deveres e sacrifícios que a religião fundamentalista, e tb a conservadora, doutrinária, estabelecem.


Talvez, ainda ameacem sua essência existencial voltada para a liberdade, causando-lhe dor e sofrimento. Sob o chamado da Fé (que é a confiança incondicional na transcendência do amor de Deus), você vencerá tudo isso. Libertará seu corpo e sua essência para viver melhor. A mim, já perguntavam que livro eu escolheria, caso naufragasse e tivesse que viver isolado numa ilha por muitos anos. E eu respondia: bastaria a Carta aos Romanos, resumo de toda a Escritura, nos registros do Apóstolo da Graça: “nada nos separará do amor de Deus!”. [No meu livro Pedagogia da Ganância dedico várias pgs sobre o Sequestro do corpo, Abuso religioso – cap. 6 -; As Mulheres e Jesus, Família – pg 168 e 177. Sexo, pg. 45. Você poderia ler e me oferecer sua opinião?].

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[*][*][*][*][*]
ESBOÇOS ERÓTICOS
[1] OS CAMINHOS NO CORPO DE UMA MULHER
Os cabelos, o quadril, as curvas das nádegas e das pernas…
Mãos buscam as curvas do corpo feminino, distraídas,
embora todas difusas, sem direção certa, indicam
e percorrem os caminhos do corpo de uma mulher.
Minhas mãos também são errantes,
como o fluxo e refluxo das marés,
sem ferir a carne amorosa, inchada,
doendo, trêmula, linda,
vibrando durante o amor.
Ilimitados fluxos sensuais, quentes,
molham as mechas abaixo do botão do umbigo.
O mel tremulante do amor jorra como suco delirante,
depois que a aste ereta, ondulante, rígida,
trabalhou com firmeza e suavidade
a fenda na carne de uma mulher.
Até que a aurora venceu os amantes cansados,
nus sobre os lençóis amarfanhados, marcados,
pulando dentro do dia suculento
que preparará mais uma noite de amor.
Nenhuma descrição disponível.
[2] MERGULHANDO NO CORPO DE UMA MULHER
Não há coisa melhor que ficar perto de uma mulher nua,
e ver seu olhar,
enquanto sua respiração arfante aumenta,
no contato de minhas mãos nos seus seios.
Não há delícia maior
que mergulhar no corpo de uma mulher,
como quem afunda no mar calmo,
entre pernas femininas.
Nada me satisfaz mais que as sensações,
emanadas de um corpo feminino quando faz amor.
Adoro o corpo das mulheres,
Eis um hino divino, partitura da mais bela melodia,
escrita nas curvas,
impregnadas do cheiro que exala
do corpo de uma mulher.
Da cabeça aos pés,
enquanto orgasmos sonoros
se repetem a todo momento, incontroláveis,
como numa fuga de Johann Sebastian Bach,
executada num órgão de tubos.
O falo quer penetrar.
Estou falando da atração irrecusável de uma mulher,
na hora do amor.
Ouvindo, cheirando seu sexo, olhando seu corpo.
Uma mulher comporta a atração furiosa dos sentidos,
todos os sentidos ativos fazem disparar mais que olhares,
nas curvas macias do corpo de uma mulher…
Quando sugado entre suas pernas,
respiração ofegante, inebriado, drogado,
embriagado por sensações inexplicáveis,
meu falo é um pássaro indefeso,
preso nas mãos de uma mulher.
Tudo se precipita ao redor,
e me vejo como um meteoro cruzando os céus.
Se no vácuo onde desaparecem corpos celestes,
a todo momento… se nos braços de uma mulher,
que desejo para sempre… minha… minha…

Uma estrela cadente que ninguém sabe onde vai cair,

deixa seus rastros na hora do orgasmo.
[|]
[3]
UMA MULHER PASSA NA RUA…
Ver uma mulher passar na rua, desenvolta,
diz tanto da beleza quanto o mais belo dos poemas.
A carne dura e sutil solta sob o algodão,
ou do pijama de flanela, antes do amor,
pede mãos que saibam acariciar.
Você se vira para espiar suas costas,
suas nádegas, sua nuca, os contornos
dos seus ombros, de suas pernas…
Enquanto ela caminha, seus olhos se regalam,
e você pode até chorar, comovido,
diante da beleza do corpo feminino em movimento.
As qualidades do corpo feminino lembram doces
que devem ser lambidos até o fim de um orgasmo.
[4]
JE TE VEUX
[Melodia: Erik Satie / Letra apócrifa]
Anseio pelo precioso momento,
Quando vamos gozar juntos
Momentos felizes de amor e desejo,
Eu quero possuir-te inteira.
Não tenho pudores para dizer:
eu tenho apenas um desejo na vida,
Ficar perto de ti, estar juntinhos,
Viver o resto da vida
Sabendo que teu corpo é todo meu.
Que teus lábios, tua boca,
que teu coração, sejam meus.
E que a minha carne seja tua.

Eu entendo a aflição dos amantes
Cedo aos desejos dos corpos que amam
Faz-me teu amante, amor.
Que fiquemos longe da prudência,
Da tristeza e do medo dos reprimidos.
Anseio pelo precioso momento
Quando nos entregaremos ao prazer
dos corpos enlaçados e entranhados,
Eu te desejo…

Sim, vejo em teus olhos
A promessa celestial
De um coração amoroso.
Vem receber minhas carícias,
Nossos corpos enlaçados, para sempre,
Atiçados pelo mesmo fogo,
Alimentando as mesmas chamas,
em um sonho de amor ardente.
Vamos, juntos, entrecruzar nossas almas
E nossos corpos aquecidos pelo amor.

Eu entendo a aflição dos amantes
Cedo aos desejos dos corpos que amam.
Faça-me teu amante, meu amor.
Que fiquemos longe da prudência,
da tristeza e do medo dos reprimidos.
Anseio pelo precioso momento,
Quando nos entregaremos ao prazer
Dos corpos enlaçados, entranhados,
Eu te desejo, meu amor
[*][*][*][*]
*********************
[5]

“Una mujer debe ser soñadora, coqueta y ardiente, para ser una mujer”(Canta João Gilberto)
UNA MUJER
La mujer que
Al amor no se asoma
No merece llamarse mujer
Es cual flor que
No esparce su aroma
Como un leño que
No sabe arder
La passion has
Un magico idioma
Que con besos
Se debe aprender
Puesto que una mujer
Que no sabe querer
No merece llamarse mujer
La mujer debe ser
Soñadora coqueta y ardiente
Debe darse al amor
Con frenético ardor
Para ser una mujer
[Paul Misraki/Ben Molar]


UM POMAR DE DELÍCIAS

Não te envergonhes do teu corpo, mulher.
Tens o privilégio da beleza e da suavidade,
E eu te desejo.
Ao mesmo tempo que encerras o portal da alma,
Tu, mulher, tens o portal do paraíso no teu corpo.
Uma mulher é mais que uma fêmea,
E seu corpo contém as qualidades
Que não se encontrarão em nenhum lugar.
Porém, vejo no teu corpo um pomar de frutas saborosas,
É certo que teu corpo está no lugar certo,
Há alguma coisa em ti, mulher,
Refletida na natureza de flores e frutos saborosos,
Teu corpo é um pomar de delícias.
Posso dizer também que tua alma, mulher,
É um pomar de frutos doces. 
——–
O QUE ESCONDES EM TEU CORPO?
Descrever-te é querer ver através da névoa.
Indizível plenitude e beleza que se vê
Nos contornos do teu corpo.
Vejo tua beleza, quando inclinas a cabeça,
Ou quando cruzas os braços para ocultar teus seios,
Quando inutilmente procuras escondes teu sexo
Nas pernas dobradas.
Então, antevejo uma fêmea vibrante,
Portadora dos doces frutos do amor,
Mistério que me faz desejar-te ainda mais.
Tens o que há de bom numa mulher,
Que deve ser saboreado como se saboreia a fruta
Do teu pomar de delícias.
———
FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
Mas fruta para um poeta saborear,
Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
Teu corpo inspira prazer, te desejo…
Não posso esperar para sugar
A polpa do figo doce e maduro
Aberto em teu ventre,
Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
Entre árvores frutíferas e floridas,
Flores esparramadas no chão.
Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
goiabas e cachos de uva.
Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
Muitas vezes… um gozo de cada vez.

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eros femeas (3)
ME SUGAS PARA DENTRO DO TEU VENTRE
Quero devolver teus segredos /
Colando minha boca na tua boca ,/
Para que não se perca nenhuma palavra do meu desejo/.
Soprarei minha sensualidade no teu corpo, /
Enquanto minhas mãos buscam teus seios macios,/
E minhas narinas recebem tua respiração, /
Oxigênio para minha alma. /
No teu ventre, meu pássaro sedento /
Do mel que brota no teu jardim de delícias,/
De tantas flores , de tantas cores,/
de tantos frutos que produzem o teu doce,/
Meu passarinho procura a flor aberta do teu sexo./

Quer sorvê-la e impedir que teu mel se perca /
Sabendo que não consegues evitar as ondas/
Do prazer que faz vibrar teu corpo/,

Nem represar a cachoeira das águas,
das quais quero beber./
Enquanto a carne aberta
entre tuas pernas me suga/
Para dentro do teu ventre,  suavemente./
E me envolvo num turbilhão,/
Que também provoca tremores em teu corpo…
Enquanto teu gozo explode/
Em torno do pássaro saciado que nem voar pode mais…/
Depois do amor, quero repousar em teus braços.

eros femeas (5)

A TI SE IGUALAM AS CORES DO SOL DA MANHÃ

A TI SE IGUALAM AS CORES NO SOL DA MANHÃ
Queria tanto ver-te transparente, /
 mesmo sob o tecido róseo que cobre tuas nádegas,/cetim brilhando nas curvas dos teus seios, / estampas de rosas no lençol sobre tua cama,/ peito febril com o calor emanado nas curvas do teu corpo. / Queria também tuas mãos, teus dedos percorrendo minhas costas / tão quentes e ao mesmo tempo pele úmida e fresca,/ mas transtornada a ponto de não seres capaz de dar um passo, / sonhando as estrelas que aparecem com a lua em tua janela./Enquanto as sombras na parede fazem-me mais atento / ao que ainda veria nesta noite/ Dentro do teu quarto sininhos dourados / tocam soprados pela ventania dos nossos movimentos de amor. /Teus orgasmos repetidos em gemidos incontroláveis…/ Eu te queria nua aconchegada nos meus braços, / sonolenta, embriagada de licores, / cheiros do amor e fumaça de incensos perfumados, / cansada de tanto amor que te darei ./ Até que o sol da manhã rompa as cortinas do teu quarto/ iluminando o que restou / nos lençóis amarfanhados depois de nossa noite de amor.

TE BEIJO COM UMA ROSA NA BOCA
Como alguém descreve o poeta sedutor
que beija uma mulher com uma rosa na boca,
quero também beijar tuas nádegas enquanto percorro o vale marrom entre elas,
com os lábios molhados com o mel
sorvido da flor entre suas pernas,
depois de ter feito minha língua tocar
o botão úmido entre as pétalas, no teu púbis,
encravadas nas linhas que desenham
o recanto divino que meus lábios percorrem,
enlouquecidos pelo tremular do teu corpo
enquanto navego pelas curvas do teu corpo
.

UMA MULHER PASSA NA RUA…
Ver uma mulher passar na rua, desenvolta,
 / diz tanto da beleza quanto o mais belo dos poemas. / A carne dura e sutil solta sob o algodão, / ou do pijama de flanela, antes do amor,
pede mãos que saibam acariciar. / Você se vira para espiar suas costas,
 / suas nádegas, sua nuca, os contornos dos seus ombros, de suas pernas… / Enquanto ela caminha, seus olhos se regalam, / e você pode até chorar, comovido, diante da beleza do corpo feminino em movimento. / As qualidades do corpo feminino lembram doces / que devem ser lambidos como se lambe o mel / até o fim do orgasmo.

TINHA QUE SER ASSIM…

Padrão

faixa - folhas púrpura
(-)
[POEMAS DAS CORES]
DO AZUL
Muita saudade dos tons azuis,
não só do céu azul celeste,
mas dos reflexos nos teus olhos, amada.
Azul é memória das aguas azuis
descendo nas serras do lugar onde nasci.
Outrora, foi um vale silencioso no pé da montanha.
Depois, um lugar onde ninguém morava mais…
Das paisagens alegres,
a serra foi substituída
por caminhões transportando o granito
retirado de suas entranhas.
Minhas memórias por demais suaves,
dos córregos de águas azuis
correndo por entre as pedras,
hoje parecem artificiais,
diante da realidade bruta da natureza
que não respira mais o ar azul das colinas e árvores
que me viram nascer.

TINHA QUE SER ASSIM…
Vivia mergulhado na grande corrente da vida,
não sentia o latejar do mundo,
não sabia que estrelas são incêndios no firmamento.
Observava-as de longe, frias e silenciosas,
pois assim me pareciam.
Não sabia que as rolinhas e os sabiás,
à margem dos córregos da minha infância na serra,
voavam, depois arrulhavam, cantando de dia e de noite.
por causa da chegada da primavera.
Não perguntava  por quê a relva fica coberta de orvalho
banhando as flores quando chega a primavera…
Nem sabia que os frutos doces são colhidos
quando chega o outono.
Que as aves voam e as serpentes rastejam,
no verão, homenageando o sol.
Nem percebia que o inverno é frio,
porque têm que ser assim.
Que os seres vivos nascem e crescem,
e que na primavera chegam as andorinhas,
e no verão elas se vão. É sempre assim…
Não atinava que viver é mergulhar
na correnteza da vida,
e participar do pulsar do mundo.
Olhar tudo ao redor com veneração,
tratar com ternura todas as criaturas,
sentir gratidão e reverência por tudo.
Porque a vida nasce e se apaga ao nosso redor,
porque é assim.
Agora sei porque chegaste em minha vida,
última esperança… já eras minha sem eu saber.
Sou teu homem, e tu minha mulher.
Encontrar-te devolveu-me a adolescência.
Não sei onde estavas durante todos esses anos.
Tu me chegaste sem dizer donde vinhas.
Beijei tuas mãos com calma e ternura.
Com gratidão.
Porque foste em minh’alma como o amanhecer
de um novo dia.
Era outono, agora é primavera.
Foste pra mim a primavera que tinha de ser.
flores na água 2

…………………..
fim de agosto (2)[-]

 

POEMAS DAS CORES

Padrão

faixa - folhas púrpura
(-)
[POEMAS DAS CORES]
DO AZUL
Muita saudade dos tons azuis,
não só do céu azul celeste,
mas dos reflexos nos teus olhos, amada.
Azul é memória das aguas azuis
descendo nas serras do lugar onde nasci.
Outrora, foi um vale silencioso no pé da montanha.
Depois, um lugar onde ninguém morava mais…
Das paisagens alegres,
a serra foi substituída
por caminhões transportando o granito
retirado de suas entranhas.
Minhas memórias por demais suaves,
dos corregos de águas azuis
correndo por entre as pedras,
hoje parecem artificiais,
diante da realidade bruta da natureza
que não respira mais o ar azul das colinas e árvores
que me viram nascer.
flores na água 2

…………………..
fim de agosto (2)[-]

A explosão da solidão

Padrão

A EXPLOSÃO DA SOLIDÃO
Em 1973, o americano Robert King foi preso pela terceira vez. A polícia o levou para a cadeia de Nova Orleans, onde ele conheceu membros dos Panteras Negras: um grupo que misturava ativismo com violência e havia matado pelo menos três policiais nos EUA. King se juntou a eles numa greve de fome para exigir melhores condições carcerárias. Não conseguiu, e foi transferido para a Penitenciária Estadual da Louisiana, também conhecida como Angola (no século 19, lá ficava uma plantação onde trabalhavam escravos trazidos desse país). Ao chegar, foi colocado na solitária – na qual passaria os 29 anos seguintes. Foram três décadas incrivelmente, absurdamente, sozinho. King recebia as refeições por baixo da porta e só podia sair do cômodo, de 2×2,5 metros, uma hora por dia (quando ficava isolado numa gaiola de arame farpado, sem poder falar ou se aproximar dos outros presos).

Em 2001, aos 59 anos de idade, ele foi solto. Ao tentar se readaptar à vida em sociedade, descobriu que não conseguia mais reconhecer rostos nem seguir rotas para ir a algum lugar, e se tornou objeto de interesse da ciência – em novembro do ano passado, King foi convidado a contar sua história no congresso da Sociedade Americana de Neurociência. O caso dele é notável porque nunca um ser humano havia sido submetido a um período de isolamento tão longo e mesmo assim sobrevivido com lucidez para contar como foi. A solitária geralmente enlouquece suas vítimas, e há razões concretas para isso. Estudos com ratos de laboratório revelaram que um mês isolado deforma o hipocampo (região cerebral que coordena a formação de memórias), desregula a atividade da amígdala (ligada ao medo e à ansiedade), mata 20% dos neurônios do cérebro – e, após o primeiro mês, começa a destruir as conexões entre os que sobraram. Um mês representa bem mais tempo, na vida de um rato, do que um mês na vida humana. Mas, em ambos os casos, a conclusão é a mesma: isolamento prolongado tem conse-
quências neurológicas.

Ficar sozinho pode fazer muito mal. E não só para quem está trancafiado numa cela. Você já deve ter se sentido solitário, e sabe o quão desagradável isso é. A solidão pode ser objetiva, ou seja, derivada de um isolamento real, ou subjetiva, uma sensação criada pela mente (esse tipo de solidão se manifesta, por exemplo, quando nos sentimos sós mesmo estando cercados de outras pessoas). Em ambos os casos, ela é um alerta do organismo para que busquemos a companhia de outras pessoas, o que aumenta nossas chances de sobrevivência. Isso era tão verdadeiro na Pré-História (o homem das cavernas precisava da ajuda do grupo para caçar e se defender de predadores) quanto é no mundo de hoje – se você não fizer networking, fica muito mais difícil conseguir um bom emprego. A novidade é que, por motivos ainda não elucidados, a solidão parece estar aumentando – a ponto de se tornar uma epidemia. Nos EUA, nada menos que 76% das pessoas apresentam níveis moderados ou altos de solidão, segundo um estudo da Universidade da Califórnia1. Na década de 1980, cada americano tinha em média 2,94 amigos “do peito”. Em 2011, a média nacional havia caído para apenas 2,03 amigos próximos. Na Inglaterra, 66% da população apresenta sintomas de solidão crônica; e quase 50% das pessoas acham que o mundo está ficando mais solitário.

Não há números a respeito no Brasil, mas os indicadores mais relevantes apontam na mesma direção. Entre 2004 e 2014, o número anual de divórcios aumentou 250% (12 vezes mais que o aumento no número de casamentos). Entre 1991 e 2019, a quantidade de pessoas que moram sozinhas subiu 340% (dez vezes mais que o crescimento da população como um todo).

Em suma: a solidão é onipresente, e está crescendo. O problema é que ela mata. Solitários têm 29% mais chances de sofrer de doenças cardíacas; 32% mais risco de ter um AVC; e são 200% mais propensos a desenvolver Alzheimer. Em mulheres solitárias, a reincidência de câncer de mama é 40% maior, e a propensão à letalidade chega a 60%. Quem já experimentou um grau elevado de solidão tem três vezes mais chances de cair em depressão2. Somando todos os fatores envolvidos, a solidão crônica (ela é medida pelo UCLA Loneliness Scale, teste que foi desenvolvido pela Universidade da Califórnia e você pode fazer no final desta página) aumenta em até 50% o risco de morrer, segundo uma pesquisa publicada pela psicóloga americana Julianne Holt-Lunstad, que analisou os dados de 148 estudos3.

A solidão é mais letal do que a obesidade (que eleva em 20% o risco de morrer) e o alcoolismo (30% a mais de risco), e consegue ser tão nociva quanto o tabagismo; é tão mortal quanto fumar 15 cigarros por dia. Mas quase ninguém se dá conta disso. “Apesar de estar associada a altos índices de mortalidade, a solidão é uma questão de saúde pública amplamente ignorada”, afirma a psicóloga Michelle Lim, do Centro de Pesquisas em Ciências Cerebrais e Psicológicas da Universidade de Swinburne, na Austrália, e especialista no assunto.

Mas como a solidão, um fenômeno psicológico, pode ter efeitos tão profundos sobre o resto do organismo, a ponto de matar? E por que ela se tornou uma epidemia no mundo moderno?

1. High prevalence and adverse health effects of loneliness in community-dwelling adults across the lifespan. Ellen E. Lee e outros, 2018.
2. Loneliness and social isolation as risk factors for mortality: a meta-analytic review. Julianne Holt-Lunstad e outros, 2015.
3. Social Relationships and Mortality Risk: A Meta-analytic review. Julianne Holt-Lunstad e outros, 2010.

(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
A vida sem afeto

Em 1966, o ditador romeno Nicolae Ceausescu proibiu a contracepção e o aborto, criando um sistema de premiação às famílias que procriassem. Para ele, quanto mais pessoas no país, melhor. Sem condições econômicas, porém, os pais não davam conta de criar os filhos. Milhares de recém-nascidos iam parar em orfanatos. Neles, uma pessoa cuidava de pelo menos 20 crianças. Não havia abraços ou sorrisos – e as relações afetivas eram paupérrimas. Quando esses orfanatos foram expostos ao mundo, em 1989, agentes estrangeiros de saúde encontraram crianças com 3 anos de idade que não choravam e não falavam. Além disso, alguns tinham apenas 30% do tamanho ideal e estavam muito atrasados em desenvolvimento motor e cerebral.

Guardadas as devidas proporções, o que aconteceu na Romênia encontra eco numa experiência feita por cientistas da Universidade James McGill, nos EUA, com ratos de laboratório4. Os pesquisadores formaram dois grupos de cobaias. No primeiro, as fêmeas tinham liberdade para cuidar de seus bebês. No outro, os filhotes tinham pouco contato com as mães – algo como as crianças romenas, que ficaram conhecidas como “órfãos de Ceausescu”. Os ratinhos que haviam passado a infância sozinhos apresentavam sinais de depressão e altos níveis de corticosterona, um hormônio liberado em situações de estresse. “Em humanos, o processo é semelhante”, diz o psiquiatra Pedro Antônio Lima, do Instituto do Cérebro da PUC-RS.

O isolamento social faz o corpo humano aumentar a produção de cortisol, um hormônio similar à corticosterona. E isso, como mostrou um extenso estudo publicado pelo neurologista John Cacioppo, da Universidade de Chicago5, tem dois grandes efeitos sobre o organismo. O primeiro, ainda não plenamente compreendido, é enfraquecer o sistema imunológico. O cortisol aumenta a quantidade de neutrófilos, um tipo de glóbulo branco, e diminui o de linfócitos (outra categoria de células de defesa). Isso possivelmente desequilibra o sistema imunológico. O outro efeito do cortisol é aumentar o grau de inflamação nos tecidos do corpo. A longo prazo, isso danifica os órgãos e pode estar relacionado ao surgimento de diabetes, aterosclerose (endurecimento das artérias), doenças neurológicas e até na transformação de tumores em metástases.

Além disso, a rejeição e a falta de contato social atingem as mesmas regiões do cérebro ativadas pela dor física. Foi o que constataram pesquisadores da Universidade do Kentucky, nos EUA, após fazer uma experiência com um jogo de computador chamado Cyberball. Na primeira etapa, o participante interage com outros jogadores, que lhe passam a bola. Na fase seguinte, o voluntário é excluído dessa troca de passes – sem saber que se trata de uma atitude proposital. Exames de neuroimagem revelaram que essa rejeição causava um aumento de atividade na ínsula anterior, região do cérebro que é ativada quando alguém está com náusea ou dor, e do cíngulo anterior, ligado à sensação da dor.

A descoberta foi tão surpreendente que os pesquisadores resolveram testar uma hipótese: se a dor da solidão atua no organismo tal qual a dor física, será que ela pode ser combatida com analgésicos? Então eles fizeram um estudo6 que avaliou o efeito do paracetamol em pessoas solitárias. 62 voluntários tomaram um comprimido ao acordar e outro ao dormir durante três semanas. Metade deles estava consumindo 500 mg do analgésico; os demais, placebo. Os participantes registravam seu estado de espírito em um diário. Quem ingeriu o medicamento teve menos solidão. É um resultado instigante, mas não significa que você deva se automedicar com paracetamol (ou qualquer outro remédio) quando estiver se sentindo só. Inclusive porque, em algum nível, a sensação de solidão independe de qualquer ação sua: você já nasce com ela.

Todo mundo precisa de convívio social – mas essa necessidade é diferente para cada pessoa. Tem gente que fica bem sozinha, e já se satisfaz com um pouquinho de interação com outras pessoas; e também há quem procure a companhia dos outros em todos os momentos possíveis, e se sinta solitário após poucas horas sem ela. Uma pesquisa liderada pelo psiquiatra Abraham Palmer, da Universidade da Califórnia7, analisou o genoma e o comportamento de 10.760 voluntários e fez uma descoberta inédita: a genética de uma pessoa é responsável por 14% a 27% do grau de solidão que ela sente. Outro estudo do tipo, feito na Holanda, acompanhou 513 pares de irmãos gêmeos durante duas décadas8 e chegou a um número mais alto: segundo ele, a genética determina 48% do grau médio de solidão que cada pessoa experimenta durante a vida. Os dados divergem, mas apontam na mesma direção.

A epigenética da solidão

Hitler estava perdendo a guerra. O desembarque dos Aliados na Normandia, em junho de 1944, mudou a relação de forças na Europa. Parte da Holanda foi libertada, e os trabalhadores ferroviários no resto do país, que permanecia sob domínio alemão, decidiram entrar em greve. A ideia era atrapalhar a movimentação de tropas e suprimentos do exército nazista, e ajudar o avanço dos Aliados. Não deu certo. O país continuou sob as garras do Führer, e ele resolveu se vingar barrando a entrada de comida. Tinha início a Fome Holandesa, um dos episódios mais cruéis da história. Conforme os alimentos foram acabando, a ração diária caiu para níveis alarmantes: em fevereiro de 1945, cada adulto de Amsterdã tinha acesso a míseras 500 calorias por dia. A fome durou até o final da guerra, e afetou 4,5 milhões de pessoas. Mas as consequências persistem até hoje – porque afetaram o DNA do povo holandês.

As mulheres que estavam grávidas durante aquele período, e passaram fome durante a gestação, deram à luz filhos mais propensos a vários problemas de saúde de base genética, como obesidade e diabetes. Isso aconteceu por causa das chamadas alterações epigenéticas, um fenômeno que é desencadeado por fatores externos e tem o poder de alterar o funcionamento do DNA. Quando uma pessoa é exposta de forma crônica a certas coisas, como fome ou estresse, o organismo dela reage ligando e desligando conjuntos de genes. A sequência de “letras” que compõem o DNA não é reescrita; ela continua lá, inalterada. Mas algumas delas são metiladas, ou seja, se ligam a moléculas de radical metil (CH3). Isso altera o funcionamento daqueles genes, tornando-os mais ou menos ativos – e essas mudanças passam para os descendentes.

Como o povo holandês não tinha o que comer, os corpos das pessoas sofreram alterações epigenéticas que reduziram seu gasto calórico e os tornaram capazes de absorver mais gordura dos alimentos. E essas modificações, como comprovou um estudo publicado ano passado9, foram transferidas para os bebês nascidos naquela época. Experiências feitas em ratos de laboratório constararam que outros fatores além da fome, como estresse, sedentarismo ou obesidade, provocam alterações epigenéticas10 que passam para os descendentes. Em tese, níveis crônicos de solidão também poderiam desencadear esse fenômeno – possibilidade que começou a ser discutida em 2015, em um artigo assinado por sete pesquisadores especializados na neurologia e na genética da solidão11. Mas será necessário fazer mais estudos para comprovar a tese.

E, mesmo se ela for comprovada, os fatores ambientais (como, onde e com quem uma pessoa vive) continuarão sendo determinantes. “Não é como se os genes de algumas pessoas pudessem forçá-las a ser solitárias. Eles influenciam”, diz Palmer, da Universidade da Califórnia. A sociedade é, e continuará sendo, o elemento crucial. Mas ela também está mudando – nem sempre para melhor.

9. DNA methylation as a mediator of the association between prenatal adversity and risk factors for metabolic disease in adulthood. Elmar Tobi e outros, 2018.
10. Implication of sperm RNAs in transgenerational inheritance of the effects of early trauma in mice. Isabelle Mansuy e outros, 2014.
11. The Genetics of Loneliness: Linking Evolutionary Theory to Genome-Wide Genetics, Epigenetics, and Social Science. Luc Goossens e outros, 2015.

(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
A ideologia de estar só

Somos animais sociais. Em estado selvagem, só conseguimos sobreviver se estivermos em grupo. Um tigre solitário se vira bem. Um humano desgarrado tende a virar comida do tigre. Por isso, nossos antepassados hominídeos desenvolveram um profundo senso de comunidade, que está impresso em nosso DNA. “A evolução selecionou genes que favoreciam o prazer da companhia, e produziam inquietude quando se estava sozinho”, afirma John Cacioppo, neurocientista da Universidade de Chicago e especialista no estudo da solidão.

Até a Idade Média, as salas das casas eram usadas para tudo: cozinhar, comer, receber convidados, fazer negócios e, à noite, dormir. (É por isso, aliás, que as peças de mobília se chamam móveis.) Mas a revolução industrial mudou tudo. “A casa se transformou num refúgio da individualidade”, diz José Machado Pais, sociólogo da Universidade de Lisboa e autor do livro Nos Rastros da Solidão: deambulações sociológicas. Isso pode ser notado no próprio nome que damos ao tipo mais comum de residência moderna: “apartamento”, palavra que significa “separação”. Na década de 1950, o sociólogo americano Robert Stuart Weiss já investigava os efeitos dos padrões modernos de trabalho e comportamento. “A perda dos encontros naturais rotineiros na varanda, nas ruas ou na drogaria da esquina tornam mais difíceis o intercâmbio de experiências e a resolução de problemas”, escreveu ele no livro Loneliness: the experience of emotional and social isolation, lançado em 1973. Weiss parecia saber o que estava por vir. A solidão física se propaga para as relações econômicas, e acaba contaminando até a cultura. Isso deu origem a uma espécie de ideologia da solidão, em que o individualismo é sinal de bom gosto, sucesso e bem-estar.

Depois piorou. As pessoas sempre dependeram umas das outras, e continuam dependendo. Mas essa relação está cada vez mais rasa e efêmera. “A interação no mercado e na economia de hoje geralmente tem vida curta, sem senso de obrigação como havia antes”, observa Victor Tan Chen, sociólogo da Virginia Commonwealth University e autor do livro Cut Loose – Jobless and hopeless in an unfair economy (“Cortado: sem emprego e esperança numa economia injusta”, não lançado no Brasil). Se antes as pessoas conheciam o jornaleiro da esquina, os motoristas do ponto de táxi e o dono da mercearia do bairro, hoje são atendidas por funcionários anônimos – ou por aplicativos. E quem está do outro lado, dirigindo Uber ou entregando comida do iFood, também não conhece as pessoas que está atendendo. Na cidade grande, ninguém conhece ninguém.

E mesmo entre as pessoas que conhecemos, a distância tende a aumentar – pois temos cada vez menos pontos em comum com elas. Você já deve ter reparado que as pessoas estão discordando cada vez mais, e de forma mais intensa. E os poucos pontos em que muita gente concorda (como “a exposição da Tarsila do Amaral no Masp é imperdível”, ou qual a série mais legal do momento no Netflix, por exemplo) são rapidamente descartados, sucedidos por outras novidades culturais. Não duram tempo bastante, ou carregam peso suficiente, para construir ou fortalecer vínculos sociais. Antes você ficava amigo das pessoas que gostavam de ouvir e ver as mesmas coisas que você. Hoje, há muito mais opções culturais – e, inevitavelmente, menos pontos de convergência entre elas. É maravilhoso ter opções. Mas isso também possui um lado negativo, que é possuir cada vez menos coisas em comum com os outros. “Quando uma pessoa percebe que deixou de ter significado para os outros, ela se descobre em solidão”, diz Machado Pais.

Estamos mais sozinhos. Mas o corpo e a mente continuam precisando de companhia. “Por mais saudáveis e tecnológicas que as nossas sociedades tenham se tornado, sob a superfície somos as mesmas criaturas vulneráveis que se aconchegavam juntas contra o terror das tempestades 60 mil anos atrás”, diz Cacioppo. Somos só um bando de primatas assustados. Mortos de medo de ficar sozinhos, e do mundo solitário que acabamos construindo.

Nem sempre percebemos isso. E então vamos vivendo sem dar muita atenção aos outros, fumando 15 cigarros metafóricos por dia, morrendo aos poucos sem saber. Um destino terrível. Mas há alguns caminhos para escapar dele. Se você se sente só, o primeiro passo é admitir isso. Vale também buscar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra para entender os eventuais motivos pessoais, e profundos, que podem ter levado você a essa situação (como ansiedade ou depressão, por exemplo).

De toda forma, segue aqui uma dica que serve para todos os humanos: pare e pense nos sentimentos que você tem em comum com as outras pessoas. A começar por este: elas, assim como você, também estão se sentindo meio isoladas. Percebeu? Todo mundo anda meio solitário – e, exatamente por isso, você não está sozinho.

(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
O homem mais solitário do mundo

Ele não tinha ninguém com quem falar. Mesmo.

Em 1904, depois de visitar o Congo, um missionário americano levou para os EUA o pigmeu congolês Ota Benga, um membro do povo batwa. A ideia era exibi-lo na Feira Mundial de Saint Louis e depois mandá-lo de volta. Antes de retornar para casa, contudo, o rapaz recebeu a notícia de que sua tribo havia sido dizimada. Ele era o último dos batwas, para sempre e no planeta inteiro.

É difícil até imaginar o grau de solidão que Ota deve ter sentido. Mas a resposta que o mundo deu a ele com certeza a tornou ainda maior. O pobre pigmeu foi levado para o Zoológico do Bronx, em Nova York, onde virou atração ao lado de chimpanzés. Diariamente, mais de 40 mil pessoas conferiam in loco aquela “criatura” exótica que passava o tempo atirando flechas num horizonte perdido.

O pigmeu desenvolveu um comportamento errático. Acabou libertado do zoológico, mas nunca se encaixou em nenhum lugar, transitando entre orfanatos e lares adotivos. Seus dentes pontudos, afiados seguindo a tradição batwa, chegaram a ser cobertos com capas. Doze anos depois do exílio, e sem nenhuma perspectiva de retornar ao Congo, Ota Benga arrancou a capa que cobria seus dentes, acendeu uma fogueira ritualística e se matou com um tiro no coração. A vida não fazia sentido daquele jeito.

John Cacioppo, neurocientista da Universidade de Chicago, comenta o caso em seu livro Solidão – A natureza humana e a necessidade de vínculo social. Para ele, o isolamento elimina a sensação de propósito da vida de qualquer pessoa. “Os resultados disso podem ser devastadores não apenas para os indivíduos, mas também para as sociedades”, escreve.

(Rafael Sica e Yasmin Ayumi/Superinteressante)
Teste: qual o seu grau de solidão?

Descubra com o UCLA Loneliness Scale, teste criado pela Universidade da Califórnia e adotado como padrão nos estudos sobre o tema. Vá somando a sua pontuação e confira o resultado no final.

1. Você se sente infeliz ao fazer coisas sozinho(a)?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

2. Você sente que não tem ninguém a quem recorrer?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

3. Você acha insuportável ficar sozinho?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

4. Você sente que ninguém te entende?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

5. Você fica esperando as pessoas responderem às suas mensagens?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

6. Você se sente completamente só?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

7. Você tem dificuldade em falar com as pessoas em volta?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

8. Você sente falta de companhia?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

9. Você tem dificuldade em fazer amizades?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos

10. Você se sente excluído pelas outras pessoas?

Nunca: 1 ponto
Raramente: 2 pontos
Às vezes: 3 pontos
Sempre: 4 pontos
RESULTADO

20 a 24 pontos Normal
25 a 29 pontos Solidão moderada
30 ou mais pontos Solidão intensa
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EU PRECISO…

Padrão
EU PRECISO…

|
paisagem do interiorEU PRECISO…
Preciso abraçar seu corpo,
e sair pelas estradas depois da chuva, 
 voar entre montanhas,
de mãos dadas com você.
Ganhar o espaço, descer escorregando
nas cachoeiras, ver o arco-íris outra vez.
Preciso livrar-me, de uma vez por todas,
das nuvens negras, e da fumaça de óleo queimado,
ver limpidamente uma estrela no céu sem poluição,
e poder perguntar sobre quem pintou o arco-íris
entre as nuvens.
Preciso ver o mundo sem portas de vidro,
sair e caminhar livre e solto,
empurrado pela brisa suave, ouvindo música.
Preciso seguir uma trilha que me leve
aonde esconderam a verdade,
e libertá-la,
andando na floresta, ou perdido nas ruas da cidade.
Preciso me banhar de novo na água limpa
dos córregos da minha infância.
Preciso beber água da cascata,
fazer copos com folha de taioba,
comer fruta-pão assado na brasa.
Preciso ver de novo gotas de orvalho em cristais
na folha larga e verde da bananeira.
Caminhar pelas encostas das colinas no lugar onde nasci,
sentir-me nas asas do vento,
colhendo morangos silvestres na beira do caminho.
Preciso ver de novo avenidas 
cobertas de árvores e flores,
nas ruas e praças hoje invadidas por metais,
e gente portando celulares, ruidosos,
nas calçadas e no trânsito,
falando consigo mesmas, surtadas,
como  loucos e delirantes esquizofrênicos.
Preciso imaginar novamente, na face da lua,
o cavaleiro imponente destruindo o dragão da maldade
,
e ver o sol levantar por trás das colinas.
Preciso de um refúgio, que faça sentir-me seguro,
como me sentiria nos braços da mulher amada…
[Derval Dasilio]

 

ESBOÇOS SENSUAIS [Erotic Poetry]

Padrão
ESBOÇOS SENSUAIS [Erotic Poetry]
giordana imana. bico de pena
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CANTOS ERÓTICOS 

Sonhando com você, nossa vida na última curva,
Sei que posso ir ao fundo de qualquer profundidade.
Abismos podem ser atravessados na ponte dos desejos.
Por você posso inventar caminhos e pontes, qualquer mundo,
Basta sonhar com você.
Ao sabor dos sonhos, posso encher um mar inteiro,
Olhar as fontes, donde correm as águas que escorrem pelas serras.
Posso amar, abraçar e afagar seu corpo,
Dos seus beijos hálitos doces emanam.
Posso morar nas nuvens, num lugar pertinho do céu,
Basta sonhar com você.
E no aconchego da pele na pele, carne com carne,
Entender que, como mulher, você foi feita pra mim,
Do jeito que foi inventado o prazer.
Você é pra mim como um dia de sol,
Com sua luz sou capaz de construir usinas,
Usando a energia que vem de você.
A força da alegria sai das turbinas que me trazem a você.
E criam a pulsão da existência que me impulsiona dia e noite sem parar.
Dobrando as curvas da vida, mesmo quando já estiver de partida,
Verei você, e sei o meu caminho, que não foi um caminho sozinho.
Porque você me recebeu no seu caminho, anda comigo nos meus sonhos.
Abismos podem ser atravessados na ponte dos desejos.
Por você posso inventar caminhos e pontes, qualquer mundo
Basta sonhar com você.  

  • O PÁSSARO NA FENDA INCENDIADA DO TEU CORPO 
    Como um pássaro que procura as fendas
    onde pode penetrar,
    aponto o bico para dentro do teu corpo,
    enquanto levantas as ancas,
    e me ofereces teus peitos, indefesa,
    para receber o ataque da ave endurecida.
    Busco teu corpo, beijando teu ventre branco,
    até que o mel jorre úmido das fontes
    do teu gozo.
    Como poderiam meus dedos inseguros
    conseguir mais prazer para te dar,
    sem que o pássaro glorioso se levante,
    mastro erguido anunciado para apontar
    entre tuas coxas, na região da plumagem
    que ainda conservas, no delta abaixo do teu ventre?
    O pássaro incendiado quererá apagar-se
    na umidade quente, que o convida para recebê-lo.
    Que mais poderia querer senão servir
    o corpo branco assaltado, coxas afastadas,
    a fenda incendiada.
    Por fim, resistências destruídas, assalto final,
    subjugada, consumida pelo desejo,
    esperas o bico do pássaro que se introduzirá,
    para, enfim, explodir dentro do teu corpo
    o gozo fremente, tremulante, sob orgasmos sucessivos?
    – —————–
    Corpo de mulher, brancas colinas, brancas coxas,
    pareces-te ao mundo em tua atitude de entrega.
    O meu corpo de camponês selvagem te escava
    e faz com que do fundo salte o filho da terra.
    (Pablo Neruda)
    UM POMAR DE DELÍCIAS
    Não te envergonhes do teu corpo, mulher.
    Tens o privilégio da beleza e da suavidade,
    E eu te desejo.
    Ao mesmo tempo que encerras o portal da alma,
    Tu, mulher, tens o portal do paraíso no teu corpo.
    Uma mulher é mais que uma fêmea,
    E seu corpo contém as qualidades
    Que não se encontrarão em nenhum lugar.
    Porém, vejo no teu corpo um pomar de frutas saborosas,
    É certo que teu corpo está no lugar certo,
    Há alguma coisa em ti, mulher,
    Refletida na natureza de flores e frutos saborosos,
    Teu corpo é um pomar de delícias.
    Posso dizer também que tua alma, mulher,
    É um pomar de frutos doces.
    ——–
    O QUE ESCONDES EM TEU CORPO?
    Descrever-te é querer ver através da névoa.
    Indizível plenitude e beleza que se vê
    Nos contornos do teu corpo.
    Vejo tua beleza, quando inclinas a cabeça,
    Ou quando cruzas os braços para ocultar teus seios,
    Quando inutilmente procuras escondes teu sexo
    Nas pernas dobradas.
    Então, antevejo uma fêmea vibrante,
    Portadora dos doces frutos do amor,
    Mistério que me faz desejar-te ainda mais.
    Tens o que há de bom numa mulher,
    Que deve ser saboreado como se saboreia a fruta
    Do teu pomar de delícias.
    ———
    FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
    Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
    Mas fruta para um poeta saborear,
    Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
    Teu corpo inspira prazer, te desejo…
    Não posso esperar para sugar
    A polpa do figo doce e maduro
    Aberto em teu ventre,
    Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
    Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
    Entre árvores frutíferas e floridas,
    Flores esparramadas no chão.
    Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
    goiabas e cachos de uva.
    Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
    Muitas vezes… um gozo de cada vez.
    *
  •  
    eros femeas (3)
    ANTES QUE O DIA AMANHEÇA
    Ouve, meu amor. Que silêncio!…
    Até os pássaros da noite se calaram
    para ouvir os nossos gemidos, nossos ais e suspiros,
    quando nos amamos.
    Fecha os olhos.
    A noite não acabou.
    Estamos tristes, depois da nossa noite de paixão.
    Por fim, ouviremos uma melodia de Eric Satie,
    depois da ternura, das carícias e dos gozos repetidos.
    Ouviremos o piano como o autor sugeriu,
    “dolorosamente” (douloureux),
    “tristemente” (mélancoliquement),
    ou “solenemente” (gravement),
    como deve ser o amor.
    Os amantes precisam amar com intensidade,
    embora entrecortados pela melancolia,
    porque terão que separar-se depois da noite de paixão.
    Reina um solene silêncio,
    convite para contemplar o céu infinito na hora do adeus.
    Porém, não há paz, se somos obrigados a dizer adeus.
    Nosso amor é tão triste!
    Mas, vem comigo, meu amor!
    Vem olhar a madrugada, antes do sol nascer.
    Uma luz suave nos guiará na noite que termina.
    Não estaremos sozinhos,
    caminhando no sereno da madrugada.
    As estrelas e a lua no quarto minguante
    iluminarão os nossos passos…
    os nossos caminhos.
    E nos abraçaremos para os últimos beijos,
    os derradeiros carinhos,
    e lembraremos juntos o poeta Vinícius:
    “Vem raiando a madrugada, há música no ar”.
    A noite termina, e o dia está nascendo.
    Meu amor, vem comigo…
    —————-
    *

    FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
    Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
    Mas fruta para um poeta saborear,
    Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
    Teu corpo inspira prazer, te desejo…
    Não posso esperar para sugar
    A polpa do figo doce e maduro
    Aberto em teu ventre,
    Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
    Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
    Entre árvores frutíferas e floridas,
    Flores esparramadas no chão.
    Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
    goiabas e cachos de uva.
    Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
    Muitas vezes… um gozo de cada vez.

 

FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
Mas fruta para um poeta saborear,
Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
Teu corpo inspira prazer, te desejo…
Não posso esperar para sugar
A polpa do figo doce e maduro
Aberto em teu ventre,
Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
Entre árvores frutíferas e floridas,
Flores esparramadas no chão.
Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
goiabas e cachos de uva.
Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
Muitas vezes… um gozo de cada vez.

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ORGASMOS…
Eu: – Amo essa manifestação sua rumo à liberdade total. É o seu querer, delícia da minha vida.
Ela: – Prefiro dizer agora. Amanhã não conseguirei.
Emoções intensas e prazerosas me envolveram 
ao ler sua linda poesia.

Transformei-me numa fonte de água pura, cristalina,
com cheiro de flor e de amor…
mergulhei meus dedos nessas águas que não cessavam de jorrar…
Difícil descrever… jorravam em abundância.
Pensei que eu me transformaria num oceano,
sem cheiro de mar, mas de amor.
Embevecida e semi adormecida fiquei.
Languidez total. Nunca senti algo assim.. .
Foi lindo, incrível e assustador.
Perdi as forças e demorei a conseguir me levantar…
Não sei se me entendeu.
É uma revelação íntima e única.
Não vou explicar. Só sei que ondas de enorme prazer me envolveram .
Foi lindo, prazeroso.
E, como disse antes, ASSUSTADOR.
Se amanhã eu acordar e vc não tiver lido,
sei que dorme, eu vou excluir.
Creio que farei isso. Não sei, mas é provável.
As águas não param de jorrar…
vou me transformar num oceano, sem dúvida.
Não sei mais o que fazer, além de me afogar nesse mel…
Você fez isto… Não param, não param…
Não sou mais carne… sou uma fonte
que não para de jorrar águas puras,
com cheiro de amor e flor.
Faltam os favos do mel…
Não param… e choro, e rio.
Emoção profunda e total…
Que pare logo, senão morro.
Você não está aqui para me acalmar… nem estará…
Para me distrair, depois do”encantamento”, passeei no face.
————–
Eu: – Respondo: Li, e percebi seu gozo. E, que poema esse!, na sua resposta.
Foi bom não ter lido ontem… Eu ficaria excitado demais, e não haveria como saciar meu desejo. Seus orgasmos são incríveis, excitantes. deliciosos.
Queria sorver teu mel .

fim de agosto (2)
 
 Orquídea-1

UMA MULHER É UMA FLOR ABERTA
O doce centro de uma mulher,
entre cinco pétalas,
é uma flor aberta,
como a ‘orchidea vaginalis’ no seu corpo.
Donde exala, sensual, o olor da flor,
suave perfume do amor.
Preciso de ti, amada, pedaço do universo.
No pentáculo delicado de tua orquídea,
abraçando teu corpo, penetro e mergulho
nas profundidades do teu ventre.

O DOCE FRUTO DO AMOR

Despertei, enquanto buscava nos sonhos
raízes do desejo que arde em mim.
A sensualidade me faz sonhar
com a mulher amada, a todo momento.
Acordo para os tempos imemoriais,
ou para as memórias antigas,

quando o imaginário da sensualidade,
do gozo, do prazer do corpo,
ainda não abrigava a desconfiança
entre amantes.
Depois, por causa do amor sensual,
os que amam foram tomados pela culpa
sem fundamento.
Como pode alguém ser punido
por desejar o corpo amado?
Pude ver então, que mordida a maçã,
em sua doçura,
o fruto do amor tem, em linhas delicadas,

o desenho da flor que brota do ventre de uma mulher.
Amada, tens no teu corpo, um doce fruto,
delícia aberta para o amor.
Porém, como no centro da maçã,
teu corpo também desvela o pentáculo,
estrela de cinco pontas,
indicando os pontos cardeais do amor.



eros femeas (3)
ME SUGAS PARA DENTRO DO TEU VENTRE
Quero devolver teus segredos /
Colando minha boca na tua boca ,/
Para que não se perca nenhuma palavra do meu desejo/.
Soprarei minha sensualidade no teu corpo, /
Enquanto minhas mãos buscam teus seios macios,/
E minhas narinas recebem tua respiração, /
Oxigênio para minha alma. /
No teu ventre, meu pássaro sedento /
Do mel que brota no teu jardim de delícias,/
De tantas flores , de tantas cores,/
de tantos frutos que produzem o teu doce,/
Meu passarinho procura a flor aberta do teu sexo./

Quer sorvê-la e impedir que teu mel se perca /
Sabendo que não consegues evitar as ondas/
Do prazer que faz vibrar teu corpo/,

Nem represar a cachoeira das águas,
das quais quero beber./
Enquanto a carne aberta
entre tuas pernas me suga/
Para dentro do teu ventre,  suavemente./
E me envolvo num turbilhão,/
Que também provoca tremores em teu corpo…
Enquanto teu gozo explode/
Em torno do pássaro saciado que nem voar pode mais…/ Depois do amor, quero repousar em teus braços.
—-
[*][*][*][*][*]
ESBOÇOS ERÓTICOS
[1] OS CAMINHOS NO CORPO DE UMA MULHER
Os cabelos, o quadril, as curvas das nádegas e das pernas…
Mãos buscam as curvas do corpo feminino, distraídas,
embora todas difusas, sem direção certa, indicam
e percorrem os caminhos do corpo de uma mulher.
Minhas mãos também são errantes,
como o fluxo e refluxo das marés,
sem ferir a carne amorosa, inchada,
doendo, trêmula, linda,
vibrando durante o amor.
Ilimitados fluxos sensuais, quentes,
molham as mechas abaixo do botão do umbigo.
O mel tremulante do amor jorra como suco delirante,
depois que a aste ereta, ondulante, rígida,
trabalhou com firmeza e suavidade
a fenda na carne de uma mulher.
Até que a aurora venceu os amantes cansados,
nus sobre os lençóis amarfanhados, marcados,
pulando dentro do dia suculento
que preparará mais uma noite de amor.
[2]
MERGULHANDO NO CORPO DE UMA MULHER
Não há coisa melhor que ficar perto de uma mulher nua,
e ver seu olhar,
enquanto sua respiração arfante aumenta,
no contato de minhas mãos nos seus seios.
Não há delícia maior
que mergulhar no corpo de uma mulher,
como quem afunda no mar calmo,
entre pernas femininas.
Nada me satisfaz mais que as sensações,
emanadas de um corpo feminino quando faz amor.
Adoro o corpo das mulheres,
Eis um hino divino, partitura da mais bela melodia,
escrita nas curvas,
impregnadas do cheiro que exala
do corpo de uma mulher.
Da cabeça aos pés,
enquanto orgasmos sonoros
se repetem a todo momento, incontroláveis,
como numa fuga de Johann Sebastian Bach,
executada num órgão de tubos.
O falo quer penetrar.
Estou falando da atração irrecusável de uma mulher,
na hora do amor.
Ouvindo, cheirando seu sexo, olhando seu corpo.
Uma mulher comporta a atração furiosa dos sentidos,
todos os sentidos ativos fazem disparar mais que olhares,
nas curvas macias do corpo de uma mulher…
Quando sugado entre suas pernas,
respiração ofegante, inebriado, drogado,
embriagado por sensações inexplicáveis,
meu falo é um pássaro indefeso,
preso nas mãos de uma mulher.
Tudo se precipita ao redor,
e me vejo como um meteoro cruzando os céus.
Se no vácuo onde desaparecem corpos celestes,
a todo momento… se nos braços de uma mulher,
que desejo para sempre… minha… minha…

Uma estrela cadente que ninguém sabe onde vai cair,

deixa seus rastros na hora do orgasmo.
[|]
[3]
UMA MULHER PASSA NA RUA…
Ver uma mulher passar na rua, desenvolta,
diz tanto da beleza quanto o mais belo dos poemas.
A carne dura e sutil solta sob o algodão,
ou do pijama de flanela, antes do amor,
pede mãos que saibam acariciar.
Você se vira para espiar suas costas,
suas nádegas, sua nuca, os contornos
dos seus ombros, de suas pernas…
Enquanto ela caminha, seus olhos se regalam,
e você pode até chorar, comovido,
diante da beleza do corpo feminino em movimento.
As qualidades do corpo feminino lembram doces
que devem ser lambidos até o fim de um orgasmo.
[4]
JE TE VEUX
[Melodia: Erik Satie / Letra apócrifa]
Anseio pelo precioso momento,
Quando vamos gozar juntos
Momentos felizes de amor e desejo,
Eu quero possuir-te inteira.
Não tenho pudores para dizer:
eu tenho apenas um desejo na vida,
Ficar perto de ti, estar juntinhos,
Viver o resto da vida
Sabendo que teu corpo é todo meu.
Que teus lábios, tua boca,
que teu coração, sejam meus.
E que a minha carne seja tua.

Eu entendo a aflição dos amantes
Cedo aos desejos dos corpos que amam
Faz-me teu amante, amor.
Que fiquemos longe da prudência,
Da tristeza e do medo dos reprimidos.
Anseio pelo precioso momento
Quando nos entregaremos ao prazer
dos corpos enlaçados e entranhados,
Eu te desejo…

Sim, vejo em teus olhos
A promessa celestial
De um coração amoroso.
Vem receber minhas carícias,
Nossos corpos enlaçados, para sempre,
Atiçados pelo mesmo fogo,
Alimentando as mesmas chamas,
em um sonho de amor ardente.
Vamos, juntos, entrecruzar nossas almas
E nossos corpos aquecidos pelo amor.

Eu entendo a aflição dos amantes
Cedo aos desejos dos corpos que amam.
Faça-me teu amante, meu amor.
Que fiquemos longe da prudência,
da tristeza e do medo dos reprimidos.
Anseio pelo precioso momento,
Quando nos entregaremos ao prazer
Dos corpos enlaçados, entranhados,
Eu te desejo, meu amor
[*][*][*][*]
*********************
[5]

“Una mujer debe ser soñadora, coqueta y ardiente, para ser una mujer”(Canta João Gilberto)
UNA MUJER
La mujer que
Al amor no se asoma
No merece llamarse mujer
Es cual flor que
No esparce su aroma
Como un leño que
No sabe arder
La passion has
Un magico idioma
Que con besos
Se debe aprender
Puesto que una mujer
Que no sabe querer
No merece llamarse mujer
La mujer debe ser
Soñadora coqueta y ardiente
Debe darse al amor
Con frenético ardor
Para ser una mujer
[Paul Misraki/Ben Molar]


UM POMAR DE DELÍCIAS

Não te envergonhes do teu corpo, mulher.
Tens o privilégio da beleza e da suavidade,
E eu te desejo.
Ao mesmo tempo que encerras o portal da alma,
Tu, mulher, tens o portal do paraíso no teu corpo.
Uma mulher é mais que uma fêmea,
E seu corpo contém as qualidades
Que não se encontrarão em nenhum lugar.
Porém, vejo no teu corpo um pomar de frutas saborosas,
É certo que teu corpo está no lugar certo,
Há alguma coisa em ti, mulher,
Refletida na natureza de flores e frutos saborosos,
Teu corpo é um pomar de delícias.
Posso dizer também que tua alma, mulher,
É um pomar de frutos doces.
——–
O QUE ESCONDES EM TEU CORPO?
Descrever-te é querer ver através da névoa.
Indizível plenitude e beleza que se vê
Nos contornos do teu corpo.
Vejo tua beleza, quando inclinas a cabeça,
Ou quando cruzas os braços para ocultar teus seios,
Quando inutilmente procuras escondes teu sexo
Nas pernas dobradas.
Então, antevejo uma fêmea vibrante,
Portadora dos doces frutos do amor,
Mistério que me faz desejar-te ainda mais.
Tens o que há de bom numa mulher,
Que deve ser saboreado como se saboreia a fruta
Do teu pomar de delícias.
———
FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
Mas fruta para um poeta saborear,
Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
Teu corpo inspira prazer, te desejo…
Não posso esperar para sugar
A polpa do figo doce e maduro
Aberto em teu ventre,
Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
Entre árvores frutíferas e floridas,
Flores esparramadas no chão.
Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
goiabas e cachos de uva.
Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
Muitas vezes… um gozo de cada vez.
 
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eros femeas (3)
ME SUGAS PARA DENTRO DO TEU VENTRE
Quero devolver teus segredos /
Colando minha boca na tua boca ,/
Para que não se perca nenhuma palavra do meu desejo/.
Soprarei minha sensualidade no teu corpo, /
Enquanto minhas mãos buscam teus seios macios,/
E minhas narinas recebem tua respiração, /
Oxigênio para minha alma. /
No teu ventre, meu pássaro sedento /
Do mel que brota no teu jardim de delícias,/
De tantas flores , de tantas cores,/
de tantos frutos que produzem o teu doce,/
Meu passarinho procura a flor aberta do teu sexo./

Quer sorvê-la e impedir que teu mel se perca /
Sabendo que não consegues evitar as ondas/
Do prazer que faz vibrar teu corpo/,

Nem represar a cachoeira das águas,
das quais quero beber./
Enquanto a carne aberta
entre tuas pernas me suga/
Para dentro do teu ventre,  suavemente./
E me envolvo num turbilhão,/
Que também provoca tremores em teu corpo…
Enquanto teu gozo explode/
Em torno do pássaro saciado que nem voar pode mais…/ Depois do amor, quero repousar em teus braços.
BOM DIA MEU AMOR
eros femeas (5)
 
EROTISMO NA POESIA HEBRAICA

OS HEMISFÉRIOS DO AMOR
Li o Cântico dos Cânticos,
o livro fala do amor concreto:
“Tu que habitas nos jardins,
meus amigos te ouvem atentos.
Faz-me ouvir tua voz” (Cantares 8,13).
O Cântico me faz descobrir que o amor que tenho por ti
Deve ser sentido sob hemisférios, aspectos inseparáveis.
Teu corpo e tua alma.
Ele me ensina o que é o amor,
Mas não diz o que é o amor.
Ele me convida a te amar,
Mas amar-te em tua inteireza.
Ele me liga à concretude do teu corpo…
À tua beleza e sensualidade…
Mas, também, me envolve com teu corpo,
Quando regido pela ternura dos amantes.
Ele me fala do amor profundo,
Que pretende deslizar para o interior
Do corpo desejado e amado.
Ansiando por ti, o amor é felicidade,
Embriaguez, gozo, êxtase…
Em outros momentos é silêncio e escuta,
Nos momentos depois da saciedade provisória.
O amor é desejo, mas um desejo
De provar o mais doce do que o doce vinho
Experimentado pelos amantes até a embriaguês.
No corpo da mulher amada,
É doce como o suco da uva colhida da parreira,
Cujas folhas vestiram o corpo desnudo da primeira mulher.
Te amando, obrigo-me à ausência da censura,
Que chama de pecado a sensualidade e o prazer.
Te amando, tenho permissão para o gozo e o êxtase.
O amor me autoriza a vibrar com o desejo.
A gozar e beber o mais doce mel do teu corpo amado.
[|]
DA FACA E DA BAINHA –
A estrela do conhecimento existe, e tem um centro,em todas as coisas, inclusive na sensualidade e na sexualidade. A genitália feminina compara-se ao centro da maçã. O verbo conhecer, “yaddah”, no hebraico, tem o mesmo sentido da penetração masculina na genitália feminina. Lembrando a necessidade ou possibilidade de se conhecer uma mulher penetrando-a. Deixo para outra oportunidade a conhecida relação, na literatura hebraica, da faca e a bainha, raízes de “ish” e “ishah”, macho e fêmea. Nossas dificuldades começam quando tentamos separar a sexualidade, o erótico, da aproximação sensual. E do conhecimento. A sexualidade corrompida é uma tentativa, ou uma intenção, de separar a materialidade completa da luz que ilumina interiormente o homem e a mulher, quando na mais íntima relação possível. Que é o ato do amor sensual. Comer a maçã, portanto, é conhecer nos tempos antigos. E, comendo a maçã, nos aproximaremos também dos sentidos da sexualidade mais íntima.
Faca e bainha se completam, o falo e a vagina finalizam o ato sexual também chamado de “conhecer”. Não se pode separar esse sentido do conhecimento mais íntimo, seja do homem ou da mulher, numa relação de amor. Aqui estão presentes a sensualidade e a sexualidade em sua mais delicada expressão. Conhecer, na poesia hebraica antiga, tem a mais profunda conotação erótica e sensual possível. Refere-se a um encontro absolutamente íntimo. Encontro físico e encontro simultâneo de duas inferioridades em busca de completude, no conhecimento mútuo. Na literatura do Ocidente, contrariando as origens no Oriente, gerou-se a concepção do sexo com culpa. E assim se criou a enfermidade espiritual que procede do desvirtuamento do erotismo e da sensualidade. Um dos dramas mais pungentes, nas relações de um homem e mulher ocidentais, é ter transformado a intimidade sexual em desconfiança e culpa. A poesia hebraica tem suas raízes no Oriente, deixando homens e mulheres livres para o gozo do amor sensual sem culpa.
 Orquídea-1

UMA MULHER É UMA FLOR ABERTA
O doce centro de uma mulher,
entre cinco pétalas,
é uma flor aberta,
como a ‘orchidea vaginalis’ no seu corpo.
Donde exala, sensual, o olor da flor,
suave perfume do amor.
Preciso de ti, amada, pedaço do universo.
No pentáculo delicado de tua orquídea,
abraçando teu corpo, penetro e mergulho
nas profundidades do teu ventre.

O DOCE FRUTO DO AMOR

Despertei, enquanto buscava nos sonhos
raízes do desejo que arde em mim.
A sensualidade me faz sonhar
com a mulher amada, a todo momento.
Acordo para os tempos imemoriais,
ou para as memórias antigas,

quando o imaginário da sensualidade,
do gozo, do prazer do corpo,
ainda não abrigava a desconfiança
entre amantes.
Depois, por causa do amor sensual,
os que amam foram tomados pela culpa
sem fundamento.
Como pode alguém ser punido
por desejar o corpo amado?
Pude ver então, que mordida a maçã,
em sua doçura,
o fruto do amor tem, em linhas delicadas,

o desenho da flor que brota do ventre de uma mulher.
Amada, tens no teu corpo, um doce fruto,
delícia aberta para o amor.
Porém, como no centro da maçã,
teu corpo também desvela o pentáculo,
estrela de cinco pontas,
indicando os pontos cardeais do amor.

O FRUTO QUE MOVE O UNIVERSO
Não recordava que nos idos da raça humana,
a estrela de cinco pontas simbolizava
o conhecimento da mente e do corpo;
que a sensualidade que existe,
vinda das profundezas irracionais,
habita no centro de uma mulher.
Porém, tocando em puros estados
de perturbação dos sentidos,
a sensualidade
é também encontrada em outras partes
do corpo da mulher amada…
Nem me lembrava
que a maçã era símbolo do universo.
Mulher amada, encontro no teu corpo
o doce fruto que move o universo .
UM DOCE FRUTO NO UNIVERSO DO TEU CORPO
Amada, tens no teu corpo, um doce fruto,
delícia aberta para o amor.
Porém, no centro da maçã cortada,
teu corpo também desvela o pentáculo.
Estrela de cinco pontas,
indicando os pontos cardeais do amor.
Não recordava que nos idos da raça humana,
a estrela de cinco pontas simbolizava
o conhecimento da mente e do corpo.
Nem me lembrava que a maçã era símbolo do universo.
Minha amada,
me encontrei comendo um doce fruto,
mergulhando na intimidade do teu corpo.

UM POMAR DE DELÍCIAS
Não te envergonhes do teu corpo, mulher.
Tens o privilégio da beleza e da suavidade,
E eu te desejo.
Ao mesmo tempo que encerras o portal da alma,
Tu, mulher, tens o portal do paraíso no teu corpo.
Uma mulher é mais que uma fêmea,
E seu corpo contém as qualidades
Que não se encontrarão em nenhum lugar.
Porém, vejo no teu corpo um pomar de frutas saborosas,
É certo que teu corpo está no lugar certo,
Há alguma coisa em ti, mulher,
Refletida na natureza de flores e frutos saborosos,
Teu corpo é um pomar de delícias.
Posso dizer também que tua alma, mulher,
É um pomar de frutos doces.
O QUE ESCONDES EM TEU CORPO?
Descrever-te é querer ver através da névoa.
Indizível plenitude e beleza que se vê
Nos contornos do teu corpo.
Vejo tua beleza, quando inclinas a cabeça,
Ou quando cruzas
os braços para ocultar teus seios,

Quando inutilmente procuras esconder teu sexo
Nas pernas dobradas.
Então, antevejo uma fêmea vibrante,
Portadora dos doces frutos do amor,
Mistério que me faz desejar-te ainda mais.
Tens o que há de bom numa mulher,
Que deve ser saboreado como se saboreia a fruta
Do teu pomar de delícias.
———
FRUTAS DOCES CAEM DO TEU COLO
Teu corpo não é lugar para um devasso se fartar,
Mas fruta para um poeta saborear,
Mulher, és fruto e flor num pomar de delícias.
Teu corpo inspira prazer, te desejo…
Não posso esperar para sugar
A polpa do figo doce e maduro
Aberto em teu ventre,
Favo de mel oculto na colmeia do teu corpo.
Tuas pernas se movem em perfeito equilíbrio,
Entre árvores frutíferas e floridas,
Flores esparramadas no chão.
Caem do teu colo, maçãs, peras, figos,
goiabas e cachos de uva.
Preciso saboreá-las devagar… uma de cada vez,
Muitas vezes… um gozo de cada vez.
 
[-]

QUE SERIA DO MUNDO SEM AS MULHERES…
[1]

A atmosfera, a franja de nuvens no horizonte,
lembram que a terra é sólida.
Mas nada é mais sólido que um corpo de mulher.
Gosto dos peitos, das cabeças, dos cabelos,
das carnes das mulheres
Gosto de ver as dobras dos vestidos em suas costas,
fazendo bonitas todo tipo de mulher.
Gosto de ver o contorno das formas, de cima em baixo,
do peito às coxas,quando passam na rua.
O triângulo oculto abaixo do ventre
faz lembrar o encontro das colunas que sustentam o universo.
Que seria do mundo sem as mulheres…
[2]
UMA MULHER DISPARA CENTELHAS DE AMOR
O que se espera do céu é antevisto numa mulher,
corpo de intensa magia e beleza, desde os olhos,
as orelhas, os cabelos, as curvas…
Quem fala do inferno, encontra um céu,
se sabe amar uma mulher.
Se você ama uma mulher,
pode ver sair de dentro dela a resposta,
um incontrolável fogo que sai do seu corpo,
quando arde de desejo, por dentro.
Um corpo de mulher acende filamentos,
estes disparam incontroláveis centelhas no falo rotundo,
intumescido,
de um homem que ama as mulheres.

 

QUERO SABER SOBRE MINHA EXISTÊNCIA

Padrão

|meditação - faixa
[.] QUERO SABER SOBRE MINHA EXISTÊNCIA
Não quero disciplinar a minha mente.
Quero meditar por mim mesmo,
a respeito daquilo que sou.
Eu quero ver através de mim mesmo,
e da minha própria natureza real,
e ver a minha mente com os olhos da minha alma.
E sempre procurar os fundamentos do meu ser.
Eu quero muito mais do que simplesmente meditar
a respeito de uma prática espiritual.
Eu quero olhar a própria razão da minha existência.
Eu quero buscar e conquistar a liberdade,
e livrar-me de todo e qualquer impedimento
para pensar livremente sobre aquilo que não é natural.
Aquilo que transcende as compreensões empedradas
do que é o homem, do que é o mundo e de quem é Deus.
Eu luto contra o racionalismo e contra o positivismo.
Aprendi que posso ensinar- me a mim mesmo,
enquanto reflito a respeito do caminho que devo seguir,
e subir as montanhas que eu quiser.
Não quero seguir nenhuma doutrina primordial ,
nem quero ligar-me a qualquer aspecto da racionalidade
religiosa ou filosófica,
que me oprimem através de um pensar fundamentalista.
Todos os ensinamentos que quero obedecer
referem-se à limpeza do lixo,
porquanto procura invadir a minha mente,
corromper e destruí-la.
Nesse momento eu abandono toda e qualquer doutrina,
e me afasto de tudo,
do culto e de qualquer rito cerimonial litúrgico.
Desses que apontam lugares para onde se destinam os mortos.
Quero ser totalmente livre.
Não me prendo,
não me acorrento espontaneamente a nenhuma literatura sagrada.
A nenhuma doutrina sobre a razão da minha existência,
e à finalidade do meu existir.
Entrego-me à Plenitude,
e o que foi providenciado pelos Céus que estão postos sobre mim.
Quero sustentar-me através da negativa,
da afirmação a respeito da relatividade das coisas que me cercam.
Mas quero também afirmar e criar,
e construir minha existência sobre alguma verdade.
Não quero cultuar divindade alguma,
nem aceito o culto a qualquer deus humano.
Se religioso, se filosófico, se dogmático.
Se me falam de Deus, quero saber a que deus se referem .
Se falam de um certo deus,
quero saber de que deus estão falando,
e o que querem afirmar quando usam o Nome,
a Energia que me envolve e sustenta.
Creio no Grande mistério.
Esse eu afirmo sem medo de errar,
porque dele nada sei.
E duvido daquele que me diz conhecer todos os desenhos,
ou senhas da sua existência.
Quero a minha mente livre e desobstruída,
com capacidade para imergir e penetrar no Mistério.
Esse mistério também pertence à busca das razões
da minha existência, e fujo, me afasto, me evado
das explicações que dizem respeito
aos aspectos exteriores da minha existência.
Procuro o caminho da existência profunda.
Quero dialogar com Aquele que habita
os lugares mais profundos da minha alma
e do meu ser.
Quero comunicar me comigo mesmo.
Não posso aceitar qualquer impedimento nesse sentido,
enquanto me aprofundo na busca interior do meu ser.
[-]

QUERO IMERGIR NO MISTÉRIO DO SER

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QUERO IMERGIR NO MISTÉRIO DO SER

faixa - paisagem do interior
Faz parte de mim, enquanto busco as razões

da minha e da sua existência.
Meu amigo, minha amiga.
E me afasto… me evado,
Fujo quando querem me dar explicações
A respeito dos aspectos
Que dizem respeito ao exterior da minha

existência.
Procuro e existência profunda.
Se você quiser vem comigo.

Quero dialogar com Aquele que habita
Os lugares mais inacessíveis da minha alma.
E do meu ser.

Quero comunicar-me comigo mesmo.
E com você, se quer andar comigo nesses caminhos.
Não posso aceitar qualquer impedimento nesse sentido.
Lhe convido a fazer o mesmo,
Enquanto também me aprofundo
Na busca interior
Do meu e do seu ser.
Vem comigo, a estrada é longa,

Mas deve valer a pena caminhar.
Chegaremos juntos, se você quiser.

faixa - por do sol

O DESTINO É UM RELÂMPAGO

Padrão
O DESTINO É UM RELÂMPAGO

|||
sozinho no bosque[2]

O DESTINO DOS HOMENS E DAS MULHERES
Queria aprofundar meus sonhos,
tenho que buscá-los nas raízes,
e nas profundidades, aquelas da árvore do destino.
Vejo que o problema permanece aberto,
por não saber onde está a chave do enigma,
que é o destino do homem e da mulher.
Ainda não sei onde e como escavar,
para encontrar minhas verdadeiras raízes.
Mas, lado a lado com o homem real, sei,
posso me sentir mais ou menos forte
para endireitar a linha do meu destino,
apesar dos choques, dos conflitos, das perplexidades,
das perturbações e complexidades
existentes em cada homem.
Em cada um o destino, em cada outro um sonho para realizar.

O DESTINO É COMO UM RELÂMPAGO
O destino passa diante de nós como um relâmpago,
um raio de luz ilumina nossos sonhos no passado,
enquanto ganha corpo nos devaneios.
Sobre a liberdade, nem ouso conjecturar.
Mas não é também no sonho, na utopia,
que o homem se mostra mais fiel a si mesmo?
Se ele pensa na liberdade, na igualdade de direitos,
na democracia e no direito aos sonhos
que se estendem a todos.
Interrogo-me, se os pesadelos do homem
se alimentam dos atos dos outros homens,
aqueles que se dão na opressão, no medo,
no pavor da luta pelo poder.
Sempre haverá um bem para se sonhar ou meditar.
Algo que recebi desde a minha infância,
quando minha mãe me abraçava e beijava,
dizendo: meu filho, nunca se submeta…
nunca se entregue. Sonha.
Luta, luta sempre.
Sinto um grande alívio
quando recordo os dias da minha infância,
e ouço a doce voz de minha mãe.
RAÍZES DO MEDO, DO DESESPERO E DA SOLIDÃO
Hoje, sinto que regresso de uma longa viagem ao passado.
Mas, nessa caminhada adquiri uma certeza:
a infância do homem levanta os problemas de toda a sua vida.
Cabe à idade madura resolver o enigma de sua vida.
O meu enigma é não conceder um só pensamento
na direção da submissão da consciência.
Quero, porém, a liberdade,
para a compreensão dos obstáculos,
entender de onde vêm as opressões.
Encontrar a raiz do medo e o veneno do desespero.
Sei que será preciso remover
as pedras colocadas no meu caminho,
uma a uma.
.
No fio da navalha, durante toda a minha vida,
caminhei, sempre procurando decifrar esse enigma.
Sem conceder-me um só pensamento de desânimo.
Hoje sei que tudo já tinha sido dito,
quando eu me pus em marcha.
Os reveses, as mágoas, as decepções,
as lágrimas, os risos e a alegria,
passaram por mim sem atingir nem fatigar-me.
Não posso parar de caminhar,
não posso abandonar as trilhas das montanhas mais altas,
eterno alpinista que pretendo ser,
para ser um ser humano.
Derval Dasilio
********
O AMOR É UM PESO QUE NOS FAZ INCLINAR…

LEIA: https://lucigama.wordpress.com/2016/10/15/quem-sao-os-nossos-proximos-2/

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O AMOR É UM PESO QUE NOS FAZ INCLINAR
Hoje, fiquei pensando por quê somente o Evangelho de Lucas conservou para nós esta parábola amorosa. Linda, magnífica como um poema de Johnny Alf. Jesus, perguntado, por sua vez devolve a pergunta para o intelectual religioso, envolvido com a lei codificada. O letrado é especializado em sua Bíblia, conhece o Mishinah e o Thalmud, a grande literatura hebraica. Jesus responde: você é um sábio, saberá encontrar a resposta no amor… O religioso é culto — conhecedor da Escritura –, citando de memória as passagens bíblicas (Dt 6,5 e Lv 19,18), faz uma síntese do conteúdo dos 613 preceitos religiosos (cerca de 430 negativos: “não farás…”) sobre como “amar a Deus e ao próximo”, sob a tradicional lei deuteronômica.
*
Daí brota a parábola linda: O Bom Samaritano. Quando dizemos que a descrição do samaritano é esplêndida, nesta parábola de Jesus, nos aproximamos de questões básicas, embora frugais, pertencentes ao cotidiano. Amores explícitos, amores discretos; amores homoafetivos, amores héteroafetivos. Espera-se de bem-postos, dos famosos, dos sábios orientadores espirituais, dos carcereiros de presos políticos, dos religiosos com assento certo nas missas e nos cultos, desprendimento, solidariedade. Esforço pessoal no socorro dos aflitos enfraquecidos, oprimidos; dos desprezados, dos maltratados; dos marginalizados sob pressões egoístas cuspidas na cara; dos que expressam ódio e raiva pelos que vivem na pobreza e miséria. E, espera-se dos juízes que mudem de lado, que sejam justos tanto com o rico quanto com o pobre, um pouco de disponibilidade para assistir com direitos universais os despojados e violentados, em todos os tempos e lugares.
*
A história humana é caracterizada por uma interminável sucessão de negações do amor ao próximo, cito o notável padre Bernhard Haring. Os resultados da intolerância são feridas abertas, exclusão e marginalização, gerando o abandono e morte social dos mais pobres, feridos em sua dignidade (dignitatis = direitos humanos fundamentais). Só o amor transforma a justiça codificada, que privilegia quem já é privilegiado, em justiça igualitária, compassiva, situacional, concreta. Especialmente quando nos deparamos com emergências e prioridades. Notadamente quando estão em perigo de morte a vida humana, homens, mulheres, crianças.
*
O próximo jorra da mesma fonte, é resultado da terra, horizonte de todos. É filho da sociedade humana, e se relaciona com o mundo da mesma maneira que eu e você. É, o próximo, imagem e dádiva de Deus ao mesmo tempo. Todos os valores relacionais ideais constituem ponto de partida anterior à justiça formal, justiça codificada. Dizem respeito à vida de todos. O próximo nos comunica: “sou um corpo concreto, e tu me conheces na materialidade compartilhada da vida cotidiana”.
*
Emmanuel Lévinas, pensador judeu moderno, diz: “Deus vem ao meu pensamento quando Eu vejo o próximo no Outro ”. Na face do Outro está o rosto transcendente de Deus (cf. Mateus 25,38: “… quando te vimos, Senhor?”). Também judeu, Martin Buber dizia: “O Outro (o próximo) não é um ‘isto’, mas um Tu”. Tenho comentado sobre a relação Eu|Tu, equação amorosa criada por Buber, lembrando: “Eu sou Tu quando me olhas, e Tu sou eu quando te olho”.
*
Santo Agostinho, na antiguidade, confessava: “O meu amor é o meu peso; onde quer que eu vá, ele me conduz e me faz inclinar”. Esse “peso” é também citado por Jesus: “Vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu aliviarei vocês. Tomem sobre vocês a minha carga e aprendam, porque sou manso e humilde de coração; e acharão descanso. Porque o meu peso (amor) é suave, e o fardo que transporto é leve” (Mateus 11:28-30). Uma metáfora magnífica da compaixão, da ternura, da solidariedade que nos une ao que sofre, na experiência de Deus em Jesus.
*
A força potente do amor, no exemplo de Jesus, energiza e dá capacidade de lutar, de proteger, de fazer justiça, socorrer, vestir, alimentar e curar o próximo. Diz a canção de Carlinhos Lyra: “Sabe você o que é o amor? Não sabe? Eu sei. / Sabe gostar? Qual sabe nada, sabe, não. / Você sabe o que é uma flor? Não sabe, eu sei. / Você já chorou de dor? Pois eu chorei. / Já chorei de mal de amor, já chorei de compaixão./ Quanto à você meu camarada, qual o quê, não sabe não. / Você não tem alegria, nunca fez uma canção, / Por isso a minha poesia… você não rouba não.” Até mais ver, amigos e amigas. Um bom domingo para vocês.
——–
Derval Dasilio

[*][*][*][*][*]

 

ELES BEBEM ÓDIO E VOMITAM VINGANÇA

Padrão
ELES BEBEM ÓDIO E VOMITAM VINGANÇA

discípulo do torturado

Eles têm sangue nos olhos,
Eles elegeram o juiz que se veste de preto.
Eles o querem para julgar a sua causa.
Eles não querem a justiça, querem vingança.
Eles seguiram Aécio, Eduardo Cunha e Temer.
Eles, agora, seguem Bolsonaro.
Eles querem a chibata, o cadafalso e a forca.
Eles querem esquartejados os corpos dos insurgentes.
Eles disseram “crucifiquem-no”, e Jesus foi levado à cruz.
Eles, porém, usam crucifixos e andam com a bíblia na mão.
Eles dizem-se discípulos de Jesus, mas servem Satanás.
Eles vêm das tradições do fundamentalismo evangélico ou católico,
Eles se orientam pelo ódio e vomitam o medo,
Eles são intolerantes, aprovam a tortura e a desigualdade.
Eles amam a mentira e têm medo da verdade.
Eles dizem falsamente que devem obediência a Deus e à Santa Bíblia.
Eles não aceitam a paz ensinada por sábios profetas das Escrituras.
Eles exaltam o que chamam de vontade do povo.
Eles são obcecados pela conspiração, e não hesitam em trair.
Eles aprovam golpes na Carta Magna, e estimulam juízo e leis de exceção.
Eles obsessivamente, querem o controle da sensualidade.
Eles querem impedir a liberdade de abraçar, beijar e amar.
Eles agem repressivamente para que a razão não se manifeste.
Eles se apoiam na acusação, e invertem o direito do inocente.
Eles usam o mesmo tema: a corrupção dos outros.
Eles preferem a linguagem repetitiva e subliminar do linchamento moral.
Eles representam a sociedade frustrada.
Eles se sentem preteridos.
Eles desconsideram o desvalido e o pobre,
Eles ignoram que Deus coloca o oprimido em primeiro lugar.
Eles refutam e combatem o mundo novo possível.
Eles desafiam a própria Bíblia, que fala de paz para a humanidade.
Eles contrariam os ditos de Cristo, sobre “um novo céu e uma nova terra”.
Derval Dasilio

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O AMOR É UM PESO QUE NOS FAZ INCLINAR

Padrão

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confusão de formas
O AMOR É UM PESO QUE NOS FAZ INCLINAR
Hoje, fiquei pensando por quê somente o Evangelho de Lucas conservou para nós esta parábola amorosa. Linda, magnífica como um poema de Johnny Alf. Jesus, perguntado, por sua vez devolve a pergunta para o intelectual religioso, envolvido com a lei codificada. O letrado é especializado em sua Bíblia, conhece o Mishinah e o Thalmud, a grande literatura hebraica. Jesus responde: você é um sábio, saberá encontrar a resposta no amor… O religioso é culto — conhecedor da Escritura –, citando de memória as passagens bíblicas (Dt 6,5 e Lv 19,18), faz uma síntese do conteúdo dos 613 preceitos religiosos (cerca de 430 negativos: “não farás…”) sobre como “amar a Deus e ao próximo”, sob a tradicional lei deuteronômica.
*
Daí brota a parábola linda: O Bom Samaritano. Quando dizemos que a descrição do samaritano é esplêndida, nesta parábola de Jesus, nos aproximamos de questões básicas, embora frugais, pertencentes ao cotidiano. Amores explícitos, amores discretos; amores homoafetivos, amores héteroafetivos. Espera-se de bem-postos, dos famosos, dos sábios orientadores espirituais, dos carcereiros de presos políticos, dos religiosos com assento certo nas missas e nos cultos, desprendimento, solidariedade. Esforço pessoal no socorro dos aflitos enfraquecidos, oprimidos; dos desprezados, dos maltratados; dos marginalizados sob pressões egoístas cuspidas na cara; dos que expressam ódio e raiva pelos que vivem na pobreza e miséria. E, espera-se dos juízes que mudem de lado, que sejam justos tanto com o rico quanto com o pobre, um pouco de disponibilidade para assistir com direitos universais os despojados e violentados, em todos os tempos e lugares.
*
A história humana é caracterizada por uma interminável sucessão de negações do amor ao próximo, cito o notável padre Bernhard Haring. Os resultados da intolerância são feridas abertas, exclusão e marginalização, gerando o abandono e morte social dos mais pobres, feridos em sua dignidade (dignitatis = direitos humanos fundamentais). Só o amor transforma a justiça codificada, que privilegia quem já é privilegiado, em justiça igualitária, compassiva, situacional, concreta. Especialmente quando nos deparamos com emergências e prioridades. Notadamente quando estão em perigo de morte a vida humana, homens, mulheres, crianças.
*
O próximo jorra da mesma fonte, é resultado da terra, horizonte de todos. É filho da sociedade humana, e se relaciona com o mundo da mesma maneira que eu e você. É, o próximo, imagem e dádiva de Deus ao mesmo tempo. Todos os valores relacionais ideais constituem ponto de partida anterior à justiça formal, justiça codificada. Dizem respeito à vida de todos. O próximo nos comunica: “sou um corpo concreto, e tu me conheces na materialidade compartilhada da vida cotidiana”.
*
Emmanuel Lévinas, pensador judeu moderno, diz: “Deus vem ao meu pensamento quando Eu vejo o próximo no Outro ”. Na face do Outro está o rosto transcendente de Deus (cf. Mateus 25,38: “… quando te vimos, Senhor?”). Também judeu, Martin Buber dizia: “O Outro (o próximo) não é um ‘isto’, mas um Tu”. Tenho comentado sobre a relação Eu|Tu, equação amorosa criada por Buber, lembrando: “Eu sou Tu quando me olhas, e Tu sou eu quando te olho”.
*
Santo Agostinho, na antiguidade, confessava: “O meu amor é o meu peso; onde quer que eu vá, ele me conduz e me faz inclinar”. Esse “peso” é também citado por Jesus: “Vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu aliviarei vocês. Tomem sobre vocês a minha carga e aprendam, porque sou manso e humilde de coração; e acharão descanso. Porque o meu peso (amor) é suave, e o fardo que transporto é leve” (Mateus 11:28-30). Uma metáfora magnífica da compaixão, da ternura, da solidariedade que nos une ao que sofre, na experiência de Deus em Jesus.
*
A força potente do amor, no exemplo de Jesus, energiza e dá capacidade de lutar, de proteger, de fazer justiça, socorrer, vestir, alimentar e curar o próximo. Diz a canção de Carlinhos Lyra: “Sabe você o que é o amor? Não sabe? Eu sei. / Sabe gostar? Qual sabe nada, sabe, não. / Você sabe o que é uma flor? Não sabe, eu sei. / Você já chorou de dor? Pois eu chorei. / Já chorei de mal de amor, já chorei de compaixão./ Quanto à você meu camarada, qual o quê, não sabe não. / Você não tem alegria, nunca fez uma canção, / Por isso a minha poesia… você não rouba não.” Até mais ver, amigos e amigas. Um bom domingo para vocês.
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Derval Dasilio
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ELE VEM ME BUSCAR NOS GROTÕES…

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UMA OVELHA PERDIDA NOS GROTÕES DA VIDA
Quem buscará o ser perdido nos profundos abismos, ou nas vias erráticas na vida; quem procurará incansavelmente aquele que não pode retornar sozinho, com suas forças, pelo caminho da salvação? Dietrich Bonhöeffer, mártir do cristianismo sob o nazismo, ajudando-nos a entender as implicações da espiritualidade cristã a respeito do perdão e do resgate de quem se desvia nos caminhos da vida, diferencia-as da psicologia terapêutica. Diz o mártir da fé incondicional: “a psicologia conhece a miséria, a fraqueza e o fracasso das pessoas… mas não conhece a impiedade humana”! Duras palavras dirigidas à psicanálise. Porque a mesma informa: “o resgate está na pessoa capaz de resolver-se por si mesma, encontrando-se em sua interioridade”.
*
Não é assim o evangelho de Jesus. Em parábolas, ele descreve a alegria do pastor que achou a ovelha perdida, desviada do caminho certo; a alegria da mulher que achou a “dracma” perdida, concluindo: “Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu (isto é, em Deus) por um pecador resgatado, do que por noventa e nove justos que não necessitam de resgate” (Lc 15,7-10).
*
A existência humana também conhece a esperança da segurança plena e definitiva, quando consegue o apoio no fundamento último, Deus que salva sem estabelecer condições; Deus que salva por amor, em gratuidade, na direção da salvação plena. A presença terrível do Mal ronda as ovelhas nos caminhos da vida. A luz da esperança, mostra que a sombra inquietante do Mal não conseguirá eclipsar completamente a salvação, que “é iniciativa de Deus, e não do homem” (Karl Barth).
*
O desafio é total, porque o Mal continuará criando esse vazio obscuro, conforme Andrés Queiruga, criando incertezas, apresentando soluções parciais, às vezes camufladas pela terceirização salvacionista humana; contaminando o sentido da vida, e pressionando no sentido da dúvida sobre a gratuidade total que vem de Deus. Sem dúvida, uma aposta de vida ou de morte sobre uma fé que não se submete à razão sobre si mesma, justificando o pecador disposto a aceitar a oferta de Deus.
*
Deus é transcendência cristalina. Ele quer a salvação dos esquecidos nos grotões da vida, presos nos abismos das escolhas erradas ou por imposição fatalista, determinista. Quer resgatar os incapacitados de concorrer, deixados para trás, excluídos, abandonados nos despenhadeiros das desigualdades, do racismo, das diferenças sexuais, das castas e dos guetos. E Jesus diz que eles pertencem a Deus, e o seu errar lhe causou preocupação, e ele vai buscá-lo, no mais fundo abismo existencial, com ternura e cuidado. O pastor alegra-se na volta do que errou o caminho seguro para voltar à casa; alegra-se por proteger os esquecidos. Trata-se da alegria “soteriológica” de Deus, expressa em Jesus.
*
Porque Deus é assim, de misericórdia incompreensível, a tal ponto que o ato de perdoar e resgatar é sua maior alegria, por isso o encargo do redentor é arrancar o desviado das presas “satânicas” do erro; é trazer de volta para casa os perdidos no emaranhado ideológico do fatalismo que envolve e seduz o homem. De novo temos Jesus, o representante de Deus, assumindo a missão de vivência do evangelho integral do Reino. Deus vai atrás dos tresmalhados, tomando a iniciativa, para salvar e reconduzir ao redil aquele que necessita de cuidado, de segurança, enquanto comunica que o perdão incondicional é parte essencial do evangelho de salvação e libertação, pronunciado por Jesus Cristo.
*
“Há um pastor que me protege.
Ele me leva aos lugares de grama verde
e sabe onde estão as fontes encachoeiradas de águas límpidas.
Uma brisa fresca refresca a minha alma.
Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas.
Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro como a morte
eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranquilizam.
Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer.
Passa óleo de copaíba perfumado na minha cabeça
para curar minhas feridas, e me dá água fresca para sarar o meu cansaço.
Com ele não terei medo, eternamente…” (Rubem Alves – Sl 23: paráfrase)

Derval Dasilio

SEM DEUS TUDO É SOFRIMENTO

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faixa - fallen leaves

 
 

[|]
ESTIVE PERDIDO NOS ATALHOS DA VIDA
Um dia busquei penetrar no que jamais foi revelado,
fui às profundidades, resvalei pelas sombras
para fugir do fogo das palavras que queimam,
percorri atalhos para escapar dos caminhos perigosos,
virei ateu num mundo de deuses,
divindades que impõem desespero e agonia,
sem esperança.
Interpretei metáforas impossíveis
buscando a simplicidade na compreensão do Grande Mistério.
Procurei entender os que afirmam que Deus é uma realidade para além de toda e qualquer representação da realidade.
Não consegui, pois toda descrição da divindade,
como de quaisquer outras,
exige o método e o uso da razão instrumental.
E a razão nada sabe de Deus.
*
Não sei como chegar à interioridade íntima
de um pensador como Meister Eckhart,
e partir para as profundidades mistéricas de Deus,
e do mundo interior dos que creem sem fazer perguntas.
Afinal, o que é a serenidade contemplativa senão a reverência pelo que não se pode explicar?
Paulo, apóstolo de Jesus, disse: “Deus é tudo em todos”.
Jamais diria que Deus é “ab-surdo”,
um ser que não é “nada”.
Despojado de tudo, radicalmente, sim. Ele é…
Posso dizer, então:
entendo porque Deus não quer ser “deus” de quem queira possuí-lo,
dizendo amá-lo, mas queira tão somente manipulá-lo.
Deus é simples e pobre.
Pobre como o mais pobre dos homens.
[|]
BUSCANDO A FÉ NAS PROFUNDEZAS OCULTAS DO SER
Para entendê-lo assim, pobre,
precisamos ser também interiormente pobres,
despojados, desapegados,
sem pedir-lhe favores.
É preciso nada querer, nada saber,
nada ter, diria Faustino Teixeira, estudando Eckhart.
Assim, estaremos próximos da serenidade.
Tranquilidade e simplicidade necessárias
para a contemplação do Mistério,
enquanto esperamos a luz.
Luz que há de vir na iluminação das profundezas ocultas da fé,
e confiança na obra que resgata e salva o homem,
o ser perdido em despenhadeiros labirínticos,
sem mapas e sem orientação.

[|]
FUGINDO DA TRISTEZA E DO HORROR
Meu amigo, minha amiga,
vocês dizem que não creem em Deus,
afirmando toda confiança no Homem.

Devo confiar no homem que diz confiar no homem?
Eu não confio nem em mim…
Porque é de Deus, tão somente, que emana o amor,
a compaixão, o cuidado que o homem nega ao seu semelhante.
Sem Deus, é tudo sofrimento, angústia, temor, desespero,
a solidariedade e a partilha que resgata e humaniza.
É nele que encontramos tudo,
depois de procurarmos em vão as rotas
que nos livrassem do caminho desviante,
da tristeza, do medo, do terror,
do desespero e da solidão.
Resistimos, porque cremos em Deus,
e não no homem.
*
Compreendemos que o mundo seria aterrorizador,
sem Deus.
O mundo precisa de Deus, no entanto.
Sua ausência no coração do homem desumaniza-o,
empurra-o para os abismos.
Sua ausência entrega-o ao desamor, ao desprezo,
ao abandono, à exclusão e intolerância,
à impiedade e ao sofrimento imposto às criaturas vivas.
É por isso que cremos, e esperamos mais serenidade
para entender os mistérios onde Deus se esconde.
Porém, Ele se revela para salvar e resgatar o mundo.
Você, meu amigo, minha amiga, precisa saber
que precisamos ser salvos de nós mesmos…

Derval Dasilio

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DEUS, UMA AVENTURA NO INTERIOR DA ALMA HUMANA

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DEUS, UMA AVENTURA NO INTERIOR DA ALMA HUMANA
A aventura interior nos faz lembrar da presença do Pai de todas as coisas, em tudo que nos cerca. Aprendemos que não podemos transferir indefinidamente o que nos faltou desde que nos tornamos conscientes de nós mesmos no mundo. Neste momento podemos sentir o quão importante é compartilhar a realidade do outro ser, do todo, e de Deus, que é a maior das realidades. Deus é uma grandiosidade acima de qualquer grandeza. Não podemos encher-nos de grandeza, envolvidos pela megalomania da razão, diante da realidade maior, que é o Pai de toda a criação. A palavra de Jesus ensina: “aprendam a observar estas coisas, comigo, que sou manso e humilde”.
*
O que um budista indiano chama “ahimsa” um israelita bíblico, como Jesus, chamaria de “rahamim”. É a mesma atitude de compaixão, originalmente “não-machucar” o outro. Uma atitude que se sobrepõe à vontade de dominar o outro a qualquer custo, pisar no pescoço de alguém para passar à frente, entrar na realidade do outro para dominá-lo. O hebreu usa a palavra “rahamim” (“ter sensibilidade, sentimentos”, “ter entranhas”, “ter coração”: o coração é sede dos melhores sentimentos, pensa o israelita bíblico), para identificar a compaixão de Deus pelo oprimido, pobre, aflito, despojado, sem-posses, sem-nada. Deus vê seus filhos com extremo cuidado, acolhendo-os sempre com amorosa compaixão.
*
Os planos do ser-pessoa são diferentes, por si mesmos, em suas variedades, manifestações, diferenças e diversidades. É preciso reconhecer a beleza do ser em si mesmo, e respeitá-lo. Ser unido com o Pai, como Jesus disse (“onde eu estou, quero que vocês estejam”), passa a ser o mais importante que tudo. Isto é, como disse Jesus, “eu e o Pai somos um, e vocês devem ser unidos conosco, nos gestos e nas atitudes”. Jesus quis compartilhar as qualidades paternais de Deus com seus irmãos, que somos nós, no relacionamento com todos os outros, indistintamente, sejam quais forem aqueles outros.
Derval Dasilio

Nota

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Sursum corda, erguei as almas! Toda matéria é Espírito”, dizia Álvaro de Campos. Voltou a esperança, / É o povo que dança / Contente da vida / Feliz a cantar / Porque são tantas coisas azuis / E há tão grandes promessas de luz / Tanto amor para amar de que a gente nem sabe… Canta Carlinhos Lyra, nos versos de Vinícius (Marcha da Quarta-feira de Cinzas).

Nossos desejos se ocultam ou são protegidos por sombras, ou névoas, lugar onde estão também os segredos dos sonhos, ou nos armazéns das escolas de samba, guardando alegorias e fantasias. Podem ser representados também na poesia, nas canções, no humor dos botequins, nas devoções da religiosidade popular, nas festas e procissões, nas celebrações litúrgicas…

Por que os pregadores insistem em esmagar as esperanças, quando o desejo dos homens é misturar-se com as fantasias, encarnar alegorias, cantar as canções do povo que clama pela liberdade? Por que não imiscuir-nos nas festas e nas danças da gente que sofre mas canta, dança e se alegra com suas comemorações?

Deveria ser diferente. Aqueles que têm acesso aos ouvidos e corações das pessoas deveriam, em primeiro lugar, frequentar a alma do povo, reconhecendo a alegria da sua gente, e extasiar-se com a capacidade de esquecer o sofrimento, mesmo que por algumas horas. Nas festas, sabendo que a tristeza, assim como a felicidade, são momentos fugidios, se bem que inevitáveis. Deveríamos ser capazes de ouvir as confissões de amor, que as pessoas fazem. Amor à vida, à alegria, aos sons e ritmos exuberantes que a vida contém. Porque é ali que está a matéria-prima da felicidade.

“Não sabemos como devemos orar. Dos nossos gemidos profundos, sem articular palavras, o próprio Espírito está pedindo por nós. E, Deus, que não ouve as palavras que dizemos com a boca, ouve o que não é dito, o que vem lá do fundo da alma” (Nossa versão de Romanos 8,6-2).


Não há quem possa dizer em voz alta os segredos guardados nas profundezas do viver, embora alguns imaginem que os conheçam. Não sabem, e não podem sair gritando por aí o que não se pode dizer.
“Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração…
Que iluminava a escuridão…
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu,
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
Passarim quis pousar, não deu, voou
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou”
[Tom Jobim]
Por Derval Dasilio
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Esperança dançando nas ruas

Faustino Teixeira – Anotações

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A Sociedade do Cansaço  –  Vozes
Trecho:
ROMPER COM OS LIMITES INSTITUCIONAIS DA RELIGIÃO
Numa sociedade do cansaço é necessário momentos de silêncio, pausas, interrompendo o ciclo de violência da vida produtiva, numa sintonia fina com aquilo que vc está habituado a viver. Fazendo jardinagem, podemos ver que a vida contemplativa exige uma pedagogia do ver. Devemos aprender a ver, pensar, falar e escrever. Uma cultura distinta, habituar o olho ao descanso, à paciência, deixar aproximar-se de si o essencial. Um olhar demorado e lento. Precisamos ampliar o conceito de “nós”, para além do ser humano. Ampliar nossa memória para aprender com aqueles que vivem a experiência da regeneração. Regenerar esse tempo violento do antropocentrismo. Uma ecologia que abranja os outros em si mesmos. Não apenas nós em nós mesmos. Aberturas e interrelações (Papa Francisco). A vida não pode estar encerrada dentro dos limites das formas fixas. Uma separação entre natureza e cultura (religião e a vida). O habitat humano se dá num entrecruzar de linhas. Como é a natureza. Nós, seres humanos, vivemos num emaranhado de múltiplas relações.
————
CAMINHO NUM EMARANHADO INFINDÁVEL
Encontro-me cercado por ruas e avenidas de teias e filamentos,
Sei são fungos que criam essas avenidas e ruas, teias, debaixo da terra.
Agindo ao redor das raízes das árvores,
Formando estruturas conjuntas de fungos e teias, micorrizas,
As teias se conectam através de filamentos fúndicos,
Juntando tudo num emaranhado infindável na floresta debaixo do chão.
Já disseram: fungos e cogumelos não têm rosto, mas têm vida,
Têm uma energia vital, uma liberdade,
uma criatividade espantosa,
Uma cidade que surpreende qualquer observador.
Tudo isso debaixo dos nossos pés.
Isso convida a ampliarmos nossos olhares,
Porque pensamos que isso se dá somente
Como seres humanos, erradamente…
Voce precisa saber, como aprendi,
Que, quando você corta uma árvores,
Ou não se importa com predadores
Que devastam e queimam florestas,
Você está transformando o ritmo desse emaranhado
De redes e teias de vida e energia.
Precisamos aprender que somos habitados por esses mundos.
Mundos no chão das matas, que estão sob nossos pés,
E que estão ao nosso lado, e que ampliam a cadeia do “nós”…
“Nós somos da terra, e da terra vivemos”…

————-
POEMA PARA ANNY
Foi embora a luz mortiça da tarde crepuscular
Na noite iluminada que há muito escondeu o breu
Chorei por dentro com medo de nunca mais te ver
Aprendiz da vida, nunca aprendi a conviver com o tempo
E temi que a máscara de oxigênio não fosse suficiente
Para garantir que viverias para que de novo
Voltasses aos braços meus, e pudesses receber outra vez
Meus beijos, e de novo poder estreitar teu corpo
Com o carinho do meu amor, perdido em teus braços,
Perfumados com o cheiro molhado que teu corpo exala
Vi, então, a vida passar olhando-a como se olha o calidoscópio
As peças mudando de posição a cada movimento
Para os lados, para baixo, para cima, mas sem perder
O brilho das cores em cada peça e em cada desenho
Que se forma na dança das cores que não se repetem
Por mais que insistamos em reformar as imagens já vistas
[*]
Uma vez pensei: não tenho medo do tempo
O tempo é que deve ter medo de mim
Porque toda vez que dele me aproximo
Ele foge como a areia que escorre entre meus dedos
Quando minha mão que se abre sem querer abrir
O tempo é também uma viagem numa estrada sinuosa
Que jamais tem fim.
[*]

INSUSTENTÁVEIS SEGREDOS DA ALMA PROFUNDA

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INSUSTENTÁVEIS SEGREDOS DA ALMA PROFUNDA
ele e ela escultura despedaçada_n
INSUSTENTÁVEIS SEGREDOS DA ALMA PROFUNDA
[1]
Sei de segredos escondidos
em cada página do livro da vida.
Entre eles te encontro na palavra misteriosa do amor.
Sei, porém, que teus segredos são invioláveis,
e que ao mesmo tempo
eles não representam uma realidade
que não queres revelar a ninguém.
E, nem deves oferecer revelações que não queres,
ao mundo à sua volta.
[2]
És mais bela porque também escondes os teus segredos,
as coisas secretas guardadas aos olhos dos demais;
as coisas que não te confundem com a multidão,
e nem por isso trazem desolação à alma de alguém.
[3]
Alguém como tu.
Alguém, minha bem amada,
que tenha feito de um juramento um poema;
que tenha escolhido uma estrela,
apenas, nas miríades do céu estrelado,
para te encontrar entre as constelações.
Alguém que tenha sido alvo de promessas de amor,
que tenha dito que és maior do que tudo que existe,
e que tenha prometido amar-te por toda vida.
Esse alguém deverá ser considerado traidor,
se cantou em versos a revelação dos teus segredos.
Porque jamais se exige de quem amou,
e a quem se entregou, revelando seus segredos,
que devesse ser retribuído da mesma maneira.
[4]
Porque é sagrada a inviolabilidade dos segredos
de uma alma amante.
Segredos são guardados no quarto proibido
dos contos de fada.
Pois o amor é um conto de lealdades,
e não de traições.
É ilícito e perigoso romper a fechadura desse quarto.
Não devo, jamais, querer saber tudo sobre quem amo,
e assim mantê-la à mercê do medo e da traição possível.
[5]
[Quando eu te amo,
tua alma desliza para dentro do meu abraço,
e teu corpo penetra nas profundezas do meu corpo].
Conheço-te, amada, e tudo farei
para manter-te desconhecida,
sem o medo de seres violada em teus segredos.
Recuso-me a saber tudo sobre ti,
pois é o teu mistério que me aproxima de ti
e me faz amar-te.
[6]
O sol na pele, o sabor lembrado, do beijo,
o gosto na língua,
o cheiro,
o perfume de jasmim nos teus cabelos,
fazem parte dos teus mistérios.
Um segredo faz parte da comunhão
de um ser com seu eu profundo.
Segredos se confundem com as variações
e ilusões do mundo real,
onde se misturam lembranças,
arbustos verdejantes,
limo nas rochas,
pássaros,
chuva fina encharcando a relva,
orvalho nas flores,
e o próprio seio de uma alma profunda.
Felizmente indescritível e indevassável.
O aparentemente insustentável peso de amar em segredo, contigo, minha querida, torna-se uma leve pluma esvoaçando sobre as árvores de um bosque em flor.
Derval Dasilio
[*][*][*][*]Ilustração para a capa de MPME mercado erótico

A TI SE IGUALAM AS CORES DO SOL DA MANHÃ

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A TI SE IGUALAM AS CORES DO SOL DA MANHÃ

A TI SE IGUALAM AS CORES NO SOL DA MANHÃ
Queria tanto ver-te transparente, /
mesmo sob o tecido róseo que cobre tuas nádegas,/cetim brilhando nas curvas dos teus seios, / estampas de rosas no lençol sobre tua cama,/ peito febril com o calor emanado nas curvas do teu corpo. / Queria também tuas mãos, teus dedos percorrendo minhas costas / tão quentes e ao mesmo tempo pele úmida e fresca,/ mas transtornada a ponto de não seres capaz de dar um passo, / sonhando as estrelas que aparecem com a lua em tua janela./Enquanto as sombras na parede fazem-me mais atento / ao que ainda veria nesta noite. / Dentro do teu quarto sininhos dourados / tocam soprados pela ventania dos nossos movimentos de amor. /Teus orgasmos repetidos em gemidos incontroláveis…/ Eu te queria nua aconchegada nos meus braços, / sonolenta, embriagada de licores, / cheiros do amor e fumaça de incensos perfumados, / cansada de tanto amor que te darei ./ Até que o sol da manhã rompa as cortinas do teu quarto/ iluminando o que restou / nos lençóis amarfanhados depois de nossa noite de amor.

TE BEIJO COM UMA ROSA NA BOCA
Como alguém descreve o poeta sedutor
que beija uma mulher com uma rosa na boca,
quero também beijar tuas nádegas enquanto percorro o vale marrom entre elas,
com os lábios molhados com o mel
sorvido da flor entre suas pernas,
depois de ter feito minha língua tocar
o botão úmido entre as pétalas, no teu púbis,
encravadas nas linhas que desenham
o recanto divino que meus lábios percorrem,
enlouquecidos pelo tremular do teu corpo
enquanto navego pelas curvas do teu corpo
.

UMA MULHER PASSA NA RUA…
Ver uma mulher passar na rua, desenvolta,
/ diz tanto da beleza quanto o mais belo dos poemas. / A carne dura e sutil solta sob o algodão, / ou do pijama de flanela, antes do amor,
pede mãos que saibam acariciar. / Você se vira para espiar suas costas,
/ suas nádegas, sua nuca, os contornos dos seus ombros, de suas pernas… / Enquanto ela caminha, seus olhos se regalam, / e você pode até chorar, comovido, diante da beleza do corpo feminino em movimento. / As qualidades do corpo feminino lembram doces / que devem ser lambidos como se lambe o mel / até o fim do orgasmo.