Nota

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Sursum corda, erguei as almas! Toda matéria é Espírito”, dizia Álvaro de Campos. Voltou a esperança, / É o povo que dança / Contente da vida / Feliz a cantar / Porque são tantas coisas azuis / E há tão grandes promessas de luz / Tanto amor para amar de que a gente nem sabe… Canta Carlinhos Lyra, nos versos de Vinícius (Marcha da Quarta-feira de Cinzas).

Nossos desejos se ocultam ou são protegidos por sombras, ou névoas, lugar onde estão também os segredos dos sonhos, ou nos armazéns das escolas de samba, guardando alegorias e fantasias. Podem ser representados também na poesia, nas canções, no humor dos botequins, nas devoções da religiosidade popular, nas festas e procissões, nas celebrações litúrgicas…

Por que os pregadores insistem em esmagar as esperanças, quando o desejo dos homens é misturar-se com as fantasias, encarnar alegorias, cantar as canções do povo que clama pela liberdade? Por que não imiscuir-nos nas festas e nas danças da gente que sofre mas canta, dança e se alegra com suas comemorações?

Deveria ser diferente. Aqueles que têm acesso aos ouvidos e corações das pessoas deveriam, em primeiro lugar, frequentar a alma do povo, reconhecendo a alegria da sua gente, e extasiar-se com a capacidade de esquecer o sofrimento, mesmo que por algumas horas. Nas festas, sabendo que a tristeza, assim como a felicidade, são momentos fugidios, se bem que inevitáveis. Deveríamos ser capazes de ouvir as confissões de amor, que as pessoas fazem. Amor à vida, à alegria, aos sons e ritmos exuberantes que a vida contém. Porque é ali que está a matéria-prima da felicidade.

“Não sabemos como devemos orar. Dos nossos gemidos profundos, sem articular palavras, o próprio Espírito está pedindo por nós. E, Deus, que não ouve as palavras que dizemos com a boca, ouve o que não é dito, o que vem lá do fundo da alma” (Nossa versão de Romanos 8,6-2).


Não há quem possa dizer em voz alta os segredos guardados nas profundezas do viver, embora alguns imaginem que os conheçam. Não sabem, e não podem sair gritando por aí o que não se pode dizer.
“Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração…
Que iluminava a escuridão…
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu,
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
Passarim quis pousar, não deu, voou
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou”
[Tom Jobim]
Por Derval Dasilio
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Esperança dançando nas ruas

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