Arquivo mensal: agosto 2018

UM METEORO CRUZA OS CÉUS PARA POUSAR NUMA ESTRELA

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UM METEORO CRUZA OS CÉUS PARA POUSAR NUMA ESTRELA


Derval. black withe
UM METEORO CRUZA OS CÉUS
PARA POUSAR NUMA ESTRELA
Na minha ilha secreta,
meu coração sonha com a aurora,
e vou me abrigar sob as grandes árvores,
observando que seus ramos se espalham,
trazendo tranquilidade e silêncio,
enquanto me livro momentaneamente do pavor
e dos tormentos que fazem ferver meu sangue
durante a noite.
Ali, uma pavoa dança numa clareira,
cercada do verde, no centro da floresta.
Um papagaio pendurado num galho
balança seu corpo,
faz acrobacias numa árvore.
Mas, se enfurece quando olha para baixo,
e vê a sua própria imagem no rio que corre para o mar.
Pensa que um concorrente quer tomar seu amor.
Na praia, o nosso barco solitário nos vê de mãos dadas
caminhando na areia,
enquanto murmuramos baixinho,
lábios colados nos lábios do outro,
quando deitamos na erva
ao longo das areias marcadas pelos nossos pés.
Enquanto caminhávamos abraçados,
e nos beijávamos, como dois passarinhos.
Imagino como estão longe as inquietas terras além do mar,
distantes da ilha secreta.
Como estamos longe dos mortais escondidos lá do outro lado,
num mundo que esqueceu do silêncio das árvores,
e dos ramos sob os quais encontro o sentido do amor.
Amor que nasce como uma estrela,
mas caminha no espaço como um meteoro,
dentro dos corações.
Meteoro que também vagueia em chamas entre os astros.
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QUANDO ANOITECE…
Na terra, aquele que sente nas águas as asas
e o impulso do arpão que busca atingir de morte o marlin,
sabe que estou falando
dos que temem a morte.
Nos pesados dias do luto daqueles que lamentam,
e suspiram por cem dias,
atingidos, mesmo de raspão,
pelo meteoro incontrolável que vagueia nas mais altas alturas.
As nossas sombras permanecerão,
é certo, depois que morrermos.
Quando anoitecer, na ilha eterna e silenciosa,
os caminhos espinhosos não mais ferirão seus delicados pés,
querida.
Junto à fogueira das paixões, perto das águas sonolentas,
repousaremos envolvidos nas sombras da nostalgia,
e da saudade dos dias que ainda iriam nascer.
[|]
POEMA DAS DESPEDIDAS
Quando caem as folhas no outono,
as mais longas, ainda verdes,
apontam o começo do fim da nossa existência.
Devemos assumir as folhas amarelas,
como as que caem do morangueiro silvestre,
que nos deu frutos vermelhos, na estação da fertilidade.
Sobre nós, agora, caem as folhas amarelas…
Envolvem-nos, então, os poemas das despedidas,
porque a hora do declínio do amor
se apresenta irrevogável.
Agora, nossas almas estão cansadas,
senão exaustas.
Separemo-nos, querida,
antes que o tempo nos esqueça,
e esfrie os dias de paixão,
e não tenhamos mais tempo para dizer adeus,
nem de cantar as melodias simples
dos que se despedem de um amor.
Com um beijo e uma lágrima,
inclino-me sobre a tua fronte,
e vou me despedindo da vida que tivemos juntos.
[Derval Dasilio]
bergmana e o fundamentalismo
faixa - folhas púrpura

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AFINAL, A GRAÇA NOS ALCANÇOU COM O PERDÃO…

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AFINAL, A GRAÇA NOS ALCANÇOU COM O PERDÃO…

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|| faixa pássaro ramo

[AFINAL, A GRAÇA NOS ALCANÇOU COM O PERDÃO…]
A Graça nos alcançou, quando precisávamos de perdão; quando nos achávamos mergulhados no sofrimento, em grande dor, ou presos ao desassossego e desespero; quando andávamos pelo vale escuro de uma vida vazia e carente de sentido; quando sentíamos a separação e distanciamento da realidade, por alienação fundamentalista convicta; quando a consciência era menos profunda do que deveria ser, quanto ao destino do próximo, dos oprimidos e inocentes ao nosso redor; quando sacrificávamos formas de viver a alegria e a beleza, na convivência com outras pessoas; quando desprezávamos o prazer da música, do cinema, das artes plásticas, dos esportes de massa, das viagens, do lazer contemplativo junto à natureza… bloqueados pelo autoritarismo religioso, e suas falsidades doutrinais, ditas “salvacionistas”.
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Quando perdemos o caminho da vida que amávamos, a qual sufocamos, em suicídio espiritual; quando esquecemos uma prática ou experiência de amor, compaixão e cuidado; quando não reagimos, expulsos, isolados ou exilados por razões religiosas ou ideológicas; quando o fastio, o enjoo, a negligência, com o nosso próprio espírito, dominou-nos, e nos deixamos ser tomados pela depressão, impostas pela pregação fundamentalista, e pela indiferença dos que impregnam consciências do Mal, convictos de que estão nos falando do Bem. Quando nos entregamos à fraqueza e debilidade dos que desconhecem o Amor, e sucumbimos no enfrentamento das opressões de cada dia.
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Quando desanimamos diante da violência da mentira forjada contra a liberdade e o direito igualitário; quando não encaramos a verdade, por trás do obscurantismo; quando a hostilidade com os demais seres humanos se transformara em falta de direção; quando nos faltou julgamento justo em situações complexas de abuso dito falsamente como justiça; quando perdemos a capacidade de redirecionamento, e nos faltou serenidade diante da verdade. Quando nos omitimos, e devíamos nos manifestar contra os absurdos fascistas e fundamentalistas da religião sem misericórdia, aos quais interessa somente a pregação do ódio. Quando, ano após ano, a sonhada perfeição de vida não se realizou, e nos entregamos à frustração.
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Quando fracassamos em algum projeto ou quando nos tornamos intoleráveis a nós mesmos; quando as antigas compulsões, medos, vícios, passaram a nos dominar e reinar, como reinaram no nosso passado ancestral brutalizado, bárbaro, que impunha a escravidão; quando permitimos que o desespero destruísse a alegria e inteireza do nosso espírito, e quando nos acomodamos, e deixamos que nosso ser fosse desmanchado em fragmentos.
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Às vezes, em certos momentos, a onda de luz irrompe na escuridão, e uma voz nos chama, convencendo-nos: “És aceito pelo que é maior que tu, e cujo Nome ignoras. Não perguntes seu Nome agora. Talvez  só entenderás mais tarde. Não tentes fazer nada, em retribuição. Espera… mais tarde farás muito, além do que imaginas, para levar aos demais a compreensão da Graça e do Perdão. Não busques fazer nada, agora, Aceita ser imerso nas profundezas do Perdão. Não realizes nada, não comeces nada para justificar a iluminação que recebeste. Não é preciso, simplesmente aceita o fato de que és aceito”
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Descansar em Deus é preciso. Porque a Graça do perdão é a calma e o repouso depois da confissão espontânea, reconhecendo que fomos alcançados pela Graça. Há algo bem maior que a culpa que transportamos sem necessidade.  Não precisamos mais carregá-la, disse Jesus. O Amor e Graça nos absolvem, perdoam e nos aliviam do fardo de todas as nossas culpas. Disse também, reafirmando essa compreensão do Evangelho, Paulo, o Apóstolo do Cristo crucificado… Compreendi isso, para toda a minha vida, quando lia Paul Tillich, no livro que me acompanha desde a juventude (The Shaking of the Foundations, Pelican Books, 1963). Reparto contigo, na certeza de que também és aceito. Um sábio como Karl Barth, pastor e pensador da fé, dizia: “Antes que vás procurá-lo, Ele já veio ao teu encontro“.  És aceito, antes que queiras ser aceito por Ele. Basta, de nada mais precisamos, meu amigo, minha amiga.

Derval Dasilio
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imagem p. livro
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ÉS ACEITO PORQUE O AMOR DE DEUS É MAIOR

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ÉS ACEITO PORQUE O AMOR DE DEUS É MAIOR
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faixa - folhas púrpura[ÉS ACEITO PORQUE O AMOR DE DEUS É MAIOR]
O caminho na Graça é viver e compreender as bem-aventuranças proferidas por Jesus. Bem-aventurados os que choram. Mesmo que tenham de chorar um oceano, como intuiu Djavan, em versos tão sensíveis: “Amar é um deserto e seus temores/ Vida que vai nas selas dessas dores/ Não sabe voltar /Me dá teu calor /Vem me fazer feliz porque eu te amo /Você deságua em mim/ e eu oceano e esqueço que amar/ é quase uma dor/ Só sei Viver”.
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Não há como contornar esta via. Este foi o caminho de Lutero, dizia Paul Tllich, em sua luta contra as distorções ensinadas nos púlpitos do seu tempo, e repetidas nos dias de hoje (Paul Tillich, Textos Selecionados, Eduardo de Proença, Fonte Editorial, 2005). Pregadores impunham “que os homens se tornassem primeiramente aceitáveis, para que Deus os aceitasse depois”. “O caminho é outro”, combatia Lutero. Primeiro você deve aceitar Deus, que se oferece em total gratuidade. Então, você poderá aceitar-se a si mesmo. Em outras palavras: você pode ser “curado”, e livrado dos sinais da velha humanidade, pela Graça. É hora, então, de assumir o caminho da absolvição gratuita de todas as culpas.
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Se falarmos da manifestação da Nova Humanidade em Cristo, então devemos entrar na consideração sobre o que é viver sob a Nova Humanidade; viver sob a Graça. Esta é a maior das bem-aventuranças. Como pessoas, novos seres, ou como comunidade de fé. Devemos ser lembrados seguidamente de tudo isso, porque nos inclinamos à culpa mórbida, em autodefesa da fé — como se a fé precisasse de defesa! -–, que construímos equivocadamente à parte da verdade bíblica da própria fé. O abismo do ser coincide com o modo de concebermos o sentido da vida, da morte e do fim das coisas.
Derval Dasilio
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EVA NASCEU… BEM-VINDA, MINHA NETA!

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annabell beija eva.. amor + q perfeito_n

EVA NASCEU… BEM-VINDA, MINHA NETA
Era outubro de 2013, acabávamos de ganhar mais uma neta. Seu nome é Eva. Ora, é também o nome da primeira mulher, saudada como “Mãe de Todos os Viventes”, nas Escrituras hebraicas. A vida é um presente de Deus. Galgar aos céus, mergulhar no infinito, descobrir o que está por trás das estrelas… é tudo que desejamos. Queremos ser felizes com a vida… Importantes pensadores, em todos os tempos, destacaram essa busca de sentido que está no ser humano, homem e mulher; queremos descobrir, desvendar o eixo em torno do qual nos movemos internamente. Os nomes que escolhemos para nossos filhos e netos trazem a vontade de percorrer as estradas do tempo.
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Que motor faz girar esse eixo? Para muitos, trata-se de uma dinâmica interior, profunda. Seria a afirmação da vida imortal, sobremaneira. Princípio de frustração. Transcendência duvidosa. Não é possível manipular a realidade a nosso favor, quando se trata das potencialidades que o desejo aponta, na direção do infinito.
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Cada um de nós é um Adão e uma Eva, encantados com os mistérios da “árvore do conhecimento”, mas a árvore que está no meio do Paraíso é a “árvore da vida”. Então, toda felicidade, bem-estar, prazer de viver, já nos indicaria a plenitude que pretendemos alcançar, que pode e deve começar aqui. É isso que minha neta evoca, no seu nascimento. Talvez seja isso que o primeiro Salmo da Bíblia queira nos apontar: a vida como uma árvore plantada à beira do riacho será bem alimentada, capaz de crescer e dar bons frutos. A vida e a vinda de Eva trazem em si os significados aqui representados.
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O Salmo 1 é um discurso lindíssimo da poesia hebraica que convida a observar a Criação e o sentido da felicidade desejada, quando nasce uma criança. Seres cósmicos, do grande universo, aparecem personificados no cotidiano humano com dinamismos sobre humanos. Que significa uma árvore forte, bem plantada, produtiva, senão uma vida harmonizada com o sentido das coisas do universo, desde a terra aos espaços estelares ainda não alcançados, embora sondados pela curiosidade do conhecimento?
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Bem-vinda, Eva, minha neta. Nossa mãe ancestral — e também o nome de sua avó paterna, que nos deixou antes de você nascer. Eva é um nome que traz o peso da maternidade da vida. Agora lhe cabe viver. Nós te recebemos na força da vida, e te amaremos por todos os motivos. A primeira madrugada da vida que alvorece em teu nascimento nos remete aos primeiros dias da humanidade com a mãe da vida concedendo-lhe o empréstimo que nunca vai cobrar, na escolha de seu nome. A primeira memória da vida está na infância cósmica de Eva.
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Nossa neta sempre nos lembrará da Fonte da Vida, da qual a “mãe de todos os viventes” bebeu. Nenhum acontecimento nos afastará do maravilhamento sobre a criança que chega, com seus significados ancestrais mais puros. Obrigado, meu Deus!, porque podemos contemplar mais um dos teus inúmeros milagres.
Derval Dasilio

Foto: Annabel oferece seu primeiro beijo à irmã recém-chegada.