POEMAS DE VERÃO

Padrão
[]derval julho
————————–
CANTO [1]
CAMINHOS NUM EMARANHADO INFINDÁVEL
Encontro-me cercado por ruas e avenidas de teias e filamentos,
Embora prefira os jardins, os bosques em flor,
A água cristalina que brotam no meio das pedras.
Sei que são fungos que criam avenidas e ruas, teias, debaixo da terra.
Agindo ao redor das raízes das árvores,
Formando estruturas conjuntas de fungos e teias,
Micorrizas arbusculares,
As teias se conectam através de filamentos fúndicos,
Juntando tudo num emaranhado infindável na floresta debaixo do chão.
Já disseram: fungos e cogumelos não têm rosto, mas têm vida,
Tudo está bem vivo, cada um no seu lugar,
Ou algum lugar.
Têm uma energia vital, uma liberdade,
uma criatividade espantosa,
Uma cidade que surpreende qualquer observador.
O que um dia existiu se repete, tocando a vida,
Não aceitando interrupções… ninguém pode interrompê-la.
É assim, desde que a vida apareceu.
Tudo segue sem parar,,, nada pode fazê-la entrar em colapso.
Cruzo a vida como um recém-nascido…
Não estou esprimido entre meu chapéu e as sandálias,
Com os quais percorro a vida debaixo do sol ou da chuva.
Observo inúmeros objetos… que coisa estranha…
Não há um que se pareça com o outro.
E me encontro também contigo, tua face, tua presença,
E te vejo única, percorrendo a vida enquanto emanas poesia.
Vida, energia vital, liberdades soltas para que tua prole
Conheça os sonhos, os devaneios que constróem o mundo ao redor.
CANTO [2]
DEBAIXO DAS APARÊNCIAS DE UM MUNDO ESCURO
Há uma cidade subterrânea,
Tudo isso debaixo dos nossos pés.
Isso convida a ampliarmos nossos olhares,
Porque pensamos que isso se dá somente
Como seres humanos, erradamente…
Tu precisas saber, como aprendi,
Que, quando tu cortas uma árvores,
Ou não te importa com predadores
Que devastam e queimam florestas,
Tu estás transformando o ritmo desse emaranhado
De redes e teias de vida e energia.
Precisamos aprender que somos habitados por esses mundos.
Mundos no chão das matas que estão sob nossos pés,
E que estão ao nosso lado, e que ampliam “a cadeia do nós”…
“Nós somos da terra, e da terra vivemos”…
A terra é boa, generosa, como são boas as estrelas,
E seus suplementos, o que a terra produz é bom.
Não sou como a terra, nem como seus suplementos.
Sou teu parceiro, amigo, amiga.
Todos somos mortais e impenetráveis ao mesmo tempo.
Cada um de nós tem pleno direito de existir…
Ah!, fomos meninos e meninas…
Todos conhecemos na carne a dor do desprezo.
Todos tivemos mães e mães de nossas mães.
Mas, nossas mães tinham lábios que sorriam,
E olhos que deitaram lágrimas. Aprendamos!
Tiremos as máscaras, deixemos que os outros vejam
Que debaixo da roupa escura que vestimos,
casemira ou lã, tem um ser de desejo, pronto para o amor.
Saiba, estou perto, estou na área, insistente, tenaz, ávido, incansável,
Pronto para receber e devolver abraços amigos e carinhosos,
Ninguém vai livrar-se de mim, gosto de abraços e beijos ternos.
Os portões da vida estão abertos, escancarados.
Vem comigo. Experimentemos a grama molhada depois da chuva,
Pés molhados na relva, caminhando sem receio algum.
Observemos a claridade do dia nascendo,
A luz brincando no ar, o resto daquela canção adorável da infância,
Que pensávamos perdida nas sombras do tempo.
E matizes, verdes e marrons acima das raízes embutidas na terra.
Tu te sentirás como o caçador que procura a si mesmo
Na floresta, nas matas fechadas, nos caminhos das montanhas…
Zanzando, surpreendendo-se com sua própria leveza e felicidade.
Cairás de sono sobre um monte de folhas,
E as cobrirás com um manto, para dormires em paz.
A paz que queremos ter para o resto de tua vida.
————————–
[Derval Dasilio].

 

Deixe um comentário